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"Vacinar 20% da população vai ser um grande desafio"

15 de janeiro de 2021

Em entrevista à DW África, a representante da OMS em Angola, Djamila Khady Cabral, falou sobre as perspetivas de imunização em África, em particular nos PALOP, e os desafios que estes países terão de enfrentar.

Südafrika I Coronavirus I Impfung
Foto: Siphiwe Sibeko/REUTERS

Mais de 40 países no mundo já iniciaram a vacinação contra a Covid-19 e em África a expetativa é grande.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as primeiras doses da vacina da Pfizer/BioNTech deverão chegar ao continente já em fevereiro ou março, através da iniciativa global Covax, liderada pela OMS.

O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, anunciou esta semana que Moçambique candidatou-se à iniciativa para vacinar pelo menos 20% da população, com prioridade para os grupos de risco.

Djamila Khady Cabral, representante da OMS em Angola, fala, em entrevista à DW África, sobre as perspetivas do continente para essa campanha de vacinação em massa.

DW África: Quais são os desafios dos países africanos em relação ao acesso à vacina?

Djamila Khady Cabral (DKC): Em geral não temos condições de estar a competir no mercado internacional para ter acesso igual a esse tipo de ferramentas. Em geral somos os últimos. Então, para evitar essa injustiça em termos da distribuição da vacina no mundo, foi criado esse mecanismo que consiste numa coalizão atualmente de 189 países que põem os seus recursos em conjunto para facilitar o desenvolvimento de vacinas, a produção de vacinas e a sua distribuição. A Covax já conseguiu assegurar um pouco mais de 2 bilhões de dólares.

DW África: Quando vai começar a distribuição da vacina?

DKC: Prevê estar pronto para começar a distribuir a vacina ainda no primeiro trimestre, mais para o fim talvez, com uma perspetiva de distribuir uma pequena quantidade já, agora, entre fim de janeiro e princípio de fevereiro. Mas, mais uma vez, gostaria realmente de repetir que a questão dos países é fundamental.

DW África: Qual é a meta inicial de vacinação?

DKC: O objetivo inicial da Covax é vacinar 20% da população. Pensamos que isso é o mínimo indispensável. Vacinar 20% da população vai ser um grande desafio para muitos países africanos. Com as dificuldades que temos, com o sistema de saúde que temos, se conseguirmos fazer isso, se conseguirmos vacinar as populações prioritárias já vamos ter um impacto importante porque vamos diminuir o número de casos graves, vamos diminuir o número de mortos. No fundo é isso que nos preocupa mais.

Em África um dos maiores desafios serão os equipamentos de ultra-congelação das vacinasFoto: ULMER Pressebildagentur/picture alliance

Os critérios de priorização são pessoal de saúde, depois temos pessoas de idade mais avançada, o terceiro grupo de prioridade são aquelas pessoas que têm outras doenças mas o mecanismo não para de funcionar em 2021. E a esperança de que vai-se conseguir mais recursos para ir-se além dos 20%.

DW África: Disse que a preparação dos países é fundamental. Nesse sentido, quais são os principais desafios que os países de África vão enfrentar para garantir essa meta mínima de vacinação?

DKC: Um dos maiores desafios é a questão dos equipamentos de ultra-congelação que não estão disponíveis nos países. Os países têm de comprar. Angola já adquiriu alguns. Toda a questão da logística para fazer a vacinação. E têm que se for pessoas. Outro factor é que temos populações que estão extremamente dispersas, em zonas rurais, longínquas. Portanto é pôr em prática todo um sistema logístico que permita chegar a essas populações e também a mobilização  da população para aceitar a vacina, que esteja de acordo com a vacina e possa ser vacinada. As nossas populações têm pouco acesso à informação, muitas vezes também temos a questão do analfabetismo, o problema das línguas que faz com que as informações corretas possam não chegar.

Estamos com pressa de receber as vacinas mas temos que ter muita pressa em estar prontos para receber a vacina.

A logística complicada para a entrega da vacina da Covid-19

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