China concede uma linha de crédito a Angola no valor de dois mil milhões de dólares para financiar vários projetos. Presidente angolano, João Lourenço, termina visita oficial de dois dias à China.
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O Governo angolano anunciou nesta terça-feira (09.10), uma nova linha de crédito com a China no valor de cerca de dois mil milhões de euros para desenvolver projetos de infraestruturas, quando se previa durante as negociações uma nova linha de crédito chinês de cerca de 10 mil milhões de euros para construção e conclusão de infraestruturas de impacto social como, por exemplo, o novo aeroporto internacional de Luanda.
O modelo de pagamento do empréstimo e a qualidade das obras chinesas em Angola tem levantado críticas por parte de alguns cidadãos atentos.
As relações económicas e comerciais entre os dois países remontam a 2003. Solicitados a reagir a notícia vários analistas divergiram-se. Para Augusto Báfua Báfua, analista político angolano, enaltece as relações entre os dois países, tendo reconhecido com poderia ter sido melhor. Opinião contraria tem outro analista, Agostinho Socatu que não vê grandes vantagens nessa cooperação:
“Valeria alguma coisa se os angolanos sentissem o impacto da cooperação Angola-China. Essa cooperação foi apenas baseada na exploração do petróleo e no envio de mão de obra até barata a Angola”, afirma .
Reativar Comissão Orientadora
Durante a sua estada em Pequim, o Presidente angolano João Lourenço pediu às autoridades chinesas que fosse reativada a Comissão Orientadora para a cooperação económica e comercial. João Lourenço considerou a iniciativa de "extrema importância", por permitir que os dois países façam um "acompanhamento efetivo" de todos os aspetos relacionados com a cooperação bilateral.
Num encontro com o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, o Presidente de Angola fez um balanço positivo das quase duas décadas de relações entre os dois países.
“Estamos obviamente satisfeito com a disponibilidade que tem manifestado em ajudar Angola no esforço que empreende para promover o seu desenvolvimento e queremos que se mantenha e se reforce o intercâmbio entre os nossos dois países”.
Para Pequim, Angola é o mais importante parceiro chinês na África lusófona, desde que, em 2002, a China começou a desembolsar importantes fundos para a edificação de infraestruturas e projetos públicos de reconstrução.
Analistas denunciam acordos
“Seria de lei que a Assembleia Nacional de Angola deliberasse sobre cada dívida que vamos contrair porque nós é que vamos pagar e não os senhores que contraem tais dívidas”, explica Agostinho Sicatu ouvido pela DW África.
Já, Augusto Báfua Báfua espera que estes valores contraídos sejam melhor implementados.
Vale a pena cooperação Angola – China?
“Provavelmente se prestará mais atenção ao acordo e da própria qualidade das obras que serão efetuadas ao contrário do executivo que cessou em 2017 que não prestou atenção divida na questão da fiscalização das obras. Por isso é que vimos a maior parte dela a ser deteriorado em médio prazo”.
Dados oficiais confirmam que Angola é, desde 2007, o maior parceiro comercial africano da China, com quem coopera nos domínios militar, agrícola, académico, agroindustrial, infraestrutural, petrolífero e tecnológico.
36,6 mil milhões de euros em crédito
Segundo estimativas da China Africa Research Initiative, da Universidade Johns Hopkins, desde 2000, Angola recebeu um total de 36,6 mil milhões de euros em crédito chinês.
No quadro das boas relações bilaterais, o gigante asiático absorve cerca de metade do petróleo extraído em solo angolano, e conta com mais de 250 mil trabalhadores em Angola, sobretudo na construção e reparação de infraestruturas, nomeadamente caminhos-de-ferro, estradas e habitações.
China em África: maldição ou benção?
A China quer mudar a sua imagem: de país explorador das matérias-primas africanas, para agente de desenvolvimento. Fazemos uma viagem pela história das relações sino-africanas.
Foto: AFP/Getty Images
Parceiros igualitários?
A China leva estradas asfaltadas, grandes estádios de futebol e internet de banda larga para África. Ao mesmo tempo, pede ao continente petróleo e outras matéria-primas. A China já é o maior parceiro comercial de África. Até 2020, o país pretende duplicar o volume de negócios para 400 mil milhões de dólares. Os críticos temem que haja apenas um vencedor nestes negócios: a China.
