UNITA pede a João Lourenço um "diagnóstico real" do país
Lusa
13 de outubro de 2018
O maior partido da oposição desafiou o Presidente de Angola a fazer, na segunda-feira, um "diagnóstico real" do país. A UNITA quer ainda saber as linhas de força do MPLA para os principais desafios do Governo.
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João Lourenço vai discursar, na segunda-feira (15.10), na Assembleia Nacional sobre o Estado da Nação, na abertura da segunda sessão legislativa da IV legislatura, imperativo legal que já cumpriu o ano passado, cerca de um mês depois de ter assumido a Presidência do país.
Numa declaração enviada à agência Lusa, o líder da bancada parlamentar da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Adalberto da Costa Júnior, afirma que o discurso do Presidente angolano deve "esclarecer" a nação e mobilizá-la "para os desafios dos próximos 12 meses". "Não esperamos ouvir mais uma vez um discurso de promessas, todo ele, moldado pelo novo GRECIMA - gabinete de propaganda institucional", refere .
O grupo parlamentar da UNITA espera que João Lourenço dirija aos deputados, e a todos os angolanos, "orientações estratégicas para a construção do futuro, um futuro mais nacional e menos partidário". "Esperamos ouvi-lo partilhar dados estatísticos reais (o que não tem acontecido, sendo que os números aparecem muitas vezes trabalhados) sobre o crescimento económico, sobre o PIB (Produto Interno Bruto), sobre a inflação, sobre o crescimento da população (que é superior ao crescimento económico), sobre a pobreza (que aumentou, infelizmente), sobre os programas para a juventude para o empoderamento da mulher", disse.
Qual o valor da dívida?
Adalberto da Costa Júnior considerou também importante que o chefe de Estado angolano partilhe com os angolanos "o valor real da dívida pública, bem como o valor real da dívida para com a China".
Na lista de preocupações, o dirigente da UNITA pediu também uma resposta à manifestação governamental de alguma abertura "para uma revisão da Constituição que permita a eleição direta do Presidente da República e torne mais democráticos os processos eleitorais".
Sobre as futuras primeiras eleições autárquicas, previstas para 2020, o grupo parlamentar do maior partido da oposição angolana "gostaria" que João Lourenço anunciasse que, por auscultação dos cidadãos, as autarquias sejam criadas simultaneamente em todo o território nacional, o principal ponto de divergência entre Governo, oposição e alguns setores da sociedade civil.
No sentido de ajudar o Presidente angolano, o grupo parlamentar da UNITA enumerou a necessidade de um "rigoroso inventário do património do Estado, o que irá "dificultar e impedir os desvios e os constantes atentados ao património público" e o fim da desvalorização contínua do kwanza, moeda nacional.
Adalberto da Costa Júnior pediu também esclarecimentos sobre a situação dos professores, para impedir uma "greve à vista no final do ano letivo", sobre as medidas de incentivo aos agricultores e o destino do diferencial do petróleo, fora do Orçamento Geral do Estado.
