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Vislumbre de paz na Ucrânia?

gcs | mjp | com agências
16 de março de 2022

Kiev e Moscovo terão alcançado avanços para um acordo de paz de 15 pontos, que contempla um cessar-fogo imediato e a retirada das tropas russas se Kiev se comprometer com a neutralidade, avança o Financial Times.

Foto: Bernat Armangue/AP Photo/picture alliance

Um plano de 15 pontos que garantirá um cessar-fogo e a retirada das tropas russas da Ucrânia. Este, segundo o jornal Financial Times, terá sido o resultado das negociações desta semana entre as delegações russa e ucraniana - que teria de se comprometer com a neutralidade neste cenário.

Citando três fontes envolvidas nas negociações, o jornal aponta que as delegações dos dois países discutiram este projeto de acordo na segunda-feira (14.03). As propostas envolveriam a Ucrânia desistir de aderir à NATO e de hospedar bases militares estrangeiras em troca de receber a proteção de países como os Estados Unidos, a Turquia e o Reino Unido.

Entretanto, o Financial Times ressalta que tanto essas garantias de proteção dos países ocidentais quanto o futuro estatuto dos territórios ucranianos ocupados pela Rússia desde 2014 são grandes obstáculos ao desenvolvimento das conversas.

Neutralidade de Kiev é a condição

Kiev reivindica que o modelo de neutralidade aceitável para o país deve ser ucraniano, em vez de inspirado por outros como os da Suécia e da Áustria - como pretende Moscovo - e exige garantias de segurança em caso de agressão.

O plano de 15 pontos prevê que a Ucrânia mantenha suas Forças Armadas, mas fique fora das alianças militares com outros países. De acordo com a mesma fonte, também garantiria direitos de proteção para a língua russa na Ucrânia, que é amplamente utilizada, embora o ucraniano seja a única língua oficial.

Zenlenscky recebeu uma ovação de pé no Congresso norte-americanoFoto: J. Scott Applewhite/dpa/AP/picture alliance

O plano também aborda questões humanitárias, segundo um conselheiro do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, citado pelo Financial Times e que reconhece que Kiev estaria disposta a abordar separadamente o estatuto da península da Crimeia e os territórios da região de Donbass, cuja independência foi reconhecida por Moscovo antes do início da invasão da Ucrânia, a 24 de fevereiro.

O acordo também contemplaria a retirada total das tropas russas do território ucraniano. Entretanto, a Rússia reafirmou esta quarta-feira que está disposta a aceitar uma cimeira entre o seu Presidente, Vladimir Putin, e Volodymyr Zelensky, se o objetivo for para alcançar um acordo e não para "reunir-se por reunir".

"Precisamos de vocês, agora"

Zelensky reconheceu na terça-feira que as posições nas negociações são agora "mais realistas", embora os detalhes das conversas ainda não sejam conhecidos. Esta quarta-feira, o Presidente ucraniano discursou por videoconferência no Congresso norte-americano e pediu mais ajuda aos Estados Unidos, três semanas depois do início da invasão russa. 

"Precisamos de vocês, agora", apelou, repetindo o seu pedido das últimas semanas: estabelecer uma zona de exclusão aérea, algo que a NATO recusa. "Este é o momento mais sombrio para o nosso país, para a Europa inteira. Peço-vos para fazer mais", insistiu.

Zelensky promete não baixar as armas até à vitória sobre as forças russas. Vastas extensões de território estão já sob controlo militar russo, sobretudo no sudeste do país. No entanto, o Exército ucraniano tem infligido fortes baixas nas forças russas. Isto, porque, segundo um relatório de informação britânico, Kiev tem sabido aproveitar o pouco espaço de manobra da Rússia. As tropas russas quase não têm saído das estradas ucranianas, e o Exército ucraniano destruiu uma série de pontes para travar o avanço dos invasores.

Prédio atingido por bombardeamento russo em KievFoto: K. Honcharov/DW

Até agora, Moscovo não conseguiu tomar nenhuma das grandes cidades ucranianas, apesar de bombardeamentos constantes, incluindo à capital, Kiev. Os analistas entendem que, para já, é improvável um ataque em larga escala para cercar a cidade.

"A liderança russa queria levar a cabo uma guerra-relâmpago e capturar o nosso país em três dias. Até prepararam um uniforme de cerimónia para comemorar a vitória, mas os seus planos saíram furados. Todos os ucranianos se ergueram, como um todo, para defender o seu país", disse recentemente o primeiro-ministro ucraniano, Denys Shmyhal.

Ataques continuam

O número de vítimas aumenta a cada dia que passa. Mais de 600 pessoas morreram e quase 5 milhões tiveram de deixar as suas casas e procurar refúgio em locais mais seguros. A maior parte foi acolhida em países vizinhos, sobretudo na Polónia.

Esta quarta-feira, os ataques russos contra civis ucranianos que fugiam de Mariupol, cidade cercada no sudeste da Ucrânia, causaram mortos e feridos, incluindo uma criança que ficou gravemente ferida, anunciou o Exército ucraniano. Uma caravana de civis que saía de Mariupol para Zaporíjia foi atingida por um lançador múltiplo de foguetes Grad.

Após uma série de falhas, devido à falta de um cessar-fogo russo-ucraniano, a evacuação de Mariupol acelerou, apesar de os habitantes carecerem de água e alimentos neste porto estratégico.

Em Haia, o Tribunal Internacional de Justiça exigiu esta tarde que a Rússia "suspenda imediatamente as operações militares" na Ucrânia.

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