Filme de Filipe Ascensão mostra o lado mais íntimo da vida do antigo futebolista, que também vestiu a camisola do Benfica. “Eusébio - História de uma Lenda” estreia esta quinta-feira (23.03) nos cinemas portugueses.
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O filme documenta a vida de Eusébio da Silva Ferreira, nascido em Moçambique e dá a conhecer um outro lado da vida do antigo jogador: reune histórias desde os tempos de menino, quando brincava com bola de trapos em Moçambique, até se consagrar como o melhor jogador do mundo.
"Toda a história dele é uma história bonita, é uma história de fé", nota à DW África realizador Filipe Ascensão, que se confessa um admirador do "Pantera Negra".
"Estive muito interessado quando o conheci pela sua personalidade e a minha pergunta era sempre "como é que ele conseguiu alcançar o que alcançou?" Conseguiu ser tão grande: "como é que fez isso, ficando sempre simples e humilde como toda a gente o sabe?", destaca o realizador, acrescentando que "isso está claramente no filme".
Factos inéditos
Com esta obra descobrem-se factos que não se conheciam e como certos episódios foram realmente vividos pelo protagonista, Eusébio da Silva Ferreira. Quem já o tinha visto antes acaba por reviver os momentos - bons e maus - que marcaram a sua trajetória desportiva, servindo de certa forma de inspiração para outras gerações, acrescenta o realizador, que tentou ser o mais fiel possível.
Entre os momentos retratados no filme, Filipe Ascensão destaca as "superstições, algo que se passou com o Salazar, o Mundial de 66". E mais tarde, adianta, "já com outra idade, como é que ele vivia o facto de já não poder jogar a bola, como é que ele se considerava e como é que ele via realmente o futebol."
De forma cronológica, o filme também regista, com base nos arquivos, a infância de Eusébio da Silva Ferreira no bairro da Mafalala, em Maputo. Aí, Magagaga foi a sua primeira alcunha, como conta no documentário o companheiro e conterrâneo Hilário.
Família ajudou no filme
"Quando nascemos já o meu pai era uma figura conhecida", lembra Sandra Ferreira, uma das filhas de Eusébio, apoiou na logística a realização deste filme. À DW África recorda que o pai quis mostrar o que realmente era como pessoa.
"Claro que ficávamos super orgulhosas mas, se calhar, não lhe dávamos o devido valor. Foi tudo muito natural e normal, porque fomos criadas assim já com o estatuto que tinha", lembra.
A filha de Eusébio afirma ainda que esteve com o pai em Moçambique por várias vezes e aí também percebeu a sua grandeza. "Ele fazia sempre questão de estar ali no bairro onde cresceu e era muito acarinhado», acrescenta.
Vida de Eusébio documentada em filme
Filipe Ascensão gostaria que o filme "Eusébio - História de uma Lenda" fosse também exibido fora de Portugal, nomeadamente em outros países onde o antigo internacional foi uma glória. Moçambique, onde o realizador passou alguma temporada a filmar, está igualmente nessa lista.
Este filme surge três anos depois da morte do futebolista. O "Pantera Negra" faleceu a 5 de janeiro de 2014 e o seu corpo foi transladado (03/07/2015) para o Panteão Nacional, em Lisboa. A 25 de janeiro último Eusébio teria completado 75 anos de idade.
Eusébio: O primeiro rei africano do futebol
O moçambicano Eusébio da Silva Ferreira, também conhecido por Eusébio, foi o primeiro africano a tornar-se uma estrela de futebol em todo o mundo. A passagem pelo Benfica e pela seleção portuguesa fizeram dele uma lenda.
Foto: F.Leon/AFP/GettyImages
Homenagem tardia para o craque
O moçambicano Eusébio é considerado a primeira super-estrela africana do futebol. Graças aos seus inúmeros golos, o Benfica de Lisboa venceu os maiores sucessos da história do clube. Da mesma sorte beneficiou a seleção nacional portuguesa, que com Eusébio viveu nos anos 60 do século passado o primeiro auge. Ainda assim, demorou para que o trabalho do jogador fosse reconhecido em Portugal.
