União Africana apela a "ação urgente" em Moçambique
AFP | Lusa
1 de abril de 2021
A União Africana pediu uma "ação urgente e coordenada" após ataque terrorista que fez dezenas de mortos em Palma, no norte de Moçambique. FRELIMO diz que forças governamentais "tudo têm feito" para devolver segurança.
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Numa declaração divulgada esta quarta-feira (31.03), o presidente da Comissão da União Africana (UA), Moussa Faki Mahamat "condenou com a maior veemência os ataques terroristas" em Moçambique e apelou uma "ação regional e internacional urgente e coordenada", em resposta à "ameaça à segurança comum" causada pelo "terrorismo internacional" em Cabo Delgado.
"A Comissão da União Africana, através dos seus órgãos competentes, está pronta a apoiar a região e os seus mecanismos para enfrentar conjuntamente esta ameaça urgente à paz e segurança regional e continental", anunciou
A Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) também realizou conversações de emergência em Harare para discutir a violência em Moçambique. Mokgweetsi Masisi, Presidente do Botswana, prometeu ajuda regional, mas não avançou pormenores.
Nyusi minimiza ataque em Palma
Na quarta-feira (31.03), o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, minimizou o ataque levado a cabo há uma semana e disse que "não foi maior do que outros", apesar da proximidade sem precedentes do maior projeto de investimento em África. Dezenas de civis foram mortos, segundo o Ministério da Defesa moçambicano.
O movimento terrorista Estado Islâmico reivindicou na segunda-feira (29.03) o controlo da vila de Palma, junto à fronteira com a Tanzânia e a cerca de 25 quilómetros do projeto de gás natural da multinacional Total.
Vários países têm oferecido apoio militar no terreno a Maputo para combater os insurgentes, mas, até ao momento, ainda não existiu abertura para isso, embora haja relatos e testemunhos que apontam para a existência de empresas de segurança e de mercenários na zona.
FDS "tudo têm feito" diz FRELIMO
A Comissão Política da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), partido no poder, assegurou hoje que as Forças de Defesa e Segurança (FDS) "tudo têm feito para garantir a segurança e sossego das populações", face aos ataques de grupos armados.
Numa nota de imprensa, o partido no poder assinala que os "ataques e a brutalidade" de grupos armados na província de Cabo Delgado estão a provocar "sofrimento e drama às populações".
"Os ataques terroristas têm vindo a causar mortes, deslocados no seio das populações e destruição de infraestruturas, atos que minam a tranquilidade e ordem públicas", é ainda referido no comunicado do órgão decisório mais alto da FRELIMO.
Terrorismo em Cabo Delgado: As marcas da destruição e a crise humanitária
Edifícios vandalizados, presença de militares nas ruas e promessas de soluções por parte de políticos contrastam com a tentativa das populações de levar a vida adiante.
Foto: Roberto Paquete/DW
Infraestruturas vandalizadas
O conflito armado em Cabo Delgado deixou um número de infraestruturas destruídas na província nortenha de Moçambique. Em Macomia, os insurgentes não pouparam nem a Direção Nacional de Identificação Civil. Os danos no prédio do órgão deixaram milhares de pessoas sem documentos. E carro da polícia incendiado.
Foto: Roberto Paquete/DW
Feridas abertas até na sede da Polícia
O edifício da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Macomia ainda carrega as marcas de um ataque em 2020. O tanzaniano Abu Yasir Hassan – também conhecido como Yasser Hassan e Abur Qasim - é reconhecido pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos e pelo Governo moçambicano como líder do Estado Islâmico em Cabo Delgado. Não está claro se o grupo é responsável pelos ataques na província.
Foto: Roberto Paquete/DW
"Eliminar todo o tipo de ameaça"
Joaquim Rivas Mangrasse (à esquerda) foi empossado chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas a 16 e março. "É missão das Forças Armadas eliminar todo o tipo de ameaça à nossa soberania, incluindo o terrorismo e os seus mentores, que não devem ter sossego e devem se arrepender de ter ousado atacar Moçambique", declarou o Presidente Filipe Nyusi (centro) na cerimónia de posse, em Maputo.
Foto: Roberto Paquete/DW
Missões constantes para conter os terroristas
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambique preparam-se para mais uma missão contra terroristas em Palma. A vila foi alvo de ataques, esta quarta-feira (24.03), segundo fontes ouvidas pela agência Lusa e segundo a imprensa moçambicana. Neste mesmo dia, as autoridades moçambicanas e a petrolífera Total anunciaram, para abril, o retorno das obras do projeto de gás, suspensas desde dezembro.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender o gás natural da península de Afungi
A península de Afungi, distrito de Palma, foi designada como área de segurança especial pelo Governo de Moçambique para proteger o projeto de exploração de gás da Total. O controlo é feito pelas forças de segurança designadas pelos ministérios da Defesa e do Interior. Esta quinta-feira (25.03), o Ministério da Defesa confirmou o ataque junto ao projeto de gás, na quarta-feira (24.03).
Foto: Roberto Paquete/DW
Proteger os deslocados
Soldados das FADM protegem um campo para os desolocados internos na vila de Palma. A violência armada está a provocar uma crise humanitária que já resultou em quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Foto: Roberto Paquete/DW
Apoiar os deslocados
De acordo com as agências humanitárias, mais de 90% dos deslocados estão hospedados "com familiares e amigos". Muitos refugiaram-se em Palma. Com as estradas bloqueadas pelos insurgentes em fevereiro e março deste ano, faltaram alimentos. A ajuda chegou de navio.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender a própria comunidade
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambqiue estão presentes também no distrito de Mueda. Entretanto, cansados de sofrer nas mãos dos teroristas, antigos militares decidiram proteger eles mesmos a sua comunidade e formaram uma milícia chamada "força local".
Foto: Roberto Paquete/DW
Levar a vida adiante
No mercado no centro da vida de Palma, a população tenta seguir com a vida normal quando a situação está calma. Apesar da ameaça constante imposta pela possibilidade de um novo ataque, quando "a poeira abaixa", a normalidade parece regressar pelo menos momentaneamente...
Foto: Roberto Paquete/DW
Aprender a ter esperança com as crianças
Apesar de todo o caos que se instalou um pouco por todo o lado em Cabo Delgado, a esperança por um vida normal continua entre as poulações. Na imagem, crianças de famílias deslocadas que deixaram as suas casas, fugindo dos terroristas, e foram para a cidade de Pemba. Vivem no bairro de Paquitequete e sonham com um futuro próspero, sem ter de depender da ajuda humanitária e longe da violência.