Em entrevista à DW, a presidente do Parlamento de Moçambique, Verónica Macamo, condena o assassinato de Mahamudo Amurane, que não considera um crime político. Diz que o caso está a ser investigado e já há suspeitos.
O crime está a ser investigado, havendo já suspeitos, confirmou à DW África Verónica Macamo Dlhovo, que esta quinta-feira (12.10) participou, em Lisboa, numa conferência que reuniu empresários portugueses e moçambicanos para debater o futuro económico do país africano.
"Não podemos, rigorosamente, dizer que é um crime político", sublinhou a segunda figura na hierarquia do poder em Moçambique. "Sabemos que o aconteceu foi, de facto, um homicídio. Não se sabe ainda, está-se a fazer a investigação. Já há pessoas suspeitas", acrescentou.
Protestos no adeus ao edil de Nampula
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Existe vontade política para acabar com a impunidade em Moçambique? A presidente da "Casa do Povo" garante que no seu país "ninguém está acima da lei" e prova disso é que antigos ministros já foram presos.
Porém, reconhece, por vezes há "crimes quase perfeitos que levam muito tempo a esclarecer". "Os criminosos também sofisticam os seus métodos. Só que nós temos que estar preparados, porque não podemos deixar o nosso mundo ser comandado por criminosos", defende Verónica Macamo.
Crise económica e dívidas
Por outro lado, Moçambique não ficou imune aos reflexos da crise económica, depois do choque severo registado em 2015 e 2016, em consequência da baixa do preço das matérias primas, da desvalorização da moeda nacional, o metical, face ao dólar e ao euro, e ainda devido, entre outras razões, à instabilidade política no centro do país.
Verónica Macamo: "Ninguém está acima da lei em Moçambique"
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A presidente do Parlamento destaca que a economia já está a registar sinais consistentes de retoma. "O Governo moçambicano adotou um maior rigor orçamental, acompanhado de contenção de despesa pública, e medidas de restrição da política monetária e fiscal, que permitiram relançar as bases para uma estabilização assinalável dos indicadores macroeconómicos", diz.
O fosso provocado pelas chamadas dívidas ocultas foi outro factor que abalou a economia moçambicana. Verónica Macamo assegurou aos empresários reunidos na capital portuguesa que, a par da auditoria internacional, "a gestão moçambicana está a trabalhar no sentido de esclarecer a questão" e que o país olha para o futuro com mais confiança.
Verónica Macamo, que esta sexta-feira (13.10) é recebida pelo chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, está em Lisboa em visita oficial a convite do seu homólogo da Assembleia da República portuguesa.
Acompanham-na representantes da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) e do Movimento Democrático de (MDM), as principais forças políticas moçambicanas com assento parlamentar.
Moçambique: centenas de pessoas marcham contra a situação política e económica
Centenas de moçambicanos marcharam no dia 18 de junho de 2016 em Maputo contra a situação política e económica do país. A manifestação foi convocada pela sociedade civil para exigir esclarecimentos ao Governo.
Foto: picture alliance/dpa/A. Silva
Pela Avenida Eduardo Mondlane rumo à Praça da Independência
"Pelo direito à esperança" foi o mote da manifestação que reuniu centenas de pessoas no centro de Maputo, no sábado dia 18 de junho de 2016. Os manifestantes exigem o fim do conflito político-militar entre o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o esclarecimento da dívida pública e mais liberdade de expressão.
Foto: picture alliance/dpa/A. Silva
"A intolerância política mata a democracia"
Em entrevista à DW África, Nzira de Deus, do Fórum Mulher, uma das organizações envolvidas, afirma que a liberdade dos moçambicanos tem sido muito limitada nos últimos meses. "É preciso deixar de intimidar as pessoas, deixarem as pessoas se expressarem de maneira diferente, porque eu acho que é isso que constrói o país. Não pode haver ameaças, não pode haver atentados", diz Nzira.
Foto: DW/L. Matias
De preto ou branco, manifestantes pedem paz
Com camisolas pretas e brancas e cartazes com mensagens de protesto, centenas de moçambicanos mostram o seu repúdio à guerra entre o Governo e a RENAMO, às dívidas ocultas e às valas comuns descobertas no centro do país. Num percurso de mais de dois quilómetros, entoaram cânticos pela liberdade e pela transparência.
Foto: DW/L. Matias
"Valas comuns são vergonha nacional"
Recentemente, foram descobertas valas comuns na zona central de Moçambique. Uma comissão parlamentar enviada ao local para averiguações nega a sua existência. Alguns dos corpos encontrados foram sepultados sem ter sido feita uma autópsia, o que dificulta o conhecimento das causas das suas mortes.
Foto: DW/L. Matias
"É necessário haver um diálogo político honesto e sincero"
Nzira de Deus considera que a crise política que Moçambique enfrenta prejudica a situação do país e defende que “haja um diálogo político honesto e sincero e que se digam quais são as questões que estão em causa". Para além da questão da dívida e da crise política, os manifestantes estão preocupados com as liberdades de expressão e imprensa.
Foto: DW/L. Matias
Ameaças não vão amedrontar o povo
No manifesto distribuído ao público e lido na estátua de Samora Machel, na Praça da Independência, as organizações da sociedade civil exigiram à Procuradoria-Geral da República uma auditoria forense à dívida pública. "Nós queremos que o ex-Presidente [Armando Guebuza] e o seu Governo respondam por estas dívidas", declarou Alice Mabota, acrescentando que as ameaças não vão "amedrontar o povo".
Foto: DW/L. Matias
Sociedade Civil presente
A manifestação foi convocada por onze organizações da sociedade civil moçambicana. Entre as ONGs que organizaram a marcha encontram-se a Liga dos Direitos Humanos (LDH), o Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), o Observatório do Meio Rural, o Fórum Mulher e a Rede HOPEM.