UNITA denuncia mais de 130 mortes em protestos em Angola
10 de junho de 2023Adalberto da Costa Júnior falava na abertura da 6.ª reunião ordinária do comité permanente da comissão política da UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), hoje em Luanda, e anunciou que o partido está a compilar um dossiê sobre estes incidentes que pretende dar a conhecer a instâncias nacionais e internacionais.
Numa "conjuntura económica do país bastante delicada e grave", dez meses após as eleições, o governo angolano "dá sinais de distanciamento" das necessidades da população e "incapacidade de governação", dando apenas mensagens de limitação das liberdades e alguma "repressão excessiva", acusou o presidente do partido do "Galo Negro".
A "política atingiu um nível muito baixo", continuou, lamentando os angolanos que perdem vida em consequência destes atos, num contexto de paz em que nada o justifica e em que os órgãos de justiça demitiram-se das suas responsabilidades.
Discurso crítico
Num discurso muito crítico, Adalberto da Costa Júnior fez um exercício estatístico da perda de vidas que ocorreram desde 2017, ano em que o atual Presidente angolano, João Lourenço, chegou ao poder, e 2023, e convidou a uma "reflexão "sobre os comportamentos atuais.
Entre os incidentes, citou, a morte de 21 cidadãos durante a "Operação Transparência" direcionada às províncias diamantíferas da Lunda Norte e Lunda Sul, em 2108; de pelo, menos 14 cidadãos, em 2019, na "Operação Resgate", incluindo vendedora ambulante e um adolescente de 14 anos; de 19 pessoas em 2019, em manifestações e no âmbito de protestos contra as medidas de combate à Covid-19.
Também o "massacre" de 55 cidadãos na vila diamantífera de Cafunfo, em 2021; de três operários angolanos de uma barragem e três motoqueiros na campanha eleitoral, em 2022; cerca de 20 membros de uma seita religiosa e um agente da polícia morreram em confrontos e, mais recentemente, oito pessoas que protestavam contra o aumento de gasolina foram mortas no Huambo.
Estes números divergem dos que têm sido apresentados oficialmente pelas autoridades angolanas.
"Polícia de forma desproporcional"
Adalberto da Costa Júnior disse que o governo utiliza a Polícia Nacional "de forma desproporcional" contra os cidadãos, permitindo que se dispare a queima-roupa "na maior das impunidades" e criticou a imprensa pública "totalmente submissa que manipula a realidade do país" e os ataques dos serviços de inteligência contra líderes de partidos políticos
"Até quando vamos continuar a assistir a estes tristes espetáculos, quando o próprio Presidente da Republica diz ser normal perseguir os adversários políticos", questionou.
O líder da UNITA sublinhou que quando o cidadão se manifesta cumpre "um direito constitucional" e disse que a falta de diálogo com que se lida com as questões sociais e políticas "resulta na desgraça e no caos com grande número das famílias angolanas a pagar com o preço da vida dos seus entes a incompetência do governo".
"São muitas mortes que não podem continuar a ocorrer", vincou, apontando ainda vários casos de execuções extrajudiciais praticadas este ano em Luanda. "Este é o quadro das trágicas arbitrariedades", em que às "matanças indiscriminadas" se juntam perseguições políticas e desalojamento de populações.
"Dossiê"
A UNITA em contacto com a sociedade civil vai organizar um exaustivo dossiê sobre este assunto que vai ser encaminhado para instâncias de justiça nacionais e internacionais, assegurou o dirigente.
Adalberto da Costa Júnior abordou ainda a eliminação da subvenção aos combustíveis, que considerou "uma medida necessária", que pecou na escolha do timing e métodos para a sua implementação, questionando o aumento de 87% do preço da gasolina, uma decisão de um "governo insensível" com consequências diretas e indiretas na economia angolana.
O presidente da UNITA aproveitou também para falar da exoneração do governador do Banco Nacional de Angola na quinta-feira "por conveniência de serviço", o que constituiu uma violação da lei.
Seguiu-se um novo comunicado algumas horas depois, dizendo que a saída de José Lima Massano foi a pedido do próprio, sendo este o novo ministro de Estado da Coordenação Económica.
Adalberto da Costa Júnior afirmou que a presidência "violou a lei de forma leviana" e reiterou que "está fora de questão" um terceiro mandato de João Lourenço, sublinhando que "devemos permanecer atentos".