Foto: Getty Images
TAZARA: o primeiro grande projeto
A cooperação sino-africana começou nos anos 50 e 60. Como sinal da fraternidade socialista, a China financiou a construção de uma linha ferroviária que transportava o cobre da Zâmbia para a cidade portuária da Tanzânia, Dar es Salaam. O projeto baseava-se na amizade inter-étnica e no trabalho solidário. A ferrovia chamda TAZARA " Tanzania-Zambia Railway" funciona até aos dias de hoje.
Foto: cc-by-sa-Jon Harald Søby
Chegaram para fazer negócios
Com a estratégia "Go Global", na década de 90, o Governo chinês muda a sua política para África, começando a apoiar empresas do próprio país a fazerem negócios com o continente. O objetivo: proteger os recursos naturais estratégicos e promover o desenvolvimento económico da China. Ou seja, ter África como um parceiro de negócios e mercado para os bens de consumo chineses.
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Críticas do Ocidente
Com a nova política, a China garante para si campos de petróleo e as minas de metais preciosos, não tendo medo de trabalhar com regimes autoritários e corruptos. O país não é bem visto na Europa e nos Estados Unidos. A China só estaria interessada na exploração de recursos naturais, mas não no bem das pessoas, é a crítica do Ocidente.
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Infraestruturas como moeda de troca
A China também faz negócios com o Presidente do Sudão, Omar al-Bashir, procurado pelo Tribunal Penal Internacional por genocídio. O país está a tornar-se o mais importante investidor na indústria de petróleo sudanês. Além disso, a empresa chinesa de petróleo estatal financia a construção da barragem de Merowe, no norte do Sudão.
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Oferta de 150 milhões de euros à União Africana
As boas relações com a África são bem pagas pela China. Em 2012, o país financiou a construção da sede da União Africana, em Adis Abeba. "A China vai ajudar os países africanos a ampliar a sua força e independência", disse o chefe da delegação chinesa na cerimónia de abertura.
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Líder do mercado de telecomunicações
Duas empresas chinesas dominam o mercado africano de telecomunicações: a ZTE e a Huawei. Foi a essas empresas que Governos de todo o continente fizeram as suas grandes encomendas. Na Etiópia, a Huawei e a ZTE constroem uma rede de 3G para todo o país por 1,7 mil milhões de dólares. Na Tanzânia, empresas chinesas instalaram cerca de 10 mil quilómetros de cabos de fibra ótica.
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Concorrentes desagradáveis
As esperanças de melhores oportunidades em África não atraem apenas as grandes empresas, mas também milhares de cidadãos comuns chineses . Eles abrem pequenas lojas onde vendem produtos chineses baratos: utensílios de cozinha, jóias, dispositivos elétricos. "Muitos comerciantes africanos não estão satisfeitos com a nova concorrência", diz o economista queniano David Owiro.
Foto: DW/J. Jaki
À espera de novos postos de trabalho
Seja no comércio de retalho ou na construção de estradas "os africanos raramente lucram com investimentos chineses. As empresas trazem os seus próprios trabalhadores", diz Owiro. Agora, na África do Sul, onde a China acaba de inaugurar uma fábrica de camiões, isso pode mudar. O Governo sul-africano elogia o projeto como um marco para a industrialização africana e espera novos postos de trabalho.
Foto: Imago
De exportador a agente de desenvolvimento?
O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, ofereceu dois mil milhões de dólares para um fundo de desenvolvimento para África durante a sua visita ao primeiro-ministro da Etiópia, Hailemariam Desalegn, em maio de 2014. A liderança chinesa quer abrir um novo capítulo nas relações China-África, passando de país explorador das matérias-primas para agente de um desenvolvimento sustentável.
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Medo pela reputação
"A China teme pela sua reputação no mundo", diz Sun Yun do centro de pesquisa norte-americano "Brookings". As alegações nos média de que a China só estaria interessada nas matérias-primas de África levaram a esta mudança. O Governo publicou recentemente uma lista dos programas de ajuda ao desenvolvimento, que inclui 30 hospitais, 150 escolas, 105 projetos de energia e água renováveis.
Foto: AFP/Getty Images
O charme chinês
Para promover a sua missão em África, a China lançou uma grande campanha mediática. Os meios de comunicação do Governo para o estrangeiro focam claramente os negócios, África é retratada como o continente próspero. Algo que contrasta com décadas de cobertura negativa dos meios de comunicação ocidentais.
Foto: AFP/Getty Images
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Recorde-se, que esta é a segunda visita de João Lourenço a Pequim no espaço de 40 dias, depois de, no início de setembro, ter participado na terceira cimeira do Fórum de Cooperação China-África (FOCAC).