A ajuda da União Europeia às vítimas do ciclone Idai em Moçambique vai continuar. Uma garantia deixada hoje no Parlamento Europeu. A principal preocupação é agora a cólera, que fez 2 mortos e afeta quase 1.500 pessoas.
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Moçambique enfrenta neste momento um surto de cólera, com quase 1.428 casos confirmados. A doença disseminou-se na região após a passagem do ciclone e esta terça-feira (02.04) causou uma segunda vítima mortal no centro do país. A primeira morte foi registada domingo (31.03) na Beira, a cidade mais devastada pelo ciclone, e o segundo óbito aconteceu no Dondo, também na província de Sofala.
Para manter o surto sob controlo, começa esta quarta-feira (03.04) uma campanha de vacinação. Ao terreno chegaram já 900 mil doses de vacinas contra a cólera. "Esperamos que a campanha de vacinação comece amanhã. A campanha irá decorrer principalmente em quatro áreas: na cidade da Beira, no distrito do Dondo, no distrito de Nhamatanda e no distrito de Buzi, onde toda a população será vacinada com uma dose única", anunciou o porta-voz da Organização Mundial da Saúde (OMS), Christian Lindmeier.
Bicampeã de futebol de Moçambique ajuda vítimas do Idai
02:08
Evitar a propagação da cólera é uma das prioridades no terreno. Uma preocupação também manifestada esta terça-feira, no Parlamento Europeu, em Bruxelas, por Dominique Albert, do Departamento de Ajuda Humanitária e Proteção Civil da União Europeia (UE).
"A cólera já chegou à Beira, onde foi declarado um surto. Mas pode não afetar só a Beira. Também há muitos casos de diarreia aguda e que possivelmente poderão ser casos de cólera. Além disso, a malária também é um problema", destacou.
Debate no Parlamento Europeu
A resposta da UE às necessidades humanitárias dos países afetados pelo ciclone Idai esteve esta terça-feira em debate no Parlamento Europeu.
Depois de ter sido acionado o Mecanismo de Proteção Civil da União Europeia, a pedido de Moçambique, vários estados-membros, como Portugal, Alemanha e Espanha, enviaram meios para o país, incluindo equipamento, equipas de especialistas e apoios em dinheiro. No terreno continua também a Missão de Assistência da UE.
União Europeia garante que ajuda a Moçambique vai continuar
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Mas depois da assistência imediata, a reabilitação das zonas afetadas também deve ser uma prioridade, defendeu o deputado Enrique Guerrero, do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE).
"Não se trata de responder apenas à crise de água ou à cólera, desde logo as medidas mais urgentes", salientou Enrique Guerrero. "É preciso ter em conta que estamos perante uma crise tão grande que vai continuar durante bastantes anos. E, por isso, deve fazer parte da estratégia de preparação futura de cooperação da UE com África e especificamente com estes países."
Ajuda da UE é suficiente?
A ajuda de 3,5 milhões de euros anunciada pela Alta Comissária para a Política Externa da União Europeia, Federica Mogherini, tem sido questionada por vários deputados europeus, que perguntam se terá sido suficiente.
Dominique Albert, do Departamento de Ajuda Humanitária e Proteção Civil, assegura que a resposta europeia às necessidades humanitárias dos países afetados pelo ciclone Idai "ainda não terminou". A intervenção da Proteção Civil europeia vai continuar no terreno. "Do ponto de vista humanitário, os esforços também vão continuar, tendo em conta não só a cólera, mas também a necessidade de melhorar as condições de vida das populações", explicou.
A médio prazo, reconheceu ainda Dominique Albert, "também é preciso pensar na reabilitação e na recuperação, começando provavelmente por estratégias de resiliência e gestão de riscos e desastres naturais porque a região é propícia a desastres."
O número de mortos provocados pelo ciclone Idai subiu para 598 em Moçambique. O Idai também deixou 181 vítimas mortais no Zimbabué e 59 no Malawi. Mais de 800 mortos no total e millhares de desalojados nos tres países, segundo os dados oficiais mais recentes.
Zambézia: Centros para vítimas de inundações sob pressão
Milhares de desalojados pelas cheias e pelo ciclone na Zambézia, centro de Moçambique, vivem em centros de acomodação. A DW África constatou que faltam tendas e que os médicos estão preocupados com a saúde da população.
