"Vai ser difícil julgar Isabel dos Santos em Luanda"
Lusa | tms
25 de janeiro de 2020
Analista britânico considera que "vai ser difícil" levar a empresária Isabel dos Santos a julgamento em Luanda. Entretanto, a ministra das Finanças de Angola diz que é preciso "respeitar o trabalho dos órgãos judiciais".
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O analista da consultora britânica Economist Intelligence Unit (EIU) que segue a economia de Angola considerou este sábado (25.01), em entrevista à Lusa, que "vai ser difícil" às autoridades levarem a empresária Isabel dos Santos a julgamento em Luanda.
"Isabel dos Santos recentemente mudou a sua residência oficial para o Dubai, motivada pelo seu desejo de manter os ativos longe das mãos das autoridades angolanas, e não meteu o pé em Angola desde 2018", lembrou Nathan Hayes.
"O Governo disse que ia tentar que ela fosse a julgamento em Luanda, mas vai ser difícil; ela tem cidadania russa, o que pode impedir a extradição para Angola", disse o analista, quando questionado sobre se acredita ser possível julgar a empresária na capital angolana.
"Luanda Leaks": Entenda as denúncias sobre Isabel dos Santos
01:24
Ambiente de negócios
Questionado sobre se o processo aberto pela Procuradoria-Geral da República de Angola contra Isabel dos Santos, constituindo-a arguida, ajuda a convencer os investidores sobre as mudanças em Angola no ambiente empresarial, Nathan Hayes respondeu que "os investidores internacionais vão provavelmente ver os esforços em curso, particularmente na separação da Sonangol e atribuição de licenças de exploração de petróleo, como um passo na direção certa para garantir o crescimento do setor privado e promover a diversificação económica".
O problema, acrescentou, é que "muito pouco melhorou desde que José Eduardo dos Santos deixou o poder", a começar na vertente económica, "com o país em recessão há quatro anos, e a maioria da atividade económica no país a continuar focada no setor petrolífero, com poucos impactos para a maior parte da população".
Além disso, destacou, apesar de a família dos Santos ter saído do poder, "continua a haver muitos dirigentes esquivos no poder, já que a elite governante é, na verdade, a militar, e o impulso reformista de João Lourenço tem de ser cuidadoso para não agir demasiado depressa contra estes interesses enraizados".
Assim, concluiu, "o ambiente de negócios continua muito desafiante, e ainda há muito a fazer antes de Angola ser um destino atrativo para investimentos, mas o Governo de João Lourenço está a dar passos na direção certa".
Respeito à Justiça angolana
Entretanto, comentando a investigação jornalística "Luanda Leaks" e os esquemas que envolvem a filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, a ministra das Finanças de Angola, Vera Daves, afirmou, em Davos, na Suíça, que é necessário "respeitar o trabalho dos órgãos judiciais" nos casos de alegada corrupção em Angola, lamentando que "apenas alguns" sejam mediáticos.
Em declarações à Euronews, e citada pela Lusa, Vera Daves disse que as investigações "estão a acontecer a tantos níveis que é uma pena que apenas parte sejam mediáticas".
"Acho que temos de respeitar o trabalho dos órgãos judiciais e ver os resultados disso chegar à nossa sociedade, com uma normalização da forma como os negócios são geridos, da forma como os serviços públicos são providenciados, e a forma como os bens e serviços são entregues aos nossos cidadãos", afirmou a ministra, acrescentando que "os órgãos judiciais estão a fazer o seu trabalho, assegurando que quem não respeitar a lei pague as consequências de não a respeitar".
Mesmo sem a Sonangol, Isabel dos Santos ainda tem um império empresarial
A mulher mais rica de África, filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, foi exonerada da liderança da petrolífera estatal angolana. Mas continua a ter uma grande influência económica em Angola e Portugal.
Foto: DW/P. Borralho
Bilionária angolana diz adeus à Sonangol
A 15 de novembro, Isabel dos Santos teve de renunciar à presidência do conselho de administração da Sonangol. Em meados de 2016, o seu pai, o então Presidente José Eduardo dos Santos, nomeou-a para liderar a companhia petrolífera estatal. A nomeação era ilegal aos olhos da lei angolana. O novo Presidente angolano, João Lourenço, estava, por isso, sob pressão para demitir Isabel dos Santos.