Pobreza no meio da riqueza no sul de Angola
Apesar da riqueza em petróleo, em Angola vive muita gente na pobreza, sobretudo no sul do país. A região é assolada por uma seca desde 2011 e as colheitas voltaram a ser pobres neste ano. Muitos angolanos passam fome.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Sobras da guerra civil
A guerra civil (1976 -2002) grassou com particular violência no sul de Angola. Aqui, o Bloco do Leste socialista e o Ocidente da economia de mercado livre conduziram uma das suas guerras por procuração mais sangrentas em África. Ainda hoje se vêm com frequência destroços de tanques. A batalha de Cuito Cuanavale (novembro de 1987 a março de 1988) é considerada uma das maiores do continente.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Feridas abertas
O movimento de libertação UNITA tinha o seu baluarte no sul do país, e contava com a assistência do exército da República da África do Sul através do Sudoeste Africano, que é hoje a Namíbia. Muitas aldeias da região foram destruídas. Mais de dez anos após o fim da guerra civil ainda há populares que habitam as ruínas na cidade de Quibala, no sul de Angola.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Subnutrição apesar do crescimento económico
Apesar da riqueza em petróleo, em Angola vive muita gente na pobreza, sobretudo no sul. A região sofre de seca desde 2011 e as colheitas voltaram a ser más no ano 2013. Muitos angolanos não têm o suficiente para comer. A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) diz que nos últimos anos pelo menos um quarto da população passou fome durante algum tempo ou permanentemente.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
O sustento em risco
Dado o longo período de seca, a subnutrição é particularmente acentuada nas províncias do sul de Angola, diz a FAO. As colheitas falham e a sobrevivência do gado está em risco. Uma média de trinta cabeças perece por dia, calcula António Didalelwa, governador da província de Cunene, a mais fortemente afetada. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) também acha que a situação é crítica.
Foto: DW/A. Vieira
Semear esperança
A organização de assistência da Igreja Evangélica Alemã “Pão para o Mundo” lançou um apelo para donativos para Angola na sua ação de Advento 2013. Uma parte dos donativos deve ser reencaminhada para a organização parceira local Associação Cristã da Mocidade Regional do Kwanza Sul (ACM-KS). O objetivo é apoiar a agricultura em Pambangala na província de Kwanza Sul.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Rotação de culturas para assegurar mais receitas
Ernesto Cassinda (à esquerda na foto), da organização cristã de assistência ACM-KS, informa um agricultor num campo da comunidade de Pambangala, no sul de Angola sobre novos métodos de cultivo. A ACM-KS aposta sobretudo na rotação de culturas: para além das plantas alimentícias tradicionais como a mandioca e o milho deverão ser cultivados legumes para aumentar a produção e garantir mais receitas.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Receitas adicionais
Para além de uma melhora nas técnicas de cultivo, os agricultores da região também são encorajados a explorar novas fontes de rendimentos. A pequena agricultora Delfina Bento vendeu o excedente da sua colheita e investiu os lucros numa pequena padaria. O pão cozido no forno a lenha é vendido no mercado.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Escolas sem bancos
Formação de adultos na comunidade de Pambangala: geralmente os alunos têm que trazer as cadeiras de plástico de casa. Não é só em Kwanza Sul que as escolas carecem de equipamento. Enquanto isso, a elite de Angola vive no luxo. A revista norte-americana “Forbes” calcula o património da filha do Presidente, Isabel dos Santos, em mais de mil milhões de dólares. Ela é a mulher mais rica de África.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Investimentos em estádios de luxo
Enquanto em muitas escolas e centros de saúde falta equipamento básico, o Governo investiu mais de dez milhões de euros no estádio "Welvitschia Mirabilis", para o Campeonato Mundial de Hóquei em Patins 2013, na cidade de Namibe, no sul de Angola. Numa altura em que, segundo a organização católica de assistência “Caritas Angola” dois milhões de pessoas passaram fome no sul do país.
Foto: DW/A. Vieira
Novas estradas para o sul
Apesar dos destroços de tanques ainda visíveis, algo melhorou desde o fim da guerra civil em 2002: as estradas. O que dá a muitos agricultores a oportunidade de venderem os seus produtos noutras regiões. Durante a era colonial portuguesa, o sul de Angola era tido pelo “celeiro” do país e um dos maiores produtores de café de África.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Um futuro sem sombras da guerra civil
Em Angola, a papa de farinha de milho e mandioca, rica em fécula, chama-se “funje” e é a base da alimentação. As crianças preparam o funje peneirando o milho. Com a ação de donativos de 2013 para a ACM-KS, a “Pão para o Mundo” pretende assegurar que, de futuro, os angolanos no sul tenham sempre o suficiente para comer e não tenham que continuar a viver ensombrados pela guerra civil do passado.