Vítimas do genocídio no Ruanda ainda à espera de indemnizações
16 de dezembro de 2011O Tribunal Penal Internacional para o Ruanda, com sede em Arusha, na Tanzânia, e os tribunais tradicionais nas aldeias ruandesas, os chamados “gacaca”, estão prestes a dar por concluído o seu trabalho.
O aspecto jurídico é, no entanto, apenas uma faceta do complexo processo de reconciliação e esclarecimento do genocídio de 1994, que no espaço de apenas três meses custou a vida a um milhão de pessoas. E pelo menos 250 000 mulheres foram violadas durante esse período.
Solidariedade com viúvas e órfãos
Em finais de 1994, foi criado um espaço para possibilitar a entreajuda de crianças e de mulheres vítimas do genocídio. A organização SEVOTA, a sigla ruandesa para “Solidariedade com as viúvas e os órfãos no trabalho e na auto-promoção”, foi fundada pela socióloga ruandesa Godeliève Mukasarasi.
Godeliève Mukasarasi, que recentemente esteve na cidade alemã de Colónia para expor o seu trabalho, empenha-se há quase duas décadas pelas viúvas e pelos órfãos do massacre, a quem procura dar novas perspetivas de vida. Também a socióloga perdeu familiares no genocídio, mas nunca perdeu a coragem: “Fiz uma promessa que me deu força. Jurei ajudar as pessoas infelizes se os meus filhos sobrevivessem. É essa a força que me faz agir até hoje”.
Segundo Mukasarasi, a comunidade deu-lhes nova confiança nelas próprias, o que é uma condição fundamental para a reintegração na sociedade. “A sociedade olha para uma pessoa da mesma forma como a pessoa olha para si própria. Se ela se menospreza, a sociedade também o fará. Mas se ela olha para si de forma positiva, também a sociedade a verá nessa perspectiva”, defende.
“Filhos do ódio”
Muitas mulheres foram violadas na altura do genocídio e desses crimes resultaram filhos. No Ruanda chamaram-lhes os “filhos do ódio”. Muitas mulheres aprenderam, entretanto, a valorizar-se a si mesmas e aos seus filhos e ganharam coragem para se exprimirem publicamente e reivindicarem os seus direitos.
Godeliève Mukasarasi diz que as mulheres que decidiram falar da sua situação na rádio estão orgulhosas, apesar de outras as terem criticado por se atreverem a admitir que foram prostitutas das milícias. “Porque mais ninguém fala sobre o assunto”, alegaram, “a sociedade tem que reconhecer que são vítimas de violações e deve aceitar os seus filhos”, acrescentou a socióloga.
O Tribunal de Crimes de Guerra classificou as violações de crime contra a humanidade. Feliz com os progressos registados, a socióloga ruandesa, cujo trabalho com a SEVOTA lhe já valeu vários prémios, ressalva que ainda está longe de atingir todos os objectivos. “É verdade que os casos foram julgados em tribunal e também nos tribunais tradicionais das aldeias, mas não houve indemnizações para as vítimas. Sem indemnizações é impossível falar de justiça”, sublinha, explicando ainda que, mesmo que tivesse apenas um valor simbólico, uma indemnização contribuiria para a auto-suficiência destas mulheres.
Autores: Philipp Sandner/Cristina Krippahl
Edição: Madalena Sampaio/António Rocha