Na província angolana de Bengo, os seropositivos queixam-se de discriminação por parte dos profissionais da saúde. Revelam também que a província não realiza testes de CD4 há mais de dois anos.
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Alguns pacientes infetados com o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV/SIDA), relatam que são obrigados a aguardar por muitas horas pelo atendimento no Centro de Aconselhamento e Testagem Voluntária de Caxito, a única unidade especializada da província do Bengo para o efeito.
Joana - nome fictício de uma paciente de 34 anos - em entrevista à DW África, disse que "a enfermeira chega a hora que ela quiser”. E à espera de atendimento contou: "Eu cheguei às 7:50, vivo distante [daqui], apanho três táxis para chegar nesse lugar”.
O Centro de Aconselhamento e Testagem Voluntária de Caxito, enfrenta igualmente a escassez de medicamentos.
Discriminação social
Para além dos problemas com o sistema de saúde, a discriminação social é outro problema que os partadores da doença no Bengo enfrentam.
José, outro seropositivo que também preferiu usar um nome fictício, relatou que "na rua as pessoas falam que o fulano tem isso [HIV]. Mesmo que você não tenha aquilo, só porque emagreceste um pouco já dizem que tem”.
Entende que esta discriminação provoca muita depressão nas pessoas vivendo com a doença "mesmo que seja possível viver até aos 30 ou 50 anos com a doença, a pessoa já não consegue por causa da irritação da rua”, lamentou.
Direção do Centro reconhece atrasos no atendimento
O responsável do Centro de Aconselhamento e Testagem Voluntária de Caxito, Daven Kungaquitila, reconheceu as reclamações dos utentes.
Sobre os atrasos do pessoal de saúde, Kungaquitila avançou que 100% do seu pessoal, reside na vizinha província de Luanda, que dista a mais de 100 Km, o que dificulta a sua chegada pontual.Em 2018, o Centro de Aconselhamento e Testagem Voluntária de Caxito deixou de fazer, o teste de CD4, para o monitoramento do vírus no organismo do paciente.
Entretanto, Daven Kungaquitila, indicou que "o problema não é da província. Até, inclusive, a diretora [provincial] veio e ligou diretamente ao diretor nacional", disse adicionando que o grande problema tem a haver com a falta de reagente.
No Bengo, os municípios do Dande, Nambuangongo, Dembos e Ambriz são os mais afetados pelo HIV/SIDA. Seis mortes foram registadas nos últimos 30 dias naquela província.
No Centro de Aconselhamento e Testagem Voluntária de Caxito são atendidos, mensalmente, mais de cem pacientes.
Perigos da ignorância: Os presidentes africanos e a negação da SIDA
Saber é poder. Por isso o lema do Dia Mundial da SIDA 2018 é "conhece o teu estado". Estar ciente da doença torna mais fácil combatê-la. Mas nem todos os presidentes africanos entenderam a ameaça que o vírus representa.
Foto: picture-alliance/dpa
Negação fatal
O ex-Presidente sul africano Thabo Mbeki (1999 - 2008) ficou para a história como o principal negacionista do HIV/SIDA. Contrariando a evidência científica, Mbeki insistiu que o HIV não causava SIDA e mandou que a doença fosse tratada com ervas. Analistas acreditam que isto custou a vida a 300.000 pessoas. Há quem exija que o ex-Presidente seja julgado por crimes contra a humanidade.
Foto: Getty Images/AFP/G. Khan
O Presidente curandeiro
Em 2007, o então Presidente da Gâmbia, Yayah Jammeh (1996 - 2017) obrigou pacientes da SIDA a submeter-se a uma cura que dizia ter pessoalmente desenvolvido. A cura consistia de uma mistura de ervas. Um número desconhecido de pessoas morreu. Jammeh, que dizia ter poderes místicos, é o primeiro Presidente africano a ser julgado por violação dos direitos de pessoas com HIV/SIDA.
Foto: picture alliance/AP Photo
Duche como prevenção
Outro Presidente famoso pelas suas declarações inconvencionais sobre o HIV/SIDA é Jacob Zuma da África do Sul (2009 - 2018). Durante o processo por violação de uma mulher HIV-positiva em 2006, Zuma disse que não correu perigo de contágio apesar de não ter usado preservativo, porque "tomou um duche a seguir".
Foto: Reuters/N. Bothma
Sem preservativo?
O Presidente do Uganda, Yoweri Museveni , também levou algum tempo a compreender a dimensão do problema. Ainda em 2004, numa conferência internacional na Tailândia dedicada ao combate da SIDA, Museveni minimizou a eficácia de preservativos alegando, entre outras coisas, que o seu uso contrariava algumas práticas sexuais africanas. Os seus comentários foram recebidos com risadas pela audiência.
Foto: picture-alliance/dpa/I. Langsdon
Um imposto para o tratamento
Algumas medidas tomadas por líderes africanos para combater a doença foram mal recebidas. Em 1999, o Presidente do Zimbabué, Robert Mugabe (1987-2017) introduziu um imposto destinado a apoiar os órfãos e pacientes do HIV/SIDA, que provocou protestos. O imposto ainda existe. Mugabe admitiu que membros da sua família foram afetados e chamou à infeção "um dos maiores desafios da nação".
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
Um grande exemplo
As possíveis consequências económicas, por exemplo, para o turismo, fizeram com que muitos líderes africanos mostrassem relutância em aceitar a dimensão da ameaça. Mas Kenneth Kaunda, o Presidente da Zâmbia (1964-1991), já em 1987 anunciou a morte de um filho com SIDA. Em 2002 foi o primeiro Presidente africano a fazer um teste de SIDA. Até hoje continua a lutar pela erradicação da doença.
Foto: picture-alliance/AP Photo/M. Mwape
Testes compulsórios
A luta contra a SIDA do sucessor de Kaunda, Edgar Lungu, também causou consternação. Lungu quis introduzir testes compulsórios na Zâmbia em 2016. Mas protestos no país e no exterior obrigaram-no a recuar. Sobretudo quando a Organização Mundial de Saúde criticou o propósito e deixou claro que esses testes só servem para aumentar o estigma do HIV/SIDA.
Foto: Imago/Xinhua
Por uma África sem HIV
Depois de abandonar o cargo de Presidente do Botswana, Festus Mogae (1998-2008) lançou a organização "Campeões por uma geração sem SIDA", à qual se juntaram numerosos ex-chefes de Estado e outras personalidades influentes. Juntos tentam pressionar governos e parceiros a investir mais na prevenção da SIDA.
Foto: picture-alliance/ dpa
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Para marcar o Dia Mundial de Luta Contra a SIDA, 1 de dezembro, a província disponibilizou 1.800 testes rápidos de HIV.