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SociedadeÁfrica do Sul

"Primeiro é uma bofetada, depois passam a ser mais"

Milton Maluleque (Joanesburgo)
31 de julho de 2020

Esta sexta-feira (31.07) assinala-se o Dia da Mulher Africana. Mas não há razão para celebrar. Com a Covid-19, aumentaram os casos de violência doméstica. Na África do Sul, uma mulher é morta a cada três horas.

Protesto na Cidade do Cabo a denunciar a violência contra as mulheresFoto: Privat

A pandemia da Covid-19 colocou a mulher africana numa situação de vulnerabilidade. Na África do Sul, o país mais afetado pela pandemia no continente, aumentou o número de mulheres abusadas sexualmente ou mortas nas ruas com o relaxamento das medidas de prevenção. Só nas últimas semanas, mais de 20 mulheres e crianças foram brutalmente assassinadas. No país, uma mulher é morta a cada três horas, de acordo com dados oficiais.

Jovem protesta no Soweto a pedir o fim dos abusos contra as mulheresFoto: DW/M. Maluleque

Antes do relaxamento das medidas, durante o confinamento, muitas mulheres foram também vítimas de violência doméstica - 51% das mulheres na África do Sul já foram agredidas pelos parceiros, segundo estatísticas apresentadas recentemente pelo Presidente Cyril Ramaphosa.

Em entrevista à DW, uma imigrante moçambicana na África do Sul detalha o seu martírio, sob condição de anonimato: "Primeiro é só uma bofetada e está tudo bem, ele estava nervoso. No dia seguinte, ele volta ao normal, pede desculpas e as coisas ficam bem. Mas, depois de um tempo, não é só uma, passaram a ser mais."

No ano passado, a polícia sul-africana registou mais de 87 mil denúncias de violência contra mulheres. Mas muitos outros casos ficam por denunciar.

"Como é que irás à polícia para denunciar o homem com quem vives? O pai dos seus filhos? É como se estivesses a tirar o pai aos teus filhos e a entregá-lo à polícia… É muito difícil."

Ajuda para vítimas de violência

Lourena do Rosário: "O objetivo é mesmo ter uma plataforma, um local seguro"Foto: Privat

O projeto "Nipfune Daughters" é uma plataforma de mulheres de expressão portuguesa na África do Sul, que junta angolanas, brasileiras, moçambicanas e portuguesas e ajuda as vítimas de violência.

A plataforma está baseada na Cidade do Cabo e, durante a pandemia da Covid-19, tem organizado workshops e debates semanais nas redes sociais.

"O objetivo é mesmo ter uma plataforma, um local seguro, um espaço aberto em que as mulheres podem trocar experiências e possam encontrar a ajuda que precisam em vários campos das suas vidas", explica a fundadora, Lourena do Rosário.

As "Nipfune Daughters" contam com mais de 2 mil membros. A plataforma ajuda também mulheres que não têm acesso à Internet, empoderando-as e mostrando que "é possível abrir a mente para que elas realmente possam se tornar financeiramente independentes."

No mês passado, o Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, afirmou que a violência contra mulheres é uma "praga" no país, que tem de ser eliminada. E a justiça também tem aí um papel importante a desempenhar, responsabilizando os criminosos, referiu Ramaphosa.

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