Vítimas da epidemia que causou quase 4 mil mortes no país entraram com um processo no Tribunal de Justiça da CEDEAO, em que acusam o Governo de negligência, má administração e desvio de verbas destinadas à crise.
Publicidade
O processo, que foi apresentado esta sexta-feira (15.12) pela ONG Centro de Responsabilidade e Estado de Direito de Serra Leoa e por dois sobreviventes da epidemia do ébola, afirma que o Governo "violou o direito dos seus cidadãos à vida e à saúde", ao fazer uma má administração dos fundos destinados a combater a doença, segundo a imprensa local.
Uma investigação realizada pelo Auditor Geral da Serra Leoa descobriu que faltavam cerca de 14 milhões de dólares dos fundos destinados ao combate ao ébola entre 2014 e 2015.
O processo aponta que o Governo violou o direito à vida dos seus cidadãos ao não cumprir com os controlos oportunos de contabilidade e aquisição que levaram à perda de um terço dos recursos disponíveis e, portanto, foi responsável por um maior número de mortes.
"Vários médicos, enfermeiros e auxiliares morreram em vão, já que o dinheiro destinado a comprar roupas protetoras desapareceu nas contas bancárias pessoais de funcionários do Governo e empresas privadas", denuncia a ONG.
Julgamento inédito?
A má administração dos fundos diminuiu os recursos humanos e físicos necessários para fazer frente à epidemia, incluindo a falta de equipas de saúde, ambulâncias, provisões médicas básicas e apoio clínico e psicológico posterior.
Em fevereiro de 2015, o Auditor Geral divulgou um relatório no qual mostrava que 30% dos recursos de resposta ao ébola administrados pelo Ministério da Saúde durante os cinco meses posteriores ao surto da doença não foram totalmente justificados. "Nos últimos três anos, os habitantes da Serra Leoa exigiram reiteradamente prestação de contas e justiça pela má gestão dos fundos de resposta ao ébola, mas as suas exigências foram por água abaixo", disse o diretor da ONG, Ibrahim Tommy.
Se o processo apresentado for em frente, será a primeira vez que o Tribunal da CEDEAO, com jurisdição em direitos humanos, julga uma relação entre a má administração de recursos públicos e a violação dos direitos humanos.
A Serra Leoa foi declarada livre do ébola em janeiro de 2016, após ter sofrido uma epidemia com 14.124 casos confirmados e 3.956 mortes, e que também deixou 12 mil menores órfãos.
Ébola na Serra Leoa
Mais de 1.500 pessoas já foram infectadas no país. Apesar disso, os habitantes tentam não desistir e desafiam juntos o vírus.
Foto: DW/Scholz/Kriesch
A vida continua
Todos os dias, Sward Dembi (d) vende pimentões na grande feira da capital de Serra Leoa, Freetown. Claro que ela tem medo de se infectar com o ebola no meio da multidão do mercado apertado, afirma a jovem de 19 anos. Mas ela não tem escolha: a família dela depende dessa renda.
Foto: DW/Scholz/Kriesch
Arquitetura contra o ebola
Em todo o país faltam centros de isolamento para tratar os infectados. Mas também faltam equipes e instalações. O arquiteto Kamara deixou seus outros projetos de lado e ajuda na construção de um centro de isolamento para pacientes de ebola em Freetown, que deve começar a funcionar em poucas semanas.
Foto: DW/Scholz/Kriesch
Proteção policial
Ela não quer revelar seu nome, mas os outros a chamam de "Mama G". Para muitos, a policial é quase uma mãe, que dedica seu tempo para as preocupações das pessoas de seu bairro. Há três semanas, ela foi desligada de suas funções para poder acompanhar o funeral de vítimas do ebola. Um trabalho que a ocupa em tempo integral, admite a policial.
Foto: DW/Scholz/Kriesch
Deixar o país não é uma opção
O alemão Ole Hengelbrock, de 28 anos, foi para Freetown há mais de um ano para cuidar de um projeto da organização humanitária Cap Anamur sobre crianças de rua. Hoje, Serra Leoa já virou um segundo lar para ele. Por um tempo, ele até jogou na Primeira Liga de futebol do país. Hengelbrock descarta a possibilidade de voltar para a Alemanha por causa da crise do ebola.
Foto: DW/Scholz/Kriesch
Voluntário
É a primeira vez que Momudo Lambo, de 28 anos, veste uma roupa de proteção. Ele participa de um treinamento para voluntários dispostos a trabalharem nas estações de tratamento de ebola. Um trabalho perigoso, mas, "em tempos difíceis como agora, algo obrigatório".
Foto: DW/Scholz/Kriesch
Informação
A única coisa capaz de ajudar contra o ebola é o conhecimento sobre o vírus, afirma Usman Rahim Bah. Com seu próprio dinheiro, ele preparou material informativo, que agora distribui de casa em casa.
Foto: DW/Scholz/Kriesch
Sempre em serviço
Stella trabalha como enfermeira há quase 30 anos – e, nesse meio tempo, já viu muita coisa. A atual crise, porém, supera tudo. Quando o primeiro caso de ebola foi anunciado em sua clínica e vários colegas pediram as contas, ela decidiu ficar – e hoje se diz confiante que seu país vencerá a epidemia.
Foto: DW/Scholz/Kriesch
Perigo constante
Desmond Reez lidera uma equipe da Cruz Vermelha. Ele é responsável por seus colegas, que diariamente recolhem corpos de vítimas da doença altamente infecciosa para enterrá-los. "Eu sei que nós somos bem treinados e estamos protegidos", disse o sanitarista. Todos os dias, ele espera que a epidemia finalmente acabe.