Foto: DW/M. Mueia
Visitas de rotina
Cerca de 20 médicos e especialistas deslocaram-se este sábado (30.03) aos centros de acomodação de Dhugudiua e Namitangurine - este último, onde há um maior aglomerado populacional refugiado das cheias na Zambézia. Os profissionais de saúde juntaram-se numa ação solidária para minimizar os problemas da população. A campanha é rotineira, para controlar eventuais surtos.
Foto: DW/M. Mueia
Problemas de saúde
Doenças respiratórias, malária e diarreias afetam muitas das vítimas das inundações refugiadas nos centros de acomodação de Namitangurine e Dhugudiua, distrito de Nicoadala. No centro de Dhugudiua, criado este mês, em média, são atendidos 30 pacientes por dia. A maioria apresenta estes problemas de saúde, segundo autoridades sanitárias.
Foto: DW/M. Mueia
Uma tenda para dez pessoas
Segundo as autoridades comunitárias dos centros de reassentamento, uma tenda abriga dez pessoas. A insuficiência de tendas agravou-se nas últimas semanas e as cheias na sequência do ciclone Idai colocaram ainda mais pressão sobre as instalações. O centro de Namitangurine recebe desalojados das inundações desde 2012. Acolhe atualmente mais de mil famílias.
Foto: DW/M. Mueia
Casas e bens destruídos
No centro de Dhugudiua, a cerca de 45 quilómetros da cidade de Quelimane, vivem cerca de 80 famílias, acomodadas em tendas. São, na maioria, crianças e mulheres que foram transferidas da zona de Musselo, depois de verem as suas palhotas e bens destruídos pela força das águas no início deste mês.
Foto: DW/M. Mueia
Infraestruturas de lona
Além de servirem de moradia para as vítimas das inundações, algumas das tendas nos centros de reassentamento funcionam como unidades sanitárias permanentes e outros serviços sociais.
Foto: DW/M. Mueia
Cozinha para todos
Os desalojados no centro de reassentamento em Dhugudiua partilham a mesma cozinha para confeccionar alimentos. No chão, os conjuntos de três pedrinhas separadas por 10 centímetros são fogões a lenha improvisados.
Foto: DW/M. Mueia
Falta proteína
Há comida suficiente, mas a alimentação não é a ideal no centro de Dhugudiua. Os desalojados dizem que recebem farinha, arroz e outros donativos de diferentes organizações e doadores singulares, mas não há peixe e o feijão não chega para todos os agregados familiares. O caril é feito quase sempre à base de verduras.
Foto: DW/M. Mueia
Mil litros de água
O abastecimento de água para tomar banho e lavar roupa e loiça é garantido por um tanque móvel de mil litros instalado no local.
Foto: DW/M. Mueia
Controlar as condições de higiene
No distrito de Nicoadala, há cerca de 20 ativistas destacados exclusivamente para controlar a higiene nos centros de acomodação. A missão é vigiar o tratamento da água utilizada pelas famílias, a limpeza das tendas e sensibilizar os moradores do centro para as boas práticas de higiene para evitar surtos de cólera e malária.
Foto: DW/M. Mueia
Uma vida de desespero
Apesar do apoio que recebem nos centros de reassentamento, muitas famílias dizem-se desesperadas: não têm como começar a reconstruir as suas habitações e regressar à vida normal. A maioria dos homens não tem emprego. Muitos viviam da carpintaria e da serralharia nos locais onde viviam e, aqui, não têm onde ir para pedir financiamento. As mulheres choram a perda das suas machambas.
Foto: DW/M. Mueia
À espera de terras
Nos centros de reassentamento, os desalojados aguardam a distribuição de terrenos. Muitos não perdem a esperança de serem colocados em zonas mais seguras, em áreas menos propensas a cheias, tal como prometeram as autoridades provinciais da Zambézia.
Foto: DW/M. Mueia
Voluntários satisfeitos
Os médicos que se deslocaram aos centros de reassentamento nesta missão voluntária mostram-se satisfeitos pela adesão popular aos serviços prestados, principalmente de testes voluntários de HIV e malária. Os profissionais de saúde atenderam ainda pacientes com várias queixas,desde dores nas articulações a dores de barriga, e prestaram serviços de oftalmologia.