UNITA: Operações de segurança não cessam problemas em Angola
Lusa | nn
18 de novembro de 2018
A UNITA, maior partido da oposição angolana, defendeu que as operações de segurança em curso são "insuficientes" para resolver os problemas estruturais do país, já que atacam os "sintomas" e "não as causas profundas".
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A crítica está contida num comunicado saído da reunião do Comité Permanente da Comissão Política da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) e diz respeito às operações "Transparência" e "Resgate" em curso no país. "A UNITA considera que os grandes e endémicos males que assolam as famílias angolanas exigem grandes remédios que ataquem as causas profundas dos problemas e não apenas os seus sintomas", lê-se no comunicado da reunião, que foi presidida pelo líder do partido, Isaías Samakuva.
Colapso do sistema de saúde e financeiro
Para a UNITA, as causas dos problemas em Angola passam pelo "colapso" dos sistemas de saúde e financeiro e pelo "aumento vertiginoso" dos crimes económicos, cometidos "pelos ricos". A UNITA critica ainda as "altas taxas" de desemprego, as "fraudes que penalizam o consumidor" e o aumento da "falta de confiança dos cidadãos nas instituições do Estado".
"Estes são o resultado direto da captura do Estado pela oligarquia que se apoderou de Angola e da ineficácia das suas políticas públicas", refere o documento, em que o partido do "Galo Negro" considera "insuficientes" as duas operações de segurança destinadas a "atacar as causas dos problemas estruturais do País e recuperar a autoridade moral e política da Administração Pública".
"O Comité Permanente da Comissão Política da UNITA exorta o Executivo angolano a implementar políticas eficazes que concorram para a refundação do Estado, para uma mudança efetiva da cultura da governação e para formas mais justas e eficazes de distribuição e controlo da riqueza nacional, visando a dignidade da pessoa humana", defendeu.
400 mil estrangeiros repatriados
A "Operação Transparência", iniciada a 25 de setembro e que decorre atualmente em 11 das 18 províncias angolanas, tem por objetivo pôr termo à imigração e garimpo ilegais em Angola e já levou ao repatriamento de mais de 400 mil estrangeiros, maioritariamente da vizinha República Democrática do Congo (RDC), o que tem motivado críticas por parte de organizações não-governamentais, nomeadamente a OMUNGA, mas não só.
A "Operação Resgate", por seu lado, começou a 06 deste mês e decorrerá por tempo indeterminado, visando repor a autoridade do Estado em todo o país, através de uma fiscalização, que pode ser repressiva, a uma série de comportamentos e atitudes que são transversais a todos os setores do país. A operação visa sobretudo reduzir os principais fatores desencadeadores da desordem e insegurança, bem como os da violência urbana e da sinistralidade rodoviária, aperfeiçoar os mecanismos e instrumentos para a prevenção e combate à imigração ilegal e proibir a venda de produtos não autorizados em mercados informais.
Congoleses em fuga de Angola: RDC promete retaliação
Mais de 270 mil congoleses foram obrigados a abandonar Angola. Em retaliação, o ministro dos Negócios Estrangeiros congolês deu dois meses aos angolanos ilegais para abandonarem a RDC. ACNUR teme nova crise humanitária.
Foto: Reuters/G. Paravicini
Ao ritmo de 1.000 imigrantes por hora
Imigrantes congoleses chegam à localidade fronteiriça de Kamako, já do lado da República Democrática do Congo (RDC), ao ritmo de 1.000 pessoas por hora. Mais de 270 mil imigrantes ilegais congoleses foram obrigados a abandonar Angola, após um decreto do Presidente João Lourenço que visa acabar com a imigração ilegal no país, sobretudo nas regiões diamantíferas das Lundas.
Foto: Reuters/G. Paravicini
RDC promete retaliação
O Governo em Kinshasa utiliza o termo "expulsos" quando se refere aos imigrantes que Angola diz estarem a "sair de forma voluntária" do país. Como represália, o ministro dos Negócios Estrangeiros congolês definiu um prazo de dois meses para que todos os angolanos em situação irregular saiam da RDC. A tensão levou os Governos e representações diplomáticas dos dois países a iniciarem conversações.
Foto: Reuters/G. Paravicini
Detidos com documentos angolanos falsos
Em colaboração com o ACNUR e com organizações não-governamentais, as autoridades congolesas estão a vigiar a pente fino as entradas no país. Entre os cidadãos obrigados a abandonar Angola, há portadores de documentação da nação vizinha. Porém, o porta-voz da "Operação Transparência" anunciou a detenção de imigrantes com "documentos angolanos falsos" que serão julgados em Luanda.
Foto: Reuters/G. Paravicini
Congoleses dedicavam-se ao garimpo ilegal
O comandante da Polícia Nacional de Angola, António Bernardo, garante que os imigrantes que estão a abandonar o país "não se coíbem de dizer" que se deslocaram para Angola "para ganhar dinheiro na exploração ilegal de diamantes". Com o encerramento das cooperativas e casas ilegais de venda e compra de pedras preciosas, "os imigrantes decidiram voluntariamente sair do país", diz o responsável.
Foto: Reuters/G. Paravicini
ACNUR não confirma mortes
Apesar das denúncias de mortes e maus-tratos perpetrados por agentes da Polícia Nacional de Angola, no âmbito da "Operação Transparência", o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) não confirma essas informações "por falta de dados". Philippa Candler, representante do ACNUR em Angola, diz que os imigrantes estão a sair de Angola pelo próprio pé, mas sob pressão do Governo.
Foto: Omotola Akindipe
Cerca de 35 mil refugiados legais em Angola
Dados do ACNUR indicam que há 35 mil refugiados legais em Angola. Estão, sobretudo, na Lunda Norte, inseridos num assentamento em Lóvua ou distribuídos pelas povoações. No entanto, a ONU denunciou a expulsão de 50 migrantes com estatuto de refugiados. O ACNUR está a verificar a informação. A escalada do conflito tribal no Kasai levou milhares de congoleses a procurar refúgio fora de portas.
Foto: Reuters/G. Paravicini
A pé ou à boleia de motorizadas e bicicletas
Os migrantes congoleses que estão em viagem de regresso ao país de origem escolheram vários meios para fazê-lo. Alguns aceitaram a ajuda do Governo angolano que disponibilizou camiões para transportar os congoleses até à fonteira. Outros preferem fazê-lo pelo próprio pé ou socorrendo-se de bicicletas e motorizadas. Consigo carregam os seus pertences.
Foto: Reuters/G. Paravicini
De regresso às antigas rotinas
Ainda em viagem, mulheres e crianças lavam roupas nas margens do rio junto à localidade de Kamako, na província de Kasai. O objetivo é regressarem às suas povoações outrora ameaçadas ou reiniciarem uma nova vida longe da sua última morada na RDC. No entanto, a situação nesta província congolesa é instável. A falta de infraestruturas está também a preocupar as Nações Unidas.
Foto: Reuters/G. Paravicini
Nova crise humanitária iminente
A ONU expressou preocupação sobre a saída forçada de Angola nas últimas semanas de centenas de milhares de cidadãos. Para as Nações Unidas, as "expulsões em massa" são "contrárias às obrigações" da Carta Africana e, por isso, exortou os Governos em Luanda e em Kinshasa a trabalharem juntos para garantirem um "movimento populacional" seguro e evitarem uma nova crise humanitária.