Sete milhões de eleitores são convocados a votar, este domingo (13.10), pela terceira vez num mês, na segunda volta das presidenciais disputadas por dois candidatos marginais ao sistema político tradicional.
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Os tunisinos iniciaram a votação do novo Presidente após rejeitaram candidatos tradicionais em eleições disputadas por um magnata da comunicação social e de um professor de direito reformado que quer refazer a democracia.
Nabil Karoui, o magnata da mídia, só foi libertado de detenção na quarta-feira (09.10), depois de passar a maior parte da eleição a aguardar um veredicto no seu julgamento por corrupção. Ele nega todas as acusações de irregularidades.
Kais Saied não gastou quase nenhum dinheiro na sua campanha e é considerado pelos seus apoiantes como um homem humilde de princípios, enquanto os seus críticos atacaram os seus pontos de vista sociais conservadores e com o apoio do partido islâmico moderado da Tunísia, Ennahda.
Três pleitos em cinco semanas
A votação de domingo é a terceira eleição nacional em cinco semanas, após o primeiro turno da votação presidencial em setembro - em que Saied levou 18,4% e Karoui 15,6% entre 26 outros candidatos - e uma eleição parlamentar há uma semana.
Baixa afluência às urnas e rejeição dos políticos e partidos tardicionais em ambas as sondagens revelaram insatisfação com a situação da Tunísia.
No entanto, qualquer que seja o presidente e o primeiro-ministro eleitos, eles enfrentarão os mesmos desafios que têm atormentado todas as coligações recentes - desemprego crónico, alta inflação e demandas de credores estrangeiros por
impopulares cortes nos gastos.
Campanha turbulenta
Os últimos dias de campanha ficaram assinalados pela libertaçãodo candidato Nabil Karoui que dispôs de dois dias para argumentar com o seu adversário Kais Saied.
"Não houve nenhum acordo", assegurou Karoui logo na manhã de quinta-feira, após diversos comentários que admitiam possíveis negociações políticas no âmbito das discussões em curso para formar um governo após as inconclusivas legislativas de 6 de outubro.
"Foi a Justiça que me libertou, a Justiça independente", acrescentou o empresário e publicitário que denunciou uma detenção "política".
"Esperava que estas eleições fossem adiadas uma semana para que o povo tunisino pudesse ver e comparar", disse ainda Karoui. "Falta um ou dois dias, mas vamos enfrentar a batalha e vamos ganhar!", assegurou.
Os dois candidatos
A rutura com o "sistema" é um dos poucos objetivos que une os dois homens.
Na primeira volta presidencial em 15 de setembro, Saied (18,4%) e Karoui (15,58%) ficaram distanciados por 95.000 votos.
O primeiro é um universitário especialista em direitos constitucional e com uma carreira sem grande relevo. O segundo teve modestos estudos de comércio em Marselha, vendeu produtos da Colgate e Palmolive antes de se tornar no número um da comunicação, da publicidade e da televisão no seu país.
Saied, que diversas sondagens oficiais apontam como o vencedor da segunda volta deste domingo, constitui uma curiosa mistura de nacionalismo árabe, conservadorismo e esquerdismo.
Karoui é um convicto liberal que concentrou o essencial das suas propostas políticas no social e na defesa dos mais pobres, utilizando como ferramenta decisiva a cadeia televisiva Nessma TV, que fundou com o seu irmão Ghazi em 2007.
Famílias influentes em África
Para muitos, a política continua a ser um negócio de família: o filho recebe a Presidência de herança, a filha dirige a empresa estatal, a esposa torna-se ministra. Há vários exemplos.
Foto: picture-alliance/dpa
Filha milionária
Isabel dos Santos, a filha mais velha do Presidente angolano, é uma das dez pessoas mais ricas de África. Do império da empresária constam a maior empresa de telecomunicações do país e uma cadeia de hipermercados. Além disso, dos Santos lidera a petrolífera angolana Sonangol. O irmão José Filomeno dirige o Fundo Soberano de Angola, que gere mais de cinco mil milhões de dólares.
Foto: picture-alliance/dpa
O meu pai decide…
Teodoro Nguema Obiang Mangue é vice-Presidente da Guiné Equatorial – e o filho do chefe de Estado. O pai, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, dirige o país desde 1979. O seu enteado, Gabriel Mbaga Obiang, é ministro das Minas e Hidrocarbonetos. A petrolífera estatal GEPetrol é controlada pelo cunhado do Presidente, Nsue Okomo.
Foto: Picture-alliance/AP Photo/F. Franklin II
O meu filho, o guarda-costas
Muhoozi Kainerugaba é o filho mais velho do Presidente do Uganda, Yoweri Museveni, que está desde 1986 no poder. Ele é um oficial superior no Exército ugandês e comanda a unidade especial responsável pela proteção do chefe de Estado. A mulher de Museveni, Janet, é ministra da Educação e do Desporto. O cunhado, Sam Kutesa, é ministro dos Negócios Estrangeiros.
Foto: DW/E. Lubega
Uma irmã gémea influente
Jaynet Désirée Kabila Kyungu é filha do ex-Presidente congolês, Laurent Kabila. Agora, é o seu irmão gémeo, Joseph Kabila, que governa o país. Jaynet está no Parlamento; além disso, tem uma empresa de comunicação. Os "Panama Papers" revelaram que ela foi co-presidente de uma empresa offshore que terá tido participações no maior operador móvel no Congo.
Foto: Getty Images/AFP/J. D. Kannah
De secretária a primeira-dama
Grace Mugabe é a segunda mulher do Presidente zimbabueano, Robert Mugabe. Começaram a namorar enquanto ela ainda era a sua secretária. Entretanto, Grace é presidente da "Liga das Mulheres" do partido no poder e tem bastante influência. Grace, de 51 anos, é vista como a sucessora do marido, de 92 anos, embora ela tenha afastado essa hipótese.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
A ex-mulher ambiciosa
Nkosazana Dlamini-Zuma foi a primeira mulher eleita como presidente da Comissão da União Africana. Antes, foi ministra dos Negócios Estrangeiros no Governo do Presidente sul-africano Thabo Mbeki. Foi também ministra do Interior no Executivo do ex-marido, Jacob Zuma. O casamento desfez-se antes de Dlamini-Zuma ocupar esses cargos ministeriais.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Prinsloo
A empresa familiar, o Estado
Nas mãos da família do Presidente da República do Congo, Denis Sassou Nguesso, estão numerosas empresas estratégicas e altos cargos na política. O irmão Maurice é dono de várias empresas, a filha Claudia (na foto) dirige o gabinete de comunicação do pai e pensa-se que o filho Denis Christel esteja já a ser preparado para assumir a Presidência.
Foto: Getty Images/AFP/G. Gervais
Autorizado: Presidente Bongo II
O autocrata Omar Bongo Ondimba governou o Gabão durante 41 anos até falecer, em 2009. Numas eleições polémicas, em que bastou uma maioria simples na primeira volta, o filho do ex-Presidente, Ali Bongo, derrotou 17 opositores. Ele foi reeleito em 2016. A família Bongo já governa o país há meio século.
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Tal pai, tal filho
Dos cerca de 50 filhos do ex-Presidente do Togo Gnassingbé Eyadéma, Faure Gnassingbé foi o único a enveredar pela política. Entretanto, governa o país. Os pais dos atuais chefes de Estado do Quénia e do Botswana também já tinham estado na Presidência.