Venâncio Mondlane "traiu" o povo? PODEMOS revela "mágoa"
25 de março de 2025
Depois do encontro de anteontem entre o Presidente da República de Moçambique, Daniel Chapo, e o ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane, os partidos políticos com assento parlamentar discutem agora os possíveis efeitos dessa reunião para o processo de diálogo e conciliação nacional.
O porta-voz do Movimento Democrático de Moçambique(MDM), Ismael Nhacucue, saúda a iniciativa, dizendo que "foi um passo bastante positivo em direção à integração de Venâncio Mondlane no processo de diálogo nacional", atendendo ao facto de que "representa uma parte significativa dos eleitores moçambicanos" e "não pode ser excluído" como figura-chave que "mobiliza massas".
"Não há nada mais justo do que integrá-lo neste debate nacional", salienta Nhacucue em declarações à DW África.
Já Hélder Mendonça, secretário-geral honorário do Povo Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (PODEMOS), afirma que o partido "está com uma mágoa muito profunda" perante Venâncio Mondlane e que, por isso, ainda não tomou uma posição sobre se apoiaria uma integração do político no processo de diálogo nacional.
DW África: O encontro entre Venâncio Mondlane e Daniel Chapo foi um primeiro passo para a integração do antigo candidato presidencial no diálogo nacional?
Hélder Mendonça (HM): Sim, eu penso que deveria ser, porque Venâncio Mondlane carrega uma responsabilidade sobre os manifestantes. Porém, eu digo "deveria ser" porque, a partir da altura em que se declinou a possibilidade de ter um diálogo entre os candidatos, no ano passado, foi criado um outro cenário, que era o diálogo intrapartidário.
Mas, como sabemos, o Venâncio Mondlane não tem, neste momento, um partido político que o assista, como o PODEMOS fazia. Neste momento, querendo o Presidente Chapo incluir o Venâncio nesse processo, eu não sei muito bem qual seria a fórmula que poderia ser usada para o fazer.
DW África: Mas qual é a posição do PODEMOS? Apoiaria a integração de Venâncio Mondlane neste processo, uma vez que ele não representa qualquer partido?
HM: Seria muito prematuro, neste momento, dizer se o PODEMOS apoiaria a integração de Venâncio ou não, porque o PODEMOS está com uma mágoa muito profunda com Venâncio Mondlane, porque ele acusou o PODEMOS de traição.
DW África: Mas o senhor Hélder Mendonça também acusou Venâncio Mondlane de ser um traidor do povo. Foram essas as palavras que proferiu, certo?
HM: Disse isto esta manhã num canal de televisão, e volto a repetir: Se eu pegar na mesma base que ele usou para acusar o PODEMOS de traição – se partimos do princípio de que o PODEMOS traiu o povo, traiu o Venâncio, traiu os moçambicanos, pelo facto de ter tomado posse e estar a dirigir um processo de diálogo político – então, Venâncio estaria a agir da mesma forma, ao seguir os mesmos passos.
Nós não olhamos para estas ações como traição. Mas [foi esse] o sentido com que Venâncio Mondlane nos acusou – inclusive com alegações que foram muito mais longe, acusando o Presidente Forquilha de ter recebido subornos, algo que teve implicações muito sérias. Esses são alguns dos principais fatores para a mágoa que existe neste momento. Por isso é que eu disse: Olhando para este princípio, Venâncio também está traindo o povo, está traindo a pátria.