Violência continua na República Democrática do Congo
Eddy Micah Jr. | Eric Topona | nn | AFP | Lusa
21 de abril de 2017
A ONU anunciou que foram encontradas 17 novas valas comuns nas províncias congolesas de Kasai Central e Oriental, onde ocorrem confrontos com a milícia Kamuina Nsapu. A Angola chegam cada vez mais refugiados da RDC.
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Já são 40 as jazidas descobertas desde agosto na RDC. "A descoberta de mais valas comuns e relatórios denunciando violações e abusos de direitos humanos mostram o horror que ocorreu em Kasai nos últimos nove meses", disse o Alto Comissário para Direitos Humanos, Zeid Ra'ad Hussein.
O comissário já endereçou um pedido ao Governo congolês "para garantir uma investigação imediata, transparente e independente", anunciou Stephan Dujarric, porta-voz das Organização das Nações Unidas (ONU).
O gatilho dos combates em Kasai foi a morte do chefe tribal Jean Pierre Mpandi, pelas forças de segurança do Governo, o que deu início a uma revolta contra o Presidente Joseph Kabila.
Violência continua na República Democrática do Congo
"Os nossos especialistas no local já receberam informações sobre atos de violência e violações de duas mulheres e três meninas por soldados congoleses em Kananga. Os membros das forças de segurança também prenderam 27 pessoas", revelou Elizabeth Throssell, porta-voz do Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos.
Segundo Elizabeth Throssell, a milícias de Kamuina Nsapu recrutaram centenas de crianças-soldado e destruíram várias instituições públicas, como hospitais, escolas, postos de polícia e igrejas. O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos exige "livre acesso às valas comuns e às testemunhas que foram presas".
Refugiados em Angola
Os confrontos em curso entre as forças de segurança e as milícias locais provocaram mais de 400 mortos, incluindo o assassinato de dois trabalhadores das Nações Unidas. A contenda também já provocou 200 mil deslocados.
A Angola não param de chegar refugiados congoleses que fogem do conflito interno. Procuram sobretudo abrigo na província da Lunda-Norte, onde esta semana quase 12 mil pessoas já pernoitam no Centro de Acolhimento de Mussungue.
O comandante-geral da Polícia Nacional angolana, o comissário Ambrósio de Lemos, ordenou ações dereforço do patrulhamento na fronteira com a RDC, para evitar a penetração de grupos armados.
Através da MONUSCO, a ONU tem 15 mil soldados na RDC. Um orçamento anual de mais de mil milhões de dólares alimenta esta missão de paz, tornando-a a mais cara de sempre em África.
Ainda assim, a violência no país parece estar a subir de tom, ainda que a ONU esteja a pressionar o Presidente Joseph Kabila a partilhar poder com a oposição, depois do fim legal do seu mandato enquanto chefe de Estado.
Kivu do Norte: província controlada por milícias
Cerca de 40 milícias estão ativas no Kivu do Norte e do Sul. Aproximadamente duas milhões de pessoas já foram deslocadas e muitas aldeias destruídas na RDC. O projeto online "Local Voices" dá voz às vítimas do conflito.
Foto: Alexis Bouvy
Histórias de terror cotidiano: as milícias da RDC
Cerca de 40 milícias estão ativas nas duas províncias Kivu do Norte e Kivu do Sul no leste da República Democrática do Congo (RDC). Aproximadamente duas milhões de pessoas já foram deslocadas e muitas aldeias destruídas. O projeto online "Local Voices" dá voz às vítimas do conflito. O projeto pode ser conhecido no www.localvoicesproject.com.
Foto: Alexis Bouvy
Em nome de Deus
O auto-denominado General Janvier tem uma longa história de violência e crimes. "É a vontade de Deus", diz Janvier segurando uma Bíblia. Ele comanda uma milícia denominada Aliança de Patriotas por um Congo Livre e Soberano (APCLS). Há oito anos, ele construiu o seu quartel-general próximo a vila de Lukweti, uma colina que é desde então conhecida como Monte Sinai.
Foto: Alexis Bouvy
Buscando um sentido para a vida
O general ordenou um ataque e "Fidel Castro", como o integrante da milícia chama a si mesmo, prepara-se para lutar contra um inimigo, sob o comando de Ntabu Cheka. Para ele, isto é trabalho. A pobreza faz parte de Lukweti. A maioria dos jovens não sabe ler nem escrever. Alguns dizem: "a milícia dá sentido à minha vida".
Foto: Alexis Bouvy
Saíram para matar
Os combatentes avançam em direção a localidade de Pinga através da ponte da vila. Lá, eles vão matar os homens de Ntabu Cheka e talvez alguns civis. Eles não gostam de falar sobre estas coisas. A cidade de Pinga tem sido palco de vários combates entre as milícias ao longo dos anos. Muitos morreram e milhares fugiram.
Foto: Alexis Bouvy
Amizade com milicianos
Tanto civis como membros de milícias gostam de jogar futebol. Apesar da disparidade entre eles - uns levam armas enquanto outros são desarmados - as amizades se desenvolvem entre os habitantes da vila Lukweti e os rebeldes do APCLS. Alguns pertencem às mesmas famílias.
Foto: Alexis Bouvy
Solidariedade ou pragmatismo?
O conselho da aldeia, conhecido como "O Barza" toma todas as decisões importantes em Lukweti. Falando sobre a co-existencia entre a comunidade e a milícia APCLS, Mzee Massomo, só tem elogios. "Eles nos protegem de outras milícias que nos maltratariam. Nós lhes damos comida", diz. O APCLS, segundo Massomo, é mais disciplinado do que o exército oficial da República Democrática do Congo.
Foto: Alexis Bouvy
Ser uma mulher na milícia
Kahindo, de 22 anos, descansa em uma cabana ao lado da farinha de mandioca. O trabalho de Kahindo, a exemplo da tarefa de várias outras mulheres no APCLS, é coletar comida. Ela participa da colheita feita pelos agricultores, que já são bastante pobres. Muitos aceitam essa situação.
Foto: Alexis Bouvy
O dilema das mulheres
"Eu não quero me casar com um miliciano", diz a moradora de Lukweti, Neema Riziki, de 16 anos. "Muitas mulheres gostariam de se casar com um combatente porque eles supostamente tratam bem suas mulheres. Mas algumas das minhas amigas ficaram viúvas poucos dias após o casamento. Algumas delas tem que vender seus corpos para sobreviver."
Foto: Alexis Bouvy
Drogas para os combatentes
Mama Soleil (no centro) cultiva cannabis em frente às ruínas de uma fábrica do período colonial, na aldeia vizinha de Nyabiondo. Ela é uma mulher popular. Os seus clientes são milicianos e soldados. Atrás do muro, as tropas de paz da ONU instalaram o seu acampamento.
Foto: Alexis Bouvy
Não há desenvolvimento sem estradas
Este agricultor passa dificuldades nas vias da região. Leva mais de quatro horas para fazer o trajeto de Lukweti à cidade vizinha de Nyabiondo, onde quer vender seu liquor de banana no mercado. A maioria das pessoas em Lukweti vive da produção de banana.
Foto: Alexis Bouvy
A cooperação entre a polícia e as milícias
Na cabana, um líder de milícia tem um encontro com o chefe da Polícia de Nyabiondo. Uma pessoa de fora da localidade dificilmente saberia dizer quem é o miliciano e quem é o policial.
Foto: Alexis Bouvy
Com a ajuda de Deus
O pastor protestante de Lukweti reza fervorosamente com a congregação nos cultos de domingo. Devido à constante insegurança e ao medo do terror cotidiano, a comunidade encontra consolo e esperança na sua fé.
Foto: Alexis Bouvy
A esperança de paz
Os jovens que estão a dançar são da Aliança pela Paz. Eles cantam "acabem com a violencia!" Trata-se de uma atitude bastante corajosa porque as milícias estão a promover o ódio entre as etnias e jovens frequentemente têm se voltado uns contra os outros. Os jovens cantando pertencem a diferentes grupos e são prova que a coexistência pacífica é possível no leste da República Democrática do Congo.