Deputado Agnelo Regala garante que não se vai demover de funções enquanto membro da oposição. "Nós não temos medo de dizer a verdade", disse. O político foi alvejado à porta de casa. Autores do ataque não são conhecidos.
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"Foram sete ou oito disparos... E recolhemos as cápsulas. Verificou-se que o único tiro que eu apanhei não foi muito profundo, a bala entrou e saiu. Perdi muito sangue, mas [o mais grave] era a vida de uma criança de dois anos ao colo e da esposa que estava sentada um pouco mais distante", disse Agnelo Regala à DW África.
O ataque acontece depois de Regala ter criticado, na passada quarta-feira (04.05), juntamente com o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e mais quatro formações políticas, o regresso à Guiné-Bissau da força militar da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), que considera uma invasão ao país
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"Fim da tolerância pacífica"?
Em comunicado, a UM, formação política dirigida por Agnelo Regala, considera o ato "uma tentativa de assassinato" do seu líder e chamou a atenção da comunidade internacional para o "fim da tolerância pacífica" e da "generalização da violência", em autodefesa dos cidadãos e das famílias guineenses.
O partido declara a sua "firmeza e determinação em continuar a lutar pelos nobres ideais que defende, nomeadamente, o Estado de Direito Democrático, a soberania do Estado da Guiné-Bissau, as liberdades e direitos fundamentais dos cidadãos, a justiça social, o bem-estar e progresso do povo, assim como a defesa intransigente da Constituição e das Leis da República da Guiné-Bissau".
A União para a Mudança denuncia igualmente o "uso abominável e sistemático da violência moral e física como forma de intimidar e silenciar a oposição política e democrática e as vozes críticas da sociedade guineense na tentativa da instalação de um regime autocrático, sanguinário e intolerante".
Apesar do ocorrido, Agnelo Regala sublinha que não vai baixar os braços. "Nós não temos medo de dizer a verdade e vamos continuar a denunciar o que não serve aos interesses da Guiné-Bissau”, assevera.
“Se isso é crime, se é pecado, nós não sabemos. Só sabemos que vamos continuar na nossa linha para defender as nossas convicções e lutar para que a democracia esteja presente na Guiné-Bissau", frisou.
PR e PM devem ‘assumir responsabilidades’
O presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH), Augusto Mário da Silva, que visitou Agnelo Regala na sua residência, lançou um repto ao Presidente da República (PR) e ao primeiro-ministro ()PM guineenses.
"Eu desafio o primeiro-ministro [Nuno Nabiam] e o Presidente da República [Umaro Sissoco Embaló] a assumirem as suas responsabilidades. Particularmente o primeiro-ministro, enquanto chefe do Governo, a quem cabe a responsabilidade de conduzir a política interna e externa do país, que garanta a segurança dos cidadãos. A assunção dessa responsabilidade passa necessariamente pela identificação dos autores desta e de outras práticas que já aconteceram aqui, e a sua tradução à justiça e consequente responsabilização”, disse.
O líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira, que também visitou Agnelo Regala, criticou o regime guineense. "[Este ato] é padrão comportamental de um regime que pretende silenciar todas as vozes que sejam contrárias à intenção de impor-se a ditadura na Guiné-Bissau”, comentou.
A LGDH promete mobilizar várias organizações da sociedade civil para uma vigília contra a violência e perseguição, em frente à sede do partido, nesta segunda-feira (09.05), na capital guineense, para protestar e denunciar a violência na Guiné-Bissau.
Golpes de Estado em África: Um mal endémico
Em menos de um ano, o continente africano viveu oito golpes e tentativas de golpe de Estado. A maior parte aconteceu na África Ocidental, região do continente mais fértil para as intentonas. Não há fator surpresa.
