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"Os processos eleitorais em Angola são eivados de corrupção"

23 de outubro de 2018

A UNITA reagiu às denúncias de que imigrantes ilegais da RDC terão votado nas últimas eleições em Angola. O partido da oposição reiterou que, desde 1992, o processo eleitoral angolano tem sido marcado por fraudes.

Foto: Getty Images/AFP/M. Longari

O maior partido da oposição em Angola, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), reiterou esta segunda-feira (22.10) que desde 1992 o processo eleitoral angolano tem sido realizado com base na "corrupção eleitoral".

As declarações foram feitas por Alcides Sakala, porta-voz do partido, que reagia à informação sobre a participação de imigrantes ilegais da República Democrática do Congo (RDC) nas eleições angolanas.

Os relatos sobre os estrangeiros que eram coagidos a votar no Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA) não são recentes. A UNITA é a principal organização política que no período eleitoral fez estas denúncias. Entretanto, as autoridades angolanas nunca reagiram às queixas.

Agora, com a Operação Transparência, ação que desde 25 de setembro está a ser desencadeada pelo Governo angolano para combater o tráfico de diamantes e a imigração ilegal, vários cidadãos congoleses repatriados do território nacional afirmaram de viva voz que votaram no partido no poder nas eleições realizadas em Angola.

Congoleses deixam Angola após a Operação TransparênciaFoto: DW/B. Ndomba

Denúncia

As declarações foram feitas na fronteira da Chissanda, parte angolana da Lunda Norte. "Diziam-nos: 'podem ir registar-se, porque vocês são angolanos'. Votei no MPLA. Agora estou a ir com o documento do MPLA, e está aqui o meu cartão que tratei no mercado do Lucapa", disse uma jovem congolesa.

Outro jovem expulso do país por ser alegadamente imigrante ilegal é o João Pedro Onongue. O rapaz diz ser militante do MPLA há anos. "O meu cartão eleitoral tratei no Lucapa. Faltaram alguns documentos para o bilhete de identidade. Sou militante do MPLA há muito tempo".

As autoridades tradicionais da Lunda Norte também confirmaram que cidadãos estrangeiros terão participado nas eleições angolanas. O soba Alberto Muevo atirou a culpa às administrações municipais. "A administradora atribuiu-lhes cartões de residência, foram admitidos como militantes do MPLA e já tinham direito a cartão de voto. E muitos deles votaram", assegurou.

Alcides Sakala, porta-voz da UNITA

Reação da UNITA

Entretanto o porta-voz da UNITA, Alcides Sakala, sublinhou que estas denúncias provam que o seu partido não estava errado quando se queixou da existência de estrangeiros mobilizados para votarem nas eleições do país.

"Nós na altura denunciámos isto. Lembro-me que fizemos um memorando que o secretário-geral na altura fez chegar a quem de direito, mas o Executivo angolano, na parte do Ministério da Administração do Território e Reforma do Estado, MAT, fez ouvido de mercador e não deu importância a isso. Agora está provado", afirmou o político.

UNITA: "Os processos eleitorais em Angola são eivados de corrupção e fraude"

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Em angola, o processo todo das eleições é organizado pelo governo. Nas eleições do ano passado, vencidas pelo MPLA, o atual vice-Presidente da República, Bornito de Sousa, então ministro da Administração do Território, foi a pessoa que trabalhou para a emissão dos cartões de eleitor.

Reforma eleitoral

Segundo Alcides Sakala, perante a esta denúncia, o Governo angolano dirigido pelo MPLA deve mudar de postura e trabalhar para a reforma do sistema eleitoral do país. "Os processos eleitorais de Angola, de 1992 até aos nossos dias de hoje, têm sido eivados de má-fé, corrupção eleitoral e muita fraude. Perante a estas constatações há que se fazer diferente".

Para Sakala, "se houver vontade da parte do Executivo angolano", é possível uma reforma eleitoral no país. "Penso que podemos melhorar muito, para darmos passos importantes para construção de um Estado democrático e de direito".

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