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UNITA: "É impossível ganhar eleições com atual CNE" 

12 de outubro de 2020

Em "conversa com jornalistas", o líder da UNITA, Adalberto Costa Júnior, criticou o desequilíbrio entre forças políticas na CNE e questionou o valor dos desvios do erário público revelados pelo Presidente João Lourenço.

Angola Luanda Adalberto Costa Júnior Präsident der UNITA
Foto: Manuel Luamba/DW

"É impossível ganhar eleições em Angola com a atual CNE", afirmou o presidente da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Adalberto Costa Júnior, esta segunda-feira (12.10). Num encontro que denominou "conversa com os jornalistas" - e em que falou de tudo um pouco, desde as eleições gerais e autárquicas até à corrupção -, o líder do maior partido da oposição sublinhou que não é possível haver eleições livres, justas e transparentes em Angola com a atual composição da Comissão Nacional de Eleições (CNE).

"É impossível qualquer partido ganhar eleições quando tem na CNE uma maioria de militantes do MPLA, a decidir sobre interesse partidário em toda sua administração", frisou. 

O maior partido da oposição em Angola entende que o Estado devia adotar a lei modelo da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) que prevê uma composição igual entre as forças políticas na CNE. As eleições gerais estão previstas para 2022 e Adalberto Costa Júnior diz que o seu partido vai continuar a lutar "dentro dos limites democráticos que tem" para ter "uma alteração dos desequilíbrios que hoje se encontram na administração eleitoral".

Sobre as autárquicas, adiadas pelo Governo angolano, o líder da oposição sugere uma data e diz que o Presidente da República, João Lourenço, é o culpado pelo adiamento: "Nós entendemos que é incontornável a necessidade do novo registo eleitoral e o novo registo não precisa mais do que três meses para ser efetuado", afirmou. "Pode começar muito bem em março, abril e em maio terminou e nós podemos ter, normalmente eleições locais em agosto ou setembro de 2021".

Jornalistas foram convidados para "conversa" com o líder da UNITA.Foto: Manuel Luamba/DW

Valores desviados do erário público muito aquém da realidade 

Em entrevista ao jornal norte-americano Wall Street Journal, publicada no domingo (11.10), o Presidente angolano revelou que cerca de 24 mil milhões de dólares foram desviados do erário público. A UNITA louva a iniciativa do chefe de Estado, lembrando, no entanto, que "há quem questione a escolha deste 'timing', há quem especule tratar-se de uma tentativa de fazer esquecer o escândalo do seu diretor de gabinete [Edeltrudes Costa], há quem também fale da coincidência da proximidade do discurso do Estado da Nação".

Adalberto Costa Júnior questiona também o valor em causa: "Estes números, apesar de elevadíssimos, estão muitíssimo aquém dos números reais", afirmou. "Só a reserva estratégica do petróleo acumulada de 2011 a 2017, constituída após a aprovação da Constituição de 2010, chegou a reter valores de 93 mil milhões de dólares. Se foram só 24 que foram desviados, onde é que estão os restantes? Perguntamos nós. Porque eles não existem hoje, desapareceram".

Adalberto Costa Júnior quer ver estas e outras questões esclarecidas na próxima quinta-feira (15.10) quando o presidente angolano falar sobre o "Estado da Nação", na abertura de mais um ano parlamentar.   

"Plano secreto" do MPLA não é surpresa

Em relação ao suposto "plano secreto" criado pelo MPLA, partido do poder, para atacar o líder da UNITA, Adalberto Costa Júnior não se mostrou surpreso.

Em causa está uma notícia divulgada pelo semanário Novo Jornal, que dá conta do referido plano, que admite a movimentação de arsenal partidário, que tem como principal alvo Adalberto Costa Júnior, com recurso à invasão da esfera privada do líder da UNITA.

"Não é novidade para ninguém os presentes, os ataques permanentes ao presidente da UNITA, as abordagens de compras de militantes, por parte dos membros da inteligência", considerou, adiantando já ter conversado sobre o assunto com o Presidente da República, em audiência.

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