Violência em Abyei gera temores de guerra civil no Sudão
23 de maio de 2011Desde 2005, altura em que o acordo de paz pôs fim a mais de duas décadas de guerra civil, que o enclave de Abyei é um foco de tensão entre os sudaneses do norte, sobretudo árabes e muçulmanos, e os do sul, negros e cristãos. Esta região está no centro de uma luta pelo acesso à água, mas também tem sido palco de rivalidades tribais históricas.
O enclave estava a ser palco de uma violência crescente desde o referendo realizado em janeiro sobre a independência do Sul do Sudão, que deverá tornar-se um Estado autónomo a 9 de julho. Violência que se agudizou este fim de semana.
"Abyei é uma anomalia"
O investigador britânico Douglas Johnson explica as razões do conflito. "Abyei é uma anomalia, isto porque há um largo grupo de sudaneses do Sul, os Ngkok Dinka, que lá vivem e viveram durante séculos. Contudo Abyei não é uma zona que faça parte administrativa do Sul do Sudão." E prossegue: "Esta região foi parte da guerra por duas razões. Uma é a área que os Ngok Dinka ocupam e que tem reservas de água de importância vital, que tanto eles, como os criadores de gado e os árabes de Misserya usam. Mas, também é a zona onde a maioria dos poços de petróleo ativos fora do sul do Sudão estão localizados”.
Regressar ao acordo de paz é única saída contra guerra civil, diz investigador
Violando os acordos de paz em vigor, as tropas de Cartum leais ao presidente Omar al-Bashir invadiram Abyei. Uma ação bélica que o Sul do Sudão classifica como “ato de guerra” e que levou à fuga de milhares de pessoas. As agências noticiosas internacionais relatam que a cidade de Abyei estaria a ser dizimada esta segunda-feira (23/5) por incêndios e pilhagens.
As Nações Unidas, a União Europeia e os Estados Unidos condenaram esta intervenção militar do norte do Sudão e apelaram a Cartum para que lhe ponha fim e para que regresse aos termos do acordo de paz de 2005.
Quatro meses após o referendo que decidiu a independência do Sul do Sudão, Juba e Cartum ainda não conseguiram avançar na organização de um referendo no enclave de Abyei, em parte porque não conseguem chegar a acordo sobre quem terá o direito a votar. Douglas Johnson recorda que "a solução que foi proposta no acordo de paz era criar uma administração na zona, prevendo uma divisão das receitas provenientes dos poços de petróleo, uma garantia de que os direitos de pastorícia não seriam afectados e que teria um lugar um referendo que permitiria aos habitantes decidir se querem pertencer ao sul ou ao norte do Sudão. Tudo pode ser resolvido com a aplicação dos acordos que já foram assinados, assim como com a aplicação da lei do referendo que foi assinada pelo presidente Bashir", explica Johnson.
Autor: Helena de Gouveia
Revisão: Renate Krieger