A desnutrição crónica em Nampula, no norte de Moçambique, atingiu um índice alarmante de 55% da população. Isto apesar da província ser rica em alimentos nutritivos e uma das maiores produtoras do país.
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Em Moçambique estima-se que 43% das crianças até aos cinco anos enfrente desnutrição crónica. O Governo em Maputo criou uma plataforma multissetorial para travar a deterioração da situação em Moçambique e diz que vai continuar a firmar parcerias com ONG para o efeito.
A província de Nampula tem um dos índices de má nutrição mais elevados do país. O problema afeta sobretudo crianças menores de cinco anos, de acordo com um estudo da Fundação para Desenvolvimento da Comunidade (FDC), realizado no ano passado e agora apresentado em Nampula. As organizações da sociedade civil local lamentam a situação e propõem algumas soluções.
Mudar os hábitos alimentares
Segundo Joaquim Oliveira, diretor de advocacia da FDC, uma das principais razões para o problema é o comportamento em relação à alimentação, tanto em Nampula como um pouco por todo o país. "Outro fator detetado pelo estudo, e que nos parece muito importante, é que os alimentos que são produzidos não servem para reforçar a nutrição. As pessoas acham que os alimentos servem para ter força para trabalhar e para conseguir rendimento", diz.
Urgem medidas contra a desnutrição em Nampula
Por isso, explica Oliveira, grande parte dos alimentos de qualidade é vendida. Os produtores consomem apenas aqueles que acreditam dar energia para trabalhar.
O estudo da FDC aponta também os problemas de saneamento e a gravidez precoce como fatores que contribuem para a má nutrição. Para Joaquim Oliveira, não será possível encontrar uma solução enquanto não for coordenado o trabalho das organizações governamentais e privadas. Por isso, propõe uma unificação dos esforços.
"O estudo revelou que existem muitas intervenções aqui na província de Nampula, mas todas as que temos aqui atuam de forma isolada; elas não trazem o impacto desejado. Podemos ter um caso em que um ator trabalha na educação nutricional, mas já não é o ator que trata dum assunto relacionado com água e saneamento'', disse o especialista à DW África.
Coordenar o combate à subnutrição
Para contornar a situação, o Governo criou, no ano passado, o Conselho Nacional de Segurança e Nutricional. Fátima Varende, chefe do Departamento dos Recursos Humanos do Secretariado Técnico de Segurança e Nutricional, adiantou que participam no grémio para a redução da desnutrição crónica, liderado pelo primeiro-ministro Carlos Agostinho do Rosário, vários ministros de áreas chaves.
"A criação deste conselho e a expansão em todo o território nacional, vai fazer com que o comprometimento seja maior por parte das lideranças em relação à segurança alimentar e nutricional. Isto vai fazer com que todos nós despertemos e lutemos para o mesmo objectivo, que é a redução da desnutrição crónica", disse a responsável.
Além da FDC, organização moçambicana liderada por Graça Machel, viúva do primeiro Presidente moçambicano, Samora Machel, as autoridades governamentais colaboram nesta empreitada com a Bi Win, uma ONG internacional.
Produção de chá em Gurué
As maiores plantações de chá de Moçambique localizam-se em Gurué. Para muitos, apesar da baixa remuneração desta atividade, é a única hipótese de terem um trabalho para sustentar a família.
Foto: DW/M. Mueia
Colheita matutina inicia o processo
A colheita de folhas de chá é feita pela madrugada, entre as 4 e as 7 horas. Depois, as folhas seguem para a fábrica, onde serão colocadas em máquinas para a secagem, antes de serem trituradas e transformadas em cascas de chá - o produto final. Diariamente, os trabalhadores têm a meta de colher quantidades de folhas equivalentes a 50 quilos. Se não conseguirem, o salário será ainda mais “magro”.
Foto: DW/M. Mueia
Clima favorável
Devido à zona montanhosa, as temperaturas ficam abaixo dos 20 graus em Gurué. No período de inverno, entre maio e junho, as plantas de chá produzem menos folhas. Em consequência, há menos mão-de-obra sazonal a produção é menor, segundo os gestores e especialistas desta cultura.
Foto: DW/M. Mueia
Baixa remuneração
A maior parte da mão-de-obra contratada para a colheita de folhas de chá é composta por pessoas mais velhas. Os jovens não abraçam a atividade devido aos salários que não são sustentáveis. Em média, o salário diário varia entre 100 a 120 meticais (cerca de 1,50€), dependendo do esforço individual - quem colher mais quantidade recebe mais.
Foto: DW/M. Mueia
Chazeiras de Moçambique - Gurué
A fábrica tem a capacidade industrial de 50 toneladas de folhas verde de chá, equivalente a 10 toneladas de chá ensacado. Entre principais mercados de exportação estão o Dubai, a Alemanha, a Polónia, os Estados Unidos e Índia. A empresa tem 200 trabalhadores efetivos e 2000 trabalhadores locais sazonais.
Foto: DW/M. Mueia
Segurança no trabalho
A segurança é rigorosa na fábrica, para operários e visitas. As medidas de precaução estão escritas na porta principal da indústria e nas paredes que dão acesso direto às máquinas de processamento do chá.
Foto: DW/M. Mueia
Colher chá: opção de recurso
Baptista Alexandre Ricardo, de 55 anos. Trabalha na colheita de folhas de chá há quinze anos. É o trabalhador sazonal com mais tempo de casa na empresa "Chazeiras de Gurué". Para ele, foi a alternativa possível. Quando era jovem, sonhava com um bom emprego, que nunca conseguiu. Como alternativa, acabou por ir para a fábrica onde se habituou à atividade que exerce há mais de uma década.
Foto: DW/M. Mueia
Várias empresas chazeiras
A Sociedade de Desenvolvimento da Zambézia é uma das companhias produtoras de chá. Localiza-se no Bairro Murece, nome derivado da cadeia montanhosa que está nas imediações. A companhia produz, processa e exporta o chá. Um dos países para onde exporta é o Quénia. A nível nacional, o chá desta companhia é mais consumido na província de Sofala, Manica e na cidade de Quelimane.
Foto: DW/M. Mueia
Sacrifícios pela família
Galhardo Gemusse (esquerda) e Estefânio Janeiro (direita), são dois companheiros incansáveis. Caminham até ao depositário das folhas do chá. Trabalham na colheita do chá há 7 anos, para poderem sustentar as famílias. Desesperado com a vida económica e profissional, Estefânio, de 24 anos, não teve muita escolha. Casou-se cedo e tem uma família para cuidar.
Foto: DW/M. Mueia
Lenha é essencial na secagem das folhas
Além da energia elétrica, a lenha é fundamental para a preparação das folhas verdes de chá. Os troncos das árvores são postos em fogueiras, para secagem das folhas. Nesta área, os trabalhadores, na sua maioria, são jovens. A sua função é carregar manualmente os troncos até à fogueira. Este setor funciona 24 horas por dia, em turnos rotativos.
Foto: DW/M. Mueia
Faltam oportunidades para mulheres em Gurué
Alura Jorge é uma das poucas mulheres sazonais na colheita na companhia Chazeiras de Moçambique. Está há um mês neste trabalho. Segundo explica, a Cidade de Gurué é desprovida de oportunidades de empregos para mulheres solteiras.