Organizações não-governamentais denunciam que a multinacional norueguesa Green Resources Moçambique usurpou terras aos camponeses nas províncias de Nampula, Niassa e Zambézia. Em causa estão mais de 500 mil hectares.
Publicidade
Trata-se de uma vasta área que abrange as províncias da Zambézia, no centro, e Nampula e Niassa, no norte de Moçambique, denunciam as ONG Livaningo, Justiça Ambiental e União Nacional dos Camponeses.
A empresa norueguesa Green Resources Moçambique "usurpou terras" aos camponeses "com pretensões falsas, com promessas de compensações que nunca aconteceram", conta Anabela Lemos, da Justiça Ambiental.
Usurpação de terras e "falsas promessas" em Moçambique
A União Nacional dos Camponeses diz que a multinacional, que se dedica ao plantio de eucaliptos e pinheiros, está a explorar terras fora das áreas concedidas.
"Não estão a honrar com os seus compromissos", afirma o diretor executivo da organização, Luís Muchanga.
Estas terras terão de ser devolvidas aos camponeses porque "o nível de recompensa que foi feito às comunidades não foi justa e os acordos feitos foram verbais", argumenta Muchanga.
Indemnizações inferiores a um euro
Os camponeses foram compensados com valores abaixo de um euro, de acordo com a Livaningo. Segundo a gestora de programas da organização de defesa de meio ambiente, Sheila Rafi, o Governo do distrito de Ribaué tem enviado cartas à empresa a solicitar a resolução destes conflitos e a revisão da tabela de compensação. "A Green Resources recebe continuamente as cartas e os apelos e dizem que estão a tratar, mas não estão a tratar", conta.
A multinacional norueguesa fez uma série de promessas às comunidades, como por exemplo a construção de centros de saúde, escolas, e pontes. "Tantas coisas que não aconteceram", lembra Sheila Rafi. "Queríamos que a empresa abrisse as portas para conversarmos", diz.
Numa conferência de imprensa para apresentar as queixas das organizações, a multinacional norueguesa não esteve presente. A DW tentou esta sexta-feira (05.05) contactar a empresa, sem sucesso.
Em 2016, a empresa já se tinha desentendido com as comunidades das áreas abrangidas devido ao desgate dos solos provocado pela rega de eucaliptos e pinheiros.
África exige justiça ambiental
Cientistas dizem que a Terra poderá aquecer até quatro graus até ao fim do século. A África já sofre com o aquecimento global. Caso não se combata a alteração do clima, as consequências serão desastrosas.
Foto: Getty Images/AFP/S. Maina
Há cada vez menos água em África
Segundo o Banco Mundial, basta um aquecimento do clima de dois graus centígrados para que caia menos um terço de chuva em África. O que terá como consequência um aumento das secas. Na seca extrema de meados de 1990, os pastores etíopes perderam cerca de metade do seu gado.
Foto: Getty Images/AFP/S. Maina
Chuva a mais
Futuramente as chuvas poderão aumentar no leste da África. Mas serão chuvas torrenciais concentradas em poucos dias e não regulares e distribuídas pelo ano. Em 2011, a cidade portuária tanzaniana Dar-es-Salam foi surpreendida por fortes quedas de chuva, que submergiram bairros inteiros. Pelo menos 23 pessoas morreram, outras 10 000 tiveram que abandonar as suas casas.
Foto: cc-by-sa-Muddyb Blast Producer
Colheitas falhadas
Em África cerca de 90% dos produtos agrários são cultivados por pequenos agricultores. Caso não se reforce marcadamente a sua resistência contra o aumento de secas e enchentes, mais 20% pessoas do que hoje vão passar fome, alerta a Organização das Nações Unidas.
Foto: Getty Images/AFP/A. Joe
Riscos para a saúde
Já hoje a alimentação deficiente por causa de colheitas fracas representa um problema em muitos países. Muitas pessoas mudam-se para os bairros de lata das grandes cidades, onde doenças como a cólera se espalham rapidamente. Um aumento da temperatura poderá fazer disparar a incidência de doenças como a malária, inclusive nos planaltos africanos, onde, até agora, a maleita não existe.
Foto: Getty Images/S. Maina
Extinção das espécies
O aumento da temperatura influencia eco sistemas completos. Muitos animais e plantas não se conseguem adaptar suficientemente depressa. Segundo um relatório do Conselho Mundial do Clima, entre 20% a 30% de todas as espécies estão ameaçadas de extinção por causa da mudança do clima.
Foto: CC/by-sa-sentouno
O Kilimanjaro sem neve
A manta de neve do monte Kilimanjaro tem 12 000 anos. Nos últimos 100 anos derreteu mais de 80% do seu gelo. Caso prevaleçam as condições atuais, o gelo no Kilimanjaro desaparecerá entre 2022 e 2033, calcula uma equipa de cientistas do Estado federado do Ohio, nos Estados Unidos da América. A seca e a falta de chuva levam a que o gelo derreta rapidamente.
Foto: Jim Williams, NASA GSFC Scientific Visualization Studio, and the Landsat 7 Science Team
Só quando a última árvore for abatida ...
A mudança do clima deve-se, sobretudo, aos carros, centrais de energia e fábricas na Europa, América e Ásia. Mas o abate de árvores em muitas florestas africanas, por exemplo, para produzir carvão vegetal, aumenta o CO2 na atmosfera e contribui para o esgotamento dos solos. Em tempos, um terço da superfície do Quénia era floresta, hoje são apenas 2%.
Foto: Getty Images/AFP/T. Karumba
Muda a muda cresce a floresta
Hoje, muitas pessoas já se aperceberam da necessidade de medidas para contrariar este desenvolvimento nefasto. Há algumas décadas, cidadãos empenhados no Quénia começaram a plantar novas árvores, contribuindo para que a superfície florestal crescesse para 7%. As árvores impedem que a chuva leve a preciosa terra arável e retiram os gases de efeito de estufa da natureza.
Foto: DW/H. Fischer
Proteção através da diversidade
As monoculturas são vulneráveis a secas e animais daninhos. Se forem plantadas diversas frutas lado a lado, a colheita fica assegurada, mesmo que uma espécie falhe. Segundo o Programa Ambiental das Nações Unidas, a agricultura ecológica aumenta também bastante mais a resistência às consequências da mudança do clima do que a agricultura convencional.
Foto: Imago
Menos palavras, mais ação
Reservas subterrâneas de água da chuva, seguros contra o risco de colheitas falhadas: há muitas maneiras de, pelo menos, amenizar as consequências do aquecimento global. A assistência ao desenvolvimento e a protecção do clima não podem ser separadas, exigiram, recentemente, os delegados numa conferência das Nações Unidas. Mas não houve promessas concretas de assistência.
Foto: picture alliance/Philipp Ziser
Paris desperta expectativas
“Justiça ambiental, já!” exigiram os manifestantes na Conferência do Clima das Nações Unidas em Durban, na África do Sul, em 2011. Agora o mundo aguarda a conferência que se realiza em Paris no fim de 2015. Está planeada a assinatura de um acordo global sobre o clima, com o objetivo de limitar o aquecimento global a dois graus centígrados e reduzir as consequências nefastas da mudança do clima.