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UNITA: Autoridades angolanas estão a criar "bode expiatório"

Lusa
19 de junho de 2023

A UNITA diz que as autoridades angolanas estão a criar um "bode expiatório" para tentar fugir à essência dos problemas do país, com a acusação do seu alegado envolvimento na organização das manifestações de sábado.

Protesto em Luanda foi dispersado pela polícia com gás lacrimogéneo
Protesto em Luanda foi dispersado pela polícia com gás lacrimogéneoFoto: Borralho Ndomba/DW

O secretário-geral da JURA, braço juvenil da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA, maior partido da oposição), lamenta que a polícia angolana tenha "embarcado no campo político, quando a mesma é vítima do atual contexto socioeconómico do país".

"Nunca as forças de segurança e ordem estiveram tão miseráveis como estão hoje, mas são arrastadas numa lógica política que é para tentarem ir ao encontro de uma narrativa construída pelo Presidente (da República), João Lourenço", disse hoje Nelito Ekuikui à Lusa.

Para o líder da Juventude Unida e Revolucionária de Angola (JURA), João Lourenço "tem sido incapaz de governar Angola nos últimos anos".

"Aqui o que está a acontecer é criar um bode expiatório para tentar fugir a essência do problema, que é a alteração do preço da gasolina, é a cesta básica que alterou significativamente o preço", referiu.

Apontou o encerramento dos armazéns e o combate à venda ambulante, "numa economia que é 90% informal", como cerne dos protestos dos cidadãos.

"Agora o Presidente João Lourenço não consegue dar resposta a esses problemas, precisa responsabilizar terceiros no sentido de sair de fininho para um problema que ele próprio causou", frisou Nelito Ekuikui.

Nelito Ekuiki faz apelo ao Presidente de Angola: "Baixe o preço da gasolina"Foto: Borralho Ndomba/DW

Polícia angolana acusa UNITA

A polícia angolana acusou, em comunicado de imprensa, os deputados, dirigentes e militantes da UNITA de terem participado de forma direta na organização dos atos de desordem pública, resultantes das manifestações, sobretudo de Luanda e Benguela.

Nelito Ekuikui e Adriano Sapinãla, secretário provincial da UNITA em Luanda, estiveram presentes na marcha da capital angolana.

Ativistas e membros da sociedade civil foram os promotores da manifestação nacional contra a subida dos preços do combustível, fim da venda ambulante e a Lei das Organizações Não-Governamentais, que em Luanda foi dispersada pela polícia nacional com bombas de gás lacrimogéneo.

"Em Luanda e Benguela, contrariamente ao que ocorreu nas outras províncias, os promotores das manifestações não observaram os pressupostos legais exigidos e, em desobediência às indicações sobre o itinerário preestabelecido, primaram por arruaças, rebelião e violência contra as forças policiais", lê-se no comunicado.

Ekuikui recordou que a JURA, na sua reunião de Bailundo (província do Huambo) anunciara "apoio total e incondicional a esta manifestação que se realizou nos termos da Constituição e da lei".

"Portanto, está em comunicado e nós sempre assumimos que estaríamos presentes, como estivemos", realçou.

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Apelos à descida do preço do combustível

O também deputado desfiou mesmo o Presidente angolano a recuar na medida da subida do preço do combustível. "Baixe o preço da gasolina, tudo ao normal, ele (Presidente da República) pode recuar, ele é humano e falha e não é o facto de ser Presidente que ele não pode falhar, ele falha", apontou.

Aconselhou também o chefe de Estado angolano a procurar avançar com medidas para estabilizar a economia do país, considerando que, "se assim acontecer, as pessoas, no dia seguinte, já não estarão nas ruas".

"Porque, ninguém instrumentaliza um indivíduo com fome, a fome em si instrumentaliza, o problema é a fome, este é que é o problema e se ele resolver este problema, de certeza terá uma governação pacífica e nós estaremos lá para apoiá-lo", afirmou.

O político da UNITA lamentou ainda que a marcha tenha sido reprimida, por divergências entre os manifestantes e as forças da ordem, estas que, a dado momento, disse, decidiram anular o itinerário que se tinha combinado.

"Porque se tivessem deixado a juventude marchar até ao largo das escolas não haveria incidente nenhum, porque é facto que a um dado momento eles barraram a estrada e houve esse desentendimento que, naturalmente, se transformou num momento menos bom", rematou Nelito Ekuikui.

De acordo com a polícia, as manifestações, em que empregou "meios táticos operacionais moderados e proporcionais para a reposição da ordem pública", provocaram ferimentos a vários participantes, entre cidadãos e sete efetivos da corporação.

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