Foto: picture-alliance/Pressefoto UL
Eusébio, o Pelé africano
Eusébio é considerado um dos três melhores jogadores de futebol do século passado, juntamente com o brasileiro Pelé (à esquerda) e com o alemão Franz Beckenbauer. Nasceu numa família pobre, em 1942, e cresceu em Maputo, quando a cidade ainda se chamava Lourenço Marques, sob o domínio colonial português. Aos 17 anos começou a jogar no Sporting de Lourenço Marques.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Benfica, o clube do coração
Quando se mudou para Portugal em 1960, Eusébio não começou a jogar, tal como se esperava, pelo Sporting de Lisboa, o clube-mãe do Sporting de Lourenço Marques. Eusébio integrou, precisamente, a equipa rival, o Sport Lisboa e Benfica. A operação da contratação foi mantida em segredo. Anos depois do fim da sua carreira enquanto jogador, Eusébio continuou ativo como conselheiro do clube.
Foto: picture-alliance/dpa
No topo da Europa
Eusébio colocou o Benfica no topo do futebol europeu. A equipa chegou várias vezes à final da Taça dos Clubes Campeões Europeus, o precursor da Liga dos Campeões. Em 1962, o Benfica de Eusébio chegou mesmo a vencer o troféu. Porém, na final da Taça dos Clubes Campeões Europeus, em 1968, no Estádio de Wembley (foto), o Benfica perdeu frente ao Manchester United por 1:4, já no prolongamento.
Foto: picture-alliance/dpa
Mundial de 1966: O maior sucesso português
Pode dizer-se que foi graças a Eusébio que Portugal chegou em 1966 ao terceiro lugar do Campeonato Mundial de Futebol, o melhor resultado de sempre da seleção das quinas na competição. Esta foi também a primeira participação de Portugal no Mundial. O país falhou a final, ao perder nas meias-finais - na foto - por 2:1 contra a Inglaterra, a 26 de julho de 1966, no Estádio de Wembley, em Londres.
Foto: picture-alliance/dpa
Brasil e Pelé no chão
No Mundial de 1966: O brasileiro Pelé está ferido no chão e Eusébio procura reconfortá-lo. Neste jogo, Portugal venceu o Brasil por 3:1, com dois golos de Eusébio, afastando a equipa sul-americana na fase de grupos. A partida, disputada no estádio Goodison Park, em Liverpool, levou Portugal a sair das eliminatórias como primeiro do grupo. Com nove golos, Eusébio foi o melhor jogador do campeonato.
Foto: picture-alliance/dpa
Quatro golos decisivos contra a Coreia do Norte
Eusébio tornou-se uma lenda viva em 1966. A 23 de julho, Portugal jogava contra a Coreia do Norte e perdia por 3:0. Mas quatro golos do "Pantera Negra", como também ficou conhecido, inverteram o sentido do jogo. Portugal derrotou a equipa asiática por 5:3 e apurou-se para a semifinal. Na foto, Eusébio bate o guarda-redes norte-coreano Lee Chang-myung.
Foto: picture-alliance/dpa
Lesões
Na foto, durante o jogo contra a Hungria, a 13 de julho de 1966, em Manchester, Eusébio é atingido na cabeça. Porém, Portugal acabou por ganhar por 3:1. Ao longo da carreira, Eusébio sofreu vários problemas, especialmente depois de deixar o Benfica, em 1975, e jogou para clubes mais pequenos em Portugal e, mais tarde, no Canadá, Estados Unidos e México. Muitas vezes, estava fora de forma.
Foto: picture-alliance / United Archives/TopFoto
Bota de Ouro
Eusébio (esquerda) recebe a "Bota de Ouro", a 16 de setembro de 1968, como melhor jogador da Europa. O húngaro Antal Dunai recebeu a de prata. No total, Eusébio marcou 1137 golos durante a sua carreira profissional. A sua reputação é conotada, provavelmente, com menos elegância do que a de Pelé ou Beckenbauer, mas Eusébio é hoje considerado o melhor jogador de Portugal de todos os tempos.
Foto: picture-alliance/dpa
Embaixador de Portugal
Eusébio com o ex-técnico da seleção alemã, Jürgen Klinsmann, no Campeonato da Europa de 2004, em Portugal. Depois da carreira de jogador, Eusébio trabalhou quase sempre ao serviço do futebol português. O antigo jogador acompanhava a equipa portuguesa como assistente técnico. Apesar da fama generalizada, os companheiros descrevem-no como uma pessoa humilde e com os pés no chão.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Despedida no Estádio da Luz
A poucos dias de completar 72 anos, Eusébio morreu de madrugada, a 5 de janeiro de 2014, vítima de insuficiência cardíaca. A estátua de bronze que eterniza o antigo jogador à porta do Estádio da Luz, em Lisboa, e que foi descerrada há quase 22 anos, é o palco privilegiado de todas as homenagens ao avançado que inscreveu o seu nome na lista dos melhores futebolistas de sempre.