Foto: Radio Television Guineenne/AP Photo/picture alliance
Níger: Tentativa de golpe fracassada
A tentativa de golpe de Estado aconteceu a 31 de março de 2021, dois dias antes da tomada de posse do Presidente Mohamed Bazoum. Na capital, Niamey, foram detidos alguns membros do Exército por detrás da tentativa. O suposto líder do golpe é um oficial da Força Aérea encarregado da segurança na base aérea de Niamey. O Níger já sofreu 4 golpes de Estado: o último, em 2010, derrubou Mamadou Tandja.
Foto: Bernd von Jutrczenka/dpa/picture alliance
Chade: Uma sucessão com sabor a golpe de Estado
Pouco depois do marechal Idriss Déby ter vencido as presidenciais, morreu em combate contra rebeldes. A 21 de abril de 2021, o seu filho, o general Mahamat Déby, assumiu a liderança do país, sem eleições, nomeando 15 generais para o Conselho Militar de Transição, entre eles familiares seus. Idriss governou o Chade por mais de 30 anos com mão de ferro e o filho dá sinais de lhe seguir os passos.
Foto: Christophe Petit Tesson/REUTERS
Mali: Um golpe entre promessas de eleições
O coronel Assimi Goita foi quem derrubou Bah Ndaw da Presidência do Mali a 24 de maio de 2021. Justifica que assim procedeu porque tentava "sabotar" a transição no país. Mas Goita prometeu eleições para 2022 e falou em "compromisso infalível" das Forças Armadas na defesa da segurança do país. Pouco depois, o Tribunal Constitucional declarou o coronel Presidente da transição.
Foto: Xinhua/imago images
Tunísia: Um golpe de Estado sem recurso a armas
No dia 25 de julho de 2021, Kais Saied demitiu o primeiro ministro, seu rival, Hichem Mechichi, e suspendeu o Parlamento por 30 dias, o que foi considerado golpe de Estado pela oposição, que convocou manifestações em nome da democracia. Saied também levantou a imunidade dos parlamentares e garantiu que as decisões foram tomadas dentro da lei. Nas ruas de Tunes, teve o apoio da população.
Foto: Fethi Belaid/AFP/Getty Images
Guiné-Conacri: Um golpista da confiança do Presidente
O dia 5 de setembro de 2021 começou com tiros em Conacri, uma capital que foi dominada por militares. O Presidente Alpha Condé foi deposto e preso pelo coronel Mamady Doumbouya - que dissolveu a Constituição e as instituições. O golpista traiu Condé, que o tinha em grande estima e confiança. Doumboya tinha demasiado poder e não se entendia com a liderança da ala castrense.
Foto: Radio Television Guineenne via AP/picture alliance
Sudão: Golpe compromete transição governativa
A 25 de outubro de 2021, os golpistas começaram por prender o primeiro ministro, Abdalla Hamdok, e outros altos quadros do Governo para depois fazerem a clássica tomada da principal emissora. No comando estava o general Abdel Fattah al-Burhan, que dissolveu o Conselho Soberano. Desde então, o Sudão vive manifestações violentas, com a polícia a ser acusada de uso excessivo de força.
Foto: Mahmoud Hjaj/AA/picture alliance
Burkina Faso: Golpe de Estado festejado
A turbulência marcou o começo do ano, mas a intentona foi celebrada em grande nas ruas da capital, Ouagadougou. A 23 de janeiro de 2022, o tenente-coronel Paul Damiba liderou o golpe de Estado ao lado do Exército. Ao Presidente Roch Kaboré não restou outra alternativa se não demitir-se. Tal como os golpistas de outros países, comprometem-se a voltar à ordem constitucional após consultas.
Foto: Facebook/Präsidentschaft von Burkina Faso
Guiné-Bissau: Intentona ou "inventona"?
Tiros, alvoroço, mortos e feridos no Palácio do Governo marcaram o dia 1 de fevereiro de 2022 em Bissau. O Presidente Umaro Sissoco Embaló diz que os golpistas queriam matá-lo e ao primeiro ministro, Nuno Nabiam. Houve algumas detenções, mas até hoje não se conhece o líder golpista. No país, acredita-se que tudo não passou de um "teatro" orquestrado pelo próprio Presidente, amplamente contestado.