Vício do jogo ameaça jovens africanos
17 de julho de 2017Nima, um dos maiores bairros de Acra, a capital do Gana, é famoso pelas suas casas de jogo e apostas. Muitos jovens faltam às aulas na esperança que lhes saia a sorte grande.
Há dois anos que Baba Seidu, de 19 anos, investe tudo o que tem no jogo. Diz que um dia experimentou e ganhou logo tanto dinheiro que imediatamente quis ganhar mais. Também Idrisu Musa, de 20 anos, é viciado no jogo. Tudo começou quando via um jogo de futebol na companhia de amigos.
"Todos disseram que eu devia apostar também. Às vezes, ajudo o meu pai no trabalho e ele dá-me um pouco de dinheiro. Aposto tudo. Perdi mais vezes do que ganhei," relata o jovem.
Apostar em um clic
Hoje em dia já não é preciso ir à casa de jogos entregar a aposta. Basta ter acesso à internet. No Quénia, existe mesmo uma aplicação que facilita o jogo. A app "Sportpesa" tem um milhão de utentes que apostam através dos telemóveis.
O operador da app factura cerca de 40 milhões de euros por ano. Mas o negócio corre igualmente de feição para as casas de aposta do Gana. O vício estende-se às máquinas do jogo. Estas são produzidas em massa na China e vendidas ao desbarato em África. Chegam a custar à volta de apenas 100 euros, o que permite a aquisição até por pequenos empresários nos bairros pobres.
Os jogadores podem tentar a sorte por menos de um euro. O vício do jogo deixou de ser uma prerrogativa dos ricos. O propiretário de uma casa de apostas em Accra, no Gana, que pediu o anonimato, admitiu à DW que muitos alunos apostam o dinheiro que levam para almoçar, e até aquele destinado às propinas.
Movidos pelo desespero
O psicólogo Joseh Osafo da Universidade do Gana, em Acra, defende que "existem muitos factores que influenciam este tipo de comportamento. No Gana, a pior influência é a pobreza na qual vive a juventude. Trata-se de encontrar maneira de se precaver contra a ameaça à sobrevivência".
Os jovens gastam o dinheiro ganho não apenas em roupa e comida, mas também em drogas, diz o psicólogo, que acrescenta que muitos acreditam que ter muito dinheiro significa ter sucesso na vida, uma percepção a que Osafo chama de superficial.
O Gana está entre os países de rendimento médio. Mas muitos jovens não vêem perspectivas futuras. O Banco Mundial diz que 11,5% dos ganeses entre os 15 e 24 anos de idade estão desempregados. Muitas vezes é o desespero que os leva por um caminho que promete a riqueza instantânea. Isto apesar de o Gana ter leis severas que regulam o jogo, aliás interdito a menores.
Mas, muitas vezes, as leis não passam do papel. O psicólogo Osofo diz que é necessária uma campanha de esclarecimento sobre o vício não apenas direccionada aos jovens, mas também aos seus pais.
"Se olharmos para o jogo como vício, é óbvio que os jovens precisam de apoio psicológico. É o mesmo que estar viciado em drogas e álcool. Quando se perde controlo sobre o próprio comportamento, chegou a altura de pedir ajuda," avalia.