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Visita de Biden a Angola é "vitória diplomática"

António Cascais
25 de setembro de 2024

É oficial: O Presidente dos EUA, Joe Biden, visita Angola, de 13 a 15 de outubro. O que se pode esperar da visita?

Presidente angolano, João Lourenço, e homólogo norte-americano, Joe Biden, durante visita de Lourenço à Casa Branca, em novembro de 2023
Presidente angolano, João Lourenço, e homólogo norte-americano, Joe BidenFoto: Yuri Gripas/ABACAPRESS/picture alliance

Joe Biden vai a Angola para reforçar parcerias económicas e assinalar a criação da primeira rede ferroviária transcontinental de acesso livre em África, anunciou a Casa Branca.

Observadores angolanos encaram esta primeira visita de um chefe de Estado norte-americano a Angola como uma vitória diplomática do Presidente angolano, João Lourenço, que tem apostado numa trajetória de aproximação aos Estados Unidos.

Em entrevista à DW África, o analista político angolano Cláudio Silva lembra que o país acolherá, em 2025, a Cimeira de Negócios Estados Unidos-África, consolidando assim o seu peso diplomático internacional e, sobretudo, regional.

Cláudio Silva recorda ainda que João Lourenço decidiu cancelar a viagem a Pequim onde devia participar no Fórum de Cooperação China - África (FOCAC), que decorreu entre 4 e 7 de setembro, o que terá deixado os chineses furiosos.

"Mesmo assim, Angola continuará a relacionar-se com as várias potências mundiais, por mais diferentes que sejam, sejam elas os Estados Unidos, a China ou a Rússia", afirma ainda Cláudio Silva.

DW África: Como foi possível esta "vitória diplomática" do Presidente João Lourenço, se é que esta visita de Biden a Angola pode ser considerada uma "vitória diplomática"?

Cláudio Silva (CS): Esta é, sem dúvida, uma vitória diplomática para João Lourenço, porque desde o princípio do seu mandato, em 2017, um dos principais objetivos do novo Presidente foi estreitar as relações com os Estados Unidos. O Presidente João Lourenço tem feito isso de forma sistemática e consistente.

Até então, o ponto mais alto desta estratégia do Presidente foi a sua visita à Casa Branca. Na altura, o Presidente Joe Biden prometeu visitar Angola antes do fim do mandato. Está agora a cumprir essa promessa.

DW África: Qual a importância de Angola para os interesses estratégicos dos EUA?

CS: Angola é estratégica para os interesses geopolíticos, tanto da China como da Rússia e dos Estados Unidos. Vemos também uma movimentação da Turquia e de outras potências mundiais, mas é a relação com os Estados Unidos que João Lourenço mais quer aprofundar e que mais aprofundou durante estes seus dois mandatos.

DW África: Portanto, este é um sinal de aproximação de Angola a Washington? No próximo ano, a Cimeira de Negócios Estados Unidos-África também será realizada em Angola.

CS: Exatamente, e talvez o investimento mais importante dos Estados Unidos aqui em Angola nas últimas décadas tenha sido no Corredor do Lobito. Biden fez questão de salientar isso no seu discurso do Estado da Nação.

O Governo norte-americano vê a aproximação a Angola como um trunfo para contrariar a crescente e sólida influência da China no continente africano.

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DW África: Mas será que a China vê com bons olhos esta aproximação de Luanda a Washington?

CS: Angola é o país africano que mais dinheiro deve à China e a nossa reconstrução em Angola teve como principal interlocutor a China. A aproximação constante dos Estados Unidos, o facto de fazerem aqui a cimeira em 2025, é o coroar de uma estratégia que tem contado com o apoio incondicional de João Lourenço.

O Presidente da República, por exemplo, não foi à última cimeira China-África, enviou em sua representação o ministro dos Negócios Estrangeiros. E muitos analistas interpretaram isso como uma espécie de 'snobismo' em relação ao Governo chinês.

DW África: Portanto, Angola poderá estar com um certo grau de desconfiança em relação à China? Mas esta postura será inteligente a longo prazo por parte de Angola? Será que os Estados Unidos têm capacidade de concorrer com a China no que diz respeito às infraestruturas que mencionou?

CS: É verdade, tanto os Estados Unidos como a União Europeia estão numa posição muito fragilizada no continente africano. E a China tem tido uma trajetória ascendente nas últimas duas décadas.

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É óbvio que o Governo angolano nunca conseguirá atrair o tipo de empréstimos bilionários que atraiu da China. E imagino que, durante a sua visita aqui a Angola, o Presidente Joe Biden terá algumas coisas a dizer relativamente aos Direitos Humanos e à consolidação da democracia, temas de que o país adora falar apesar das contradições na sua política externa. Mas agora a prioridade dos Estados Unidos é atrair mais aliados no continente africano.

Angola tem sido um desses principais aliados e tem mostrado vontade não necessariamente de romper com a China, mas de 'piscar o olho' seriamente aos Estados Unidos. Se isso é inteligente ou não, eu acho que Angola, ao longo da sua história, sempre conseguiu navegar nestas aparentes contradições com alguma mestria.

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