Foto: picture-alliance/dpa
Carreira brilhante à sombra do pai
Isabel dos Santos, filha de José Eduardo dos Santos e da sua primeira mulher, a jogadora de xadrez russa Tatiana Kunakova, nasceu em 1973, em Baku. Durante o regime do seu pai, no poder entre 1979 e 2017, Isabel dos Santos conseguiu construir um império empresarial. Em meados de 2016, a liderança da Sonangol, a maior empresa de Angola, entrou para o seu currículo.
Foto: picture-alliance/dpa
Conversão aos princípios "dos Santos"
Isabel dos Santos converteu o grupo Sonangol, sediado em Luanda (foto), às suas ideias. Nomeou cidadãos portugueses da sua confiança para importantes cargos de gestão e foi muito criticada pela ausência de angolanos em posições-chave na empresa.
Foto: DW/N. Sul d'Angola
Presença firme nas telecomunicações
Mesmo após o fim da sua carreira na Sonangol, Isabel dos Santos continua forte no meio empresarial: possui 25% da UNITEL desde o seu lançamento, em 2001, a empresa tornou-se a principal fornecedora de serviços móveis e de internet em Angola. Através da UNITEL, dos Santos conseguiu estabelecer vários contactos comerciais e parcerias com outras empresas internacionais, como a Portugal Telecom.
Foto: DW/P. Borralho
Redes móveis em Portugal e Cabo Verde
Isabel dos Santos detém a participação maioritária na ZON, a terceira maior empresa de telecomunicações de Portugal, através de uma sociedade com o grupo português Sonae. Também em Cabo Verde, dos Santos - com uma fortuna estimada em 3,1 mil milhões de dólares, segundo a revista Forbes - está presente nas telecomunicações com a subsidiária UNITEL T+.
Foto: DW/J. Carlos
Expansão com a televisão por satélite
Lançada em 2010 por Isabel dos Santos, a ZAP Angola apresenta-se como o maior fornecedor de televisão por satélite no país. Desde 2011, a ZAP está presente também em Moçambique, onde conquistou uma parcela importante do setor. Em Moçambique, a empresa compete com o antigo líder de mercado, a Multichoice (DSTV), da África do Sul.
Foto: DW/P. Borralho
Bancos: o segundo pilar do império
Atrás das telecomunicações, o setor financeiro é o segundo pilar do império empresarial de Isabel dos Santos. A empresária detém o banco BIC juntamente com o grupo português Américo Amorim - o empresário português conhecido como "o rei da cortiça" que morreu em julho de 2017. É um dos maiores bancos de Angola, com cerca de 200 agências. É também o único banco angolano com agências em Portugal.
Foto: DW/P. Borralho
Com a GALP no negócio do petróleo
Também no petróleo, dos Santos fez parceria com Américo Amorim. Através da empresa Esperanza Holding B.V., sedeada em Amesterdão, a empresária angolana está envolvida na Amorim Energia que, por sua vez, é a maior acionista da petrolífera portuguesa GALP. A GALP também administra os postos de gasolina em Moçambique (na foto) e em Angola onde, curiosamente, compete com a Sonangol.
Foto: DW/B.Jequete
Supermercado em Luanda
Em 2016, abriu em Luanda o Avennida Shopping, um dos maiores centros comerciais da capital angolana. Várias empresas do império dos Santos operam neste centro comercial, como o Banco BIC, a ZAP e a UNITEL. Assim, a empresária beneficia em várias frentes do crescente mercado de bens de consumo em Luanda.
Foto: DW/P. Borralho
350 milhões de dólares em supermercados
Uma das maiores lojas do Avennida Shopping é o hipermercado Candando. É operado pelo grupo Contidis, controlado por Isabel dos Santos. Nos próximos anos, deverão ser construídos em Angola vários Candando. No total, a Contidis quer investir mais de 350 milhões de dólares nas filiais.