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PolíticaAlemanha

William Ruto: "O mundo está moldado em torno de interesses"

Fatou Ellika Muloshi | Eunice Wanjiru
16 de setembro de 2024

Em Berlim, o Presidente do Quénia assinou um acordo de migração com o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz. Em entrevista à DW, William Ruto destacou ainda os seus planos para criar empregos no seu país.

Oficiais dos Governos do Quénia e da Alemanha assinam acordos de cooperação em Berlim, a 13 de setembro
Os quenianos precisam de trabalho, enquanto os alemães precisam de trabalhadores: as autoridades de ambos os países esperam ajudar-se mutuamenteFoto: Maja Hitij/Getty Images

O Presidente queniano, William Ruto, deu uma entrevista à DW durante a sua visita de dois dias à Alemanha, onde assinou um acordo de trabalho e migração. O acordo permitirá que os trabalhadores qualificados do país da África Oriental vivam e trabalhem na Alemanha, ao mesmo tempo que facilitará o repatriamento de quenianos que não obtiveram os seus pedidos de asilo e, portanto, não têm o direito de permanecer na Alemanha.

DW: A Alemanha convidou-o como o primeiro líder de um país africano a ser parceiro no "Bürgerfest", o festival dos cidadãos. E o tema deste ano é, de facto, em suaíli — "Pamoja", que significa "mais fortes juntos". Como se sente em relação à sua presença aqui?

William Ruto: Bem, a humanidade enfrenta atualmente desafios que vão além dos países ou comunidades, e a natureza dos desafios que enfrentamos hoje é global e, por isso, é necessário, continuamente, que atuemos de forma consensual e juntos. É por isso que "Pamoja", juntos, nos dá energia, potencial e poder para enfrentar desafios globais quando nos unimos.

DW: Após o seu recente encontro com o Presidente Xi Jinping, da China, e as colaborações contínuas com outras nações europeias, como vê o equilíbrio do Quénia nas parcerias com a China e a Europa?

William Ruto: O mundo todo está moldado em torno de interesses. Não temos absolutamente nenhuma dificuldade em perseguir os nossos interesses no Ocidente e no Oriente. Portanto, quando os nossos interesses convergem, trabalhamos juntos. Tivemos um excelente encontro em Pequim, juntamente com os meus outros colegas africanos. Tive um ótimo encontro aqui na Alemanha com o meu homólogo alemão. Tive um excelente encontro com o Presidente Biden quando estive nos Estados Unidos e, como disse antes, é uma aldeia global. Os desafios que os países enfrentam, quer sejam no Ocidente ou no Oriente, são comuns. Portanto, é necessário haver colaboração entre todos os países para garantirmos que encontramos soluções para os desafios que enfrentamos.

Ruto e Scholz esperam que ambos os países beneficiem dos acordos bilateraisFoto: Liesa Johannssen/REUTERS

DW: China e Europa — qual acha que é o melhor parceiro para África neste momento?

William Ruto: Não creio que haja uma forma de medir quem é melhor do que o outro, porque, como disse antes, muitas pessoas tentam enquadrar-nos na questão de 'estamos virados para o Oriente ou para o Ocidente'. Estamos virados para a frente, porque é aí que está a oportunidade, é aí que estão os nossos interesses e, por isso, há coisas que podemos fazer com o Ocidente. Há coisas que podemos fazer com o Oriente. Há coisas em comum que podemos fazer tanto com o Oriente como com o Ocidente.

DW: Voltemos à questão da troca bilateral. Que benefícios trouxeram estas trocas até agora para o continente? Pode falar, especificamente, sobre o Quénia?

William Ruto: Um deles é o acordo que acabámos de assinar. Este acordo vai desbloquear 250.000 oportunidades de emprego para os jovens quenianos. Este é um acordo bilateral entre a Alemanha e o Quénia. É uma situação de ganho mútuo. Há um grande défice de mão-de-obra na Alemanha. Há um excesso de mão-de-obra no Quénia. Como beneficia o Quénia? Dando-lhes oportunidades aqui. E como se reduz o défice aqui? Aproveitando o Quénia.

DW: A população do Quénia está satisfeita com isto? Sabemos que acabou de assinar este acordo com Olaf Scholz, mas também lançou recentemente um projeto de resiliência climática para criar mais de 200.000 empregos para jovens. Como concilia isso com o facto de querer enviar esses mesmos trabalhadores qualificados para a Europa, mais especificamente para a Alemanha?

William Ruto: Para sua informação, estamos a injetar um milhão de jovens no mercado de trabalho todos os anos. E mesmo que tenhamos criado meio milhão de empregos no Quénia, ainda teríamos outro meio milhão que não tem essas oportunidades. É por isso que a oportunidade de criar empregos resilientes, como fiz na semana passada no Quénia, não tem qualquer contradição com o que estou a fazer na Alemanha. Temos um dividendo demográfico que temos de gerