Conhecidos os vencedores do Prémio de Inovação para África
Isaac Kaledzi
19 de julho de 2017
Entre os projetos vencedores deste ano estão um teste médico rápido para doenças comuns em África e um dispositivo que pode ajudar a produzir mais eletricidade, aumentando a eficiência no continente.
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A capital do Gana, Accra, foi o palco escolhido pela Fundação Africana para a Inovação para a cerimónia deste ano do Prémio de Inovação para África. O evento, que vai já na sua 6ª edição, pretende divulgar e incentivar projetos inovadores capazes de solucionar alguns dos principais desafios do continente africano. Pretende, igualmente, incentivar os africanos a optarem por carreiras nas áreas da ciência, tecnologia e engenharia com o objetivo de contribuirem para o desenvolvimento sustentável de África.
Na edição deste ano de 2017, estiveram a concurso cerca de 2500 projetos de países de todo o continente africano. Em Accra, os participantes tiveram a oportunidade de trocar contactos e conhecimentos e vender as suas ideias, que chegaram de várias áreas.
Aly El-Shafei, tem 58 anos, e foi o vencedor deste ano. O engenheiro mecânico desenvolveu uma tecnologia que apoia a geração de energia. O projeto do egípcio pode aumentar a produção de energia em até 10%, reduzindo as vibrações, o que, por sua vez, poderá fazer reduzir o custo de produção de energia no continente.
Impacto no continente africano
Em entrevista à DW, El-Shafei explica o impacto da sua inovação no continente africano. "Este é um dispositivo que é colocado nas máquinas que temos atualmente, mas também nas máquinas que iremos ter futuramente e que produzirão energia para África", afirma o egípcio, acrescentando que o dinheiro do prémio irá ajudar com o "protótipo".
Em segundo lugar ficou Philipa Makobore. A ugandesa de 38 anos desenvolveu um dispositivo médico que administra com precisão medicamentos, controlando a taxa de fluidos para salvar vidas de pacientes que precisam de terapia de infusão. Philipa Makobore explica que pretende, ainda este ano, iniciar os ensaios clínicos em adultos e em crianças pequenas. "Será nisto que gastaremos a maioria do dinheiro do prémio. Com base no "feedback" dos ensaios, iremos fazer a revisão da tecnologia”, acrescenta.
A completar o top 3 está Dougbeh-Chris Nyan, da Libéria, que desenvolveu também um teste de diagnóstico rápido que deteta e diferencia, pelo menos, três a sete infeções ao mesmo tempo num espaço de 10 a 40 minutos. "É rápido, acessível e barato”, afirma Nyan, acrescentando que o teste é portátil, facilitando o transporte para as zonas mais rurais.
Os vencedores da edição deste ano do Prémio de Inovação para África receberam prémios monetários para melhorar e comercializar os seus projetos. O primeiro prémio é de cem mil dólares norte-americanos (86,700 mil euros) e o segundo de 25 mil (21,7 mil euros). O terceiro prémio é especial e visa distinguir a inovação com maior impacto social. Foram ainda atribuídos ao terceiro classificado 25 mil dólares norte-americanos. Os restantes sete candidatos receberam 5000 dólares (4,3 mil euros).
Incentivar jovens africanos
A Fundação Africana para a Inovação pretende que esta iniciativa continue a incentivar os jovens africanos a desenvolver projetos inovadores.Walter Fust, presidente da Fundação Africana para a Inovação, acredita que existe potencial. Na opinião deste responsável, "muito pode ser feito através da inovação". "É por isso que temos como grande objetivo trabalhar na mobilização do espírito inovador dos povos africanos. Dar-lhes auto-estima para que realmente as pessoas com talento avancem com soluções para o continente", conclui.
Innovation Prize for Africa - MP3-Mono
Existe uma rede de contatos para estes vencedores e outros inovadores continuarem a desenvolver e melhorar os seus produtos. No entanto, ainda está para ser visto se os governos africanos também estão empenhados em priorizar este tipo de iniciativas, fornecendo o apoio necessário para que os cidadãos dos seus países se aventurarem na inovação.
Dessalinização de água com tecnologia europeia em Cabo Verde
Em Cabo Verde, as reservas naturais de água são escassas e a estação chuvosa dura apenas três meses por ano. Governo aposta na dessalinização da água do mar para abastecer a população. Mais de 55% da produção perde-se.
