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Urge reforma das Forças Armadas da Guiné-Bissau

28 de dezembro de 2011

A instabilidade política que se vive na Guiné-Bissau praticamente desde a independência do país é endémica. As causas são complexas. As soluções para tornar o país governável não são evidentes.

Putsch in Guinea-Bissau. Foto: Jochen Faget f. DW
O exército da Guiné-Bissau não tem assumido um papel construtivo na democratizaçãoFoto: Jochen Faget

A Deutsche Welle falou com o cientista político português Paulo Gorjão, diretor do IPRIS - Instituto Português de Relações Internacionais e de Segurança, para tentar perceber as razões profundas da crise guineense. Em sua opinião o detonador foi um conflito entre dois altos quadros militares: “Há uns três quatro meses que havia referências constantes ao mau ambiente entre o Chefe do Estado Maior das Forças Armadas, António Indjai, e o Chefe do Estado Maior da Armada, Bubo Na Tchuto.

A situação vinha a arrastar-se há alguns meses com rumores frequentes de que Na Tchuto estava prestes a ser exonerado”, diz Paulo Gorjão, acrescentando que havia sinais de que a relação entre os dois se tinha vindo a degradar: “Isso talvez explique os acontecimentos desta semana.”

A resistência às reformas

O Presidente Nino Vieira foi assassinado por militares em 2009Foto: picture-alliance/ dpa

Para Paulo Gorjão o afastamento, por doença, do Presidente da República, Malam Bacai Sanhá, hospitalizado em Paris, criou um vácuo de poder e reduziu drasticamente as tendências apaziguadoras no país. Todavia, a questão nuclear está na reforma das forças de segurança guineenses.

Quisemos saber do especialista do IPRIS quem está contra essas reformas: “Quem está contra é quem vai perder com isso. Sobretudo quem está contra é a geração de militares ainda do tempo da guerra de independência. Muitos deles são quem detêm o poder nas Forças Armadas. São os mais velhos, os mais respeitados”. Paulo Gorjão explica que é esta geração mais velha de militares que vai ser posta à parte, que será reformada neste processo de reforma do setor de segurança, a que mais teme a mudança.

O papel do tráfico da droga

A Guiné-Bissau debate-se ainda com um problema grave de narcotráfico, no qual parecem estar envolvidos oficiais do exércitoFoto: AP

O observador vai mais longe e não exclui a influência do narcotráfico existente na Guiné-Bissau na luta entre as fações militares que o querem controlar: “E depois há sempre aquela questão de que se fala, mas de que se tem medo de falar ao mesmo tempo, e que tem que ver com o eventual envolvimento das forças armadas no tráfico de droga” É que, esclarece, num país extremamente pobre retirar a setores das forças armadas uma fonte de rendimento “é sempre uma questão terrivelmente complicada.”

Na opinião do especialista do IPRIS as soluções são difíceis e estão cada vez mais distantes. A saturação e o cansaço da comunidade internacional relativamente à Guiné-Bissau são imensos, o que dificulta ainda mais a criação de soluções. “Mas a solução tem que passar por aí”, insiste Gorjão, e acrescenta: “Enquanto não houver a reforma do setor de segurança eu não acredito que na Guiné-Bissau haja alguma solução duradoira, porque a fonte de poder na Guiné-Bissau não é o poder civil. São os militares, sempre o foram desde a independência.”

Autor: Pedro Varanda de Castro
Edição: Cristina Krippahl/António Rocha

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