UNITA avisa que não vai aceitar fraude nas eleições de Angola
10 de julho de 2012 Angola vai a eleições pela terceira vez na história do país. Mas a menos de dois meses do escrutínio, a Comissão Nacional Eleitoral (CNE) ainda não publicou as listas dos cidadãos eleitores, os cadernos eleitorais e o número de mesas de votação. Por resolver está ainda um outro problema que tem a ver com os cidadãos que se registaram mas cujos nomes não constam da base de dados.
Essas e outras alegadas irregularidades levaram o secretário-geral da UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), o maior partido da oposição, a acusar o regime do Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, de estar a preparar uma nova fraude eleitoral.
O secretário-geral Victorino Nhany esteve, recentemente, na província de Benguela (no centro oeste de Angola) para assistir as ordenações diaconais e sacerdotais, a convite da Igreja Católica.
Aproveitando a sua passagem por Benguela, o político do partido do Galo Negro convidou os jornalistas para falar sobre o processo eleitoral. Victorino Nhany voltou, mais uma vez, a considerar que o processo eleitoral está marcado por irregularidades, apontando o dedo ao processo de registo e atualização eleitoral.
Segundo o secretário-geral da UNITA, a empresa que terá trabalhado com o partido do regime do presidente José Eduardo dos Santos, o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), e ajudado a vencer as eleições de 2008, é mesma que foi contratada para importar a logística das eleições deste ano.
Victorino Nhany advoga que essa empresa, denominada Indra, foi “solicitada para fazer, em 2008, 10 milhões e 350 mil boletins de voto. [Mas] o website da mesma empresa veio declarar 26 milhões de boletins de voto elaborados. Onde foi parar a diferença de cerca de 16 milhões de boletins de voto?”, pergunta-se indignado o político.
Logo a seguir responde, afirmando que “naturalmente esses 16 milhões de boletins de voto sustentaram os três milhões de votos fantasmas em 2008. Mas surge de novo o nome da [empresa] Indra para repetir a brincadeira de 2008”.
UNITA não quer que se repita o que aconteceu em 2008
Além dessa crítica, o sectretário-geral da UNITA denuncia o fato de que “existem nomes que não constam no FICRE [Ficheiro Informático Central do Registo Eleitoral]”.
Victorino Nhany cita um exemplo: “o engenheiro Ernesto Mulato, que é o número dois na lista da UNITA não consta no próprio ficheiro”. E por isso, o responsável político entende que “são todas essas situações que nos levam a crer que existe uma deliberada atuação no sentido de se adiar as próprias eleições”.
Recorde-se que o líder da UNITA, Isaías Samakuva, é o cabeça de lista do partido às eleições gerais angolanas, que estão marcadas para 31 de agosto. Na corrida eleitoral vão estar nove formações partidárias.
O secretário-geral não quer que, nas próximas eleições, se repita o cenário do último pleito. Vitorino Nhany assegurou que “depois do que aconteceu em 2008, reiteramos que não vamos aceitar uma nova fraude, venha ela da Espanha, da Rússia, do Zimbabué, da República Democrática do Congo ou da Casa Militar. O tempo da ditadura acabou e o tempo das eleições fraudulentas também acabou”, garantiu.
Autor: Nelson Sul d'Angola (Benguela)
Edição: Glória Sousa / António Rocha