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Vacina contra coronavírus: "Primeiros testes ainda este ano"

Henrik Böhme
25 de março de 2020

Empresas farmacêuticas em todo o mundo procuram desenvolver uma vacina contra o novo coronavírus. Na Alemanha, o trabalho mais promissor está a ser feito pela empresa de biotecnologia CureVac.

Deutschland Biotech-Unternehmen CureVac
Foto: Reuters/A. Gebert

O acionista maioritário da CureVac é a empresa de investimentos dievini Hopp BioTech Holding do bilionário e fundador da SAP, Dietmar Hopp. Recentemente, Hopp disse à imprensa que se tudo correr bem, uma vacina estará disponível no outono. A propósito a DW falou com o bioquímico Friedrich von Bohlen, gerente da dievini e membro do conselho fiscal da CureVac AG.

DW África: Há uma corrida mundial por uma vacina contra o coronavírus. O senhor e a sua empresa estão na linha da frente desta competição. Há progressos?

Friedrich von Bohlen (FB): É preciso perceber o pano de fundo. Vacinas são a única forma de proteger as pessoas da infeção. Mas também podem ser desenvolvidos medicamentos para curar quem está doente. Em ambos os sentidos está a acontecer muita coisa neste momento. Além disso, constatámos a existência de uma forma muito agressiva de Covid-19, que pode causar pneumonia. Outros novos medicamentos poderão controlar esta inflamação excessiva e, assim, ajudar os pacientes afetados.

Uma vacina seria a melhor solução. Há diversas abordagens. Atualmente estamos a usar o mRNA [RNA mensageiro] como fonte de informação para desenvolver uma vacina. Brevemente vamos iniciar os ensaios clínicos. Penso que esta é uma boa classe de substâncias na base da qual poderemos obter uma vacina eficaz.

O bioquímico Friedrich von Bohlen promete, para breve, uma vacina cntra o COVID-19 Foto: Dievini

DW África: Muitas pessoas perguntam quanto tempo mais vai durar este estado de emergência com todas as suas restrições. Pode especificar daqui a quanto tempo começam os testes?

FB: Eu não sou clarividente. Isso depende de muitos fatores que estão além do meu conhecimento. No que diz respeito à medicação, provavelmente ainda vai demorar mais alguns meses. No que diz respeito às vacinas, mais precisamente à sua disponibilidade, também alguns meses. No que diz respeito à aprovação humana, estamos provavelmente a falar de um ano para as vacinas.

DW África: Quantas destas vacinas a sua empresa poderia produzir?

FB: A grande incógnita atualmente é que ninguém sabe ao certo quanta proteção imunológica é necessária para prevenir a infeção de seres humanos. É algo impossível de adivinhar, mas também não pode ser testado de forma descontrolada. Os passos necessários a dar estão devidamente regulamentados. O que é imprescindível, porque também temos de proteger os voluntários que se submetem aos ensaios. Para adquirir esses conhecimentos é preciso tempo. Um aceleramento só pode sempre ser parcial.

No que diz respeito à disponibilidade de vacinas, o mRNA tem uma enorme vantagem. Sabemos pesquisas que fizemos para vacinas contra a raiva na CureVac, que basta um micrograma para proteger uma pessoa. O que significa que com um grama de mRNA, poderíamos vacinar um milhão de pessoas.

A título de comparação, os medicamentos convencionais requerem frequentemente 500 miligramas de substância; com um grama produz-se apenas duas vacinas. O mRNA é muito potente e pode ser usado para proteger as pessoas de forma muito eficaz com pouco material. O que quer dizer que a substância propriamente dita pode estar disponível a muito curto prazo. Penso que poderíamos ter material suficiente no segundo semestre deste ano. Mas não sei se será possível obter a autorização de comercialização nessa altura.

A empresa alemã CureVav está a desenvolver medicamentos para os infetadosFoto: Getty Images/M. Hangst

DW África: A biotecnologia não tem grande relevância na Alemanha. Para além da sua empresa, há talvez mais dias ou três outras a trabalhar no mesmo setor. Acredita que uma crise como a atual poderá contribuir para mais pesquisa e financiamento na Alemanha?

FB: O financiamento da pesquisa básica na Alemanha é excelente. Mas quando se trata de traduzir isso em abordagens empreendedoras, falta coragem na Alemanha. A escassez do capital de risco é apenas uma das razões para a situação. Também há uma falta de reconhecimento por parte da sociedade. Penso que é isso que tem de mudar. A medicina moderna difere da medicina clássica em muitas vertentes. A medicina moderna está num processo de transformação. A biologia molecular, com o seu conhecimento altamente preciso de uma doença, está a começar a definir o diagnóstico e a terapia.

Isto é altamente inovador e pode ser comparado, por exemplo, às empresas de software noutras áreas. A Alemanha vai ficar para trás se não garantirmos a localização nacional para empresas que também criam novas tecnologias e novos empregos para o futuro.

Penso que a crise agora pode ser uma espécie de alerta, porque as pessoas tomaram consciência de que muitas destas empresas e tecnologias estão no estrangeiro e que, em última análise, ficamos a depender de terceiros. E que talvez fosse desejável ter essas tecnologias na Alemanha com os conhecimentos e funcionários correspondentes, especialmente no que toca à saúde das pessoas – que é o o maior bem da nossa vida.

Friedrich von Bohlen é bioquímico e diretor executivo da Dievini.

Se não consegue visualizar o mapa, pode abrir este link da Johns Hopkins University:
https://coronavirus.jhu.edu/map.html

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