Visita de Xi Jinping expôs divisões na Europa?
11 de maio de 2024O Presidente chinês concluiu na sexta-feira (10.05) uma visita à Europa. Trata-se da primeira visita de Xi Jinping à região desde 2019 e surge numa altura em que países europeus dizem estar preocupados com o apoio chinês à guerra da Rússia na Ucrânia e em que os mercados europeus estão a ser inundados com veículos elétricos chineses baratos.
A viagem surge ainda também no meio de suspeitas crescentes de que a China está a tentar tirar partido das divisões na Europa. Analistas ouvidos pela DW dizem que que o itinerário de Xi não foi uma coincidência.
Bertram Lang, analista especializado em política externa da China, disse que os países pelos quais Xi passou - França, Sérvia e Hungria – têm todos "relações bilaterais especiais" com Pequim.
Lang acrescentou que os dirigentes chineses têm vindo a dividir gradualmente a Europa em dois grupos, "os que são amigos e os que não são amigos da China". O objetivo desta viagem é dar ênfase às relações com os primeiros.
Xi começou a sua viagem em França, onde a sua visita de Estado de dois dias e as conversações com o Presidente francês Emmanuel Macron incidiram sobre a guerra na Ucrânia e os desequilíbrios comerciais com a UE.
O Presidente chinês pediu ao chefe de Estado francês para que a guerra na Ucrânia não fosse usada para manchar a imagem de Pequim, considerando que tem desempenhado um "papel positivo" nas negociações de paz.
Jean-Philippe Beja, especialista em China, disse à DW que, durante as conversações, Xi ficou ciente de que a guerra da Rússia na Ucrânia "é uma questão de vida ou morte para a Europa" e que "este é um fator altamente negativo nas relações com a Europa".
Encontro com von der Leyen
Procurando demonstrar a unidade europeia, Macron convidou para o encontro a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
O Chanceler alemão Olaf Scholz, que concluiu recentemente uma visita à China, foi também convidado para se deslocar a Paris, mas não compareceu. No entanto, Scholz e Macron reuniram-se antes da visita de Xi, a 2 de maio, para discutir a política chinesa.
Em Paris, as declarações públicas de Ursula von der Leyen visaram diretamente aquilo a que chamou as "práticas de distorção do mercado" da China, com subsídios maciços às indústrias dos veículos elétricos e do aço.
A UE "não pode" continuar a aceitar avultadas subvenções chinesas, que causam concorrência desleal face a empresas europeias, vincando que os desequilíbrios comerciais "têm de ser resolvidos", disse a líder europeia, horas antes do encontro com os chefes de Estado.
Durante a reunião trilateral em Paris, von der Leyen disse a Xi que a Europa "não hesitará em tomar as decisões difíceis necessárias para proteger a sua economia e segurança".
Em entrevista à DW, Zsuzsa Anna Ferenczy, ex-conselheira política do Parlamento Europeu, diz que "estamos a assistir a uma convergência mais forte na UE entre os Estados-Membros" e a "uma Comissão que está bastante determinada" a nivelar as condições do comércio com a China.
A analista política considera ainda que a estratégia global da China é "minar a unidade da UE", ao mesmo tempo que aumenta a influência em cada um dos Estados-Membros.
A estratégia de Pequim consiste em contornar a UE e conceder aos Estados-Membros um acesso especial aos seus mercados, tentando "fazer com que estes países se sintam especiais por terem uma relação privilegiada com a China".
"O futuro não parece melhor para a UE-China após a visita de Xi Jinping", afirmou. "Existe um défice de confiança entre os dois parceiros".
Visita a países amigos
Situação diferente foram as viagens a Belgrado e Budapeste, países amigos de Pequim e que permanecem próximos de Moscovo.
Na Sérvia, candidata à União Europeia (UE), as duas nações assinaram um acordo para construir um "futuro partilhado".
Embora a Sérvia não seja um Estado-membro da UE, a visita de Xi a Belgrado projeta uma imagem do líder chinês "como uma figura-chave não só na UE, mas na vizinhança da UE", disse Ferenczy, que também é professor assistente na Universidade Nacional Dong Hwa de Taiwan.
Já na Hungria, a capital foi colocada sob alta segurança e os meios de comunicação social foram completamente mantidos afastados dos acontecimentos.
A visita de Xi ocorre também no momento em que a Hungria assume a presidência rotativa do Conselho Europeu, a 1 de julho. Neste sentido, Xi Jinping apelou à Hungria que desempenhe "um papel mais importante" no desenvolvimento da cooperação entre a China e o bloco comunitário.
Em declarações, esta sexta-feira, em Budapeste, o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán concordou com Xi Jinping intensificar a cooperação económica, energética e política, num passo importante para fortalecer a influência de Pequim na Europa Central e de Leste.
Durante uma conferência de imprensa conjunta, Orbán elogiou a "amizade contínua e ininterrupta" entre os dois países desde o início do seu mandato em 2010, e prometeu que a Hungria continuaria a acolher mais investimentos chineses.
Veículos elétricos na Hungria
Enquanto a UE se debate com a forma de lidar com os veículos elétricos chineses baratos que inundam o seu mercado, a Hungria está a posicionar-se como um centro de produção para as empresas chinesas de veículos elétricos.
Em dezembro de 2023, o fabricante chinês de veículos elétricos BYD anunciou a construção de uma fábrica de automóveis de passageiros em Szeged, na Hungria, perto da fronteira com a Sérvia.