Foto: DW/C. Teixeira
Água fresca para os cabo-verdianos
Em Cabo Verde, a dessalinização garante água fresca para cerca de 80% da população. O país aposta no sistema de osmose inversa para produzir água doce. A Electra, Empresa Pública de Electricidade e Água, é responsável pela produção e distribuição da água dessalinizada nas ilhas de São Vicente, Sal e na Cidade da Praia. Na foto, visão parcial da central dessalinizadora da Electra na capital.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Dessalinização por osmose inversa
O processo de dessalinização por osmose inversa é uma moderna tecnologia de purificação da água que consiste em diversas etapas de filtragem. Logo após a captação, a água do mar passa pelos filtros de areia, que têm por finalidade eliminar impurezas e resíduos sólidos maiores. Na foto, os dois grandes cilindros são os filtros de areia de uma das unidades de dessalinização na Cidade da Praia.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Várias etapas de filtragem
Depois, a água é novamente filtrada, desta vez por micro filtros. Os dois cilindros azuis que se podem ver na foto possuem uma alta eficiência na remoção de resíduos sólidos minúsculos - como moléculas e partículas. Essas duas pré-filtragens preparam a água para passar pelo processo de osmose inversa.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Sob alta pressão
O aparelho azul (na foto) é uma bomba de alta pressão. Aplica uma forte pressão na água do mar, que é distribuída pelos cilindros brancos. No interior, encontram-se membranas semipermeáveis por onde a água é forçada a passar. Neste processo de filtragem, consegue-se a retenção de sais dissolvidos. Obtém-se a água doce e a salmoura - solução com alta concentração de sal - que é devolvida ao mar.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Volume do abastecimento
Na Cidade da Praia, funcionam duas unidades dessalinizadoras da Electra, com capacidade para produzir 15.000m3 de água doce por dia. Pelo menos 60% da população da capital recebe a água dessalinizada da Electra. Na foto, uma visão parcial da unidade mais moderna de Santiago, em funcionamento desde 2013. A Electra é reponsável pelo abastecimento de água de mais de metade da população do país.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Controlo de qualidade
A água doce produzida é analisada num laboratório onde é feito o controlo de qualidade. De acordo com a Electra, a transferência da água para consumo só é autorizada se apresentar as condições estabelecidas nos protocolos da Organização Mundial da Saúde (OMS). Na foto, a engenheira bioquímica Elisângela Moniz mostra as placas utilizadas para a contagem de coliformes totais e fecais.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Moderna tecnologia europeia
Cabo Verde utiliza tecnologias europeias, espanhola e austríaca, para a dessalinização da água do mar. Na foto, o reservatório de água da empresa austríaca Uniha, que tem capacidade para armazenar 1.500 m3 de água. A água dessalinizada não fica parada aqui: é constantemente bombeada para os reservatórios de distribuição existentes ao longo da Cidade da Praia.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Grandes perdas
Esses equipamentos são responsáveis por bombear a água para os tanques de distribuição da Cidade da Praia. No entanto, cerca de 55% de toda a produção é perdida durante este processo. As perdas são causadas por fugas de água em tubulações e reservatórios antigos para onde a água é enviada antes de chegar ao consumidor.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Desafios e esforços para produzir água
O engenheiro António Pedro Pina, diretor de Planeamento e Controlo da Electra, diz que os maiores desafios da empresa são "garantir a continuidade na produção, estabilidade na distribuição e combater as perdas que, neste momento, estão em cifras proibitivas". Pina defende, no entanto, que "tem sido feito um esforço enorme para garantir a continuidade da distribuição da água" em Cabo Verde.
Foto: DW/C.V. Teixeira
Recurso natural abundante
Terminado o processo de dessalinização, a água com alta concentração de sal, denominada salmoura, é devolvida ao mar. Composto por 10 ilhas, o arquipélago cabo-verdiano encontra-se cercado por uma fonte inesgotável para a produção de água potável. Os cabo-verdianos têm assim o recurso natural abundante para garantir à população o abastecimento de água dessalinizada e limpa, constantemente.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Preço da água ainda é alto
A água dessalinizada pela Electra em Santiago abastece os moradores da Cidade da Praia. Na foto, moradores do bairro Castelão, na capital cabo-verdiana, compram água no chafariz público - um dos poucos que ainda restam no país. Cada bidão de cerca de 30 litros de água custa 20 escudos cabo-verdianos (cerca de 0,20 euros). O valor é considerado alto por muitos cabo-verdianos.