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Violência e denúncias na reta final das eleições no Quénia

Aarni Kuoppamäki | Andrew Wasike | Kathryn Omwandho
3 de agosto de 2017

Ação do grupo extremista Al-Shabab, o assassinato de membro da Comissão Eleitoral e denúncias de manipulação lançam dúvidas sobre o processo eleitoral, que é acompanhado por uma missão de observadores da União Europeia.

Wahlen in Kenia 2017 - Wahlregistrierung
Foto de arquivo: eleitores registam-se para votar nas eleiçõesFoto: Getty Images/AFP/T. Karumba

A poucos dias das eleições gerais no Quénia, a situação continua tensa. O grupo extremista somali Al-Shabab assumiu, esta quinta-feira (03/ 08), a autoria de um ataque contra uma delegacia de polícia na província de Mandera, perto da fronteira com a Somália.

A ação resultou na morte de um polícia queniano. Esta quarta-feira (02/08), três pessoas morreram noutro ataque no sul do país. A suspeita é de que o grupo somali também seja responsável pelo atentado. Desde março, o Al-Shabab ameaça tumultuar as eleições gerais quenianas, marcadas para 08 de agosto. Além das ameaças do grupo, o assassinato de um alto funcionário da Comissão Eleitoral, torturado e estrangulado, aumentou a tensão no país.

Recentemente, um auditor independente afirmou que os cadernos eleitorais poderão incluir cerca de um milhão de eleitores que já morreram. A oposição denuncia a impressão de boletins de voto em excesso. E o Governo critica a oposição pela criação do seu próprio centro de contagem de votos e a possibilidade de anunciar os resultados das eleições antes das autoridades, levando à divisão do país.

Missão da UE e ameaças às eleições

Marietje Schaake lidera equipa de observadores da UEFoto: B. Belloni

O processo eleitoral no Quénia é acompanhado por uma equipa de observadores da União Europeia (UE), que conta com 15 membros em vários pontos do país. A deputada europeia Marietje Schaake, líder da delegação, afirma, em entrevista à DW, que a equipa está a analisar todos os detalhes e denúncias. "Mas olhamos para todos estes casos com uma visão crítica para perceber se são válidos ou não", declara a deputada. Marietje Schaake classifica o assassinato do responsável pelas tecnologias de informação da Comissão Eleitoral, Christopher Msando, como preocupante.

O analista de segurança, George Musamali, diz que a morte de Msando surge num momento crítico. E lembra que, recentemente, a casa do vice-Presidente William Ruto foi atacada, por motivos políticos, por um homem armado que feriu um segurança e matou um polícia antes de ser abatido pelas autoridades. "Esperamos que haja planos de contingência para garantir umas eleições pacíficas, depois destes incidentes. A população tem medo da violência e já há quem esteja a sair de algumas partes do país", afirma o analista.

O receio de parte da população é de que se repita o cenário após as eleições de 2007, quando confrontos violentos levaram à morte de mais de mil pessoas. O que motivou a onda de violência há cerca de dez anos foram dúvidas  em torno da credibilidade da reeleição de Mwai Kibaki, que venceu, por pequena margem, o opositor Raila Odinga. E nestas eleições já se levantam questões semelhantes.

Acusações entre o Governo e oposição

Uhuru Kenyatta é o Presidente do QuéniaFoto: picture-alliance/dpa/S. Minkoff

O Presidente Uhuru Kenyatta, que se candidata a um terceiro mandato, acusa o principal líder da oposição, o ex-primeiro-ministro Raila Odinga, de pretender sabotar o pleito. Por sua vez, a oposição diz que o Governo quer usar as agências de segurança do Estado para manipular o voto.

Perante a troca de acusações, a chefe da missão de observação eleitoral da UE afirma que já pediu aos candidatos que assumam explicitamente, antes do ato eleitoral, um compromisso com os procedimentos que se seguem à votação, caso haja qualquer motivo para contestar os resultados. 

A missão dos observadores europeus deverá divulgar nos próximos dias uma declaração preliminar sobre as eleições. Mas Marietje Schaake lança já um alerta: "As pessoas estão a fazer campanha para ganhar, mas é importante que estejam preparadas para perder e felicitar os seus opositores." 

Marietje Schaake reconhece que "as campanhas podem aquecer, mas é importante haver liderança e gestão das expetativas por parte dos candidatos para garantir que as pessoas possam votar numas eleições pacíficas, credíveis e transparentes."

Violência e denúncias na reta final das eleições no Quénia

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Policiamento nas ruas

As eleições deste ano vão contar com cerca de 180 mil polícias, espalhados pelo país. Mas a presença policial não é bem vista por todos. Jane Nyaboke Omete – uma sobrevivente da violência pós-eleitoral de 2007 – diz, justamente, temer a polícia. "Durante as eleições de 2007, no dia em que o meu marido foi morto, homens fardados vieram a minha casa e atacaram-me. Não confio na polícia", diz  a moradora de Kibera, o maior bairro de lata do Quénia.

O bairro, com cerca de 200 mil habitantes, é dividido em diferentes zonas, dominadas por diferentes grupos étnicos. Estas divisões tornam-se mais evidentes durante as eleições. Ainda assim, Jane Nyaboke Omete afirma que Kibera é um porto seguro para si e para os seus cinco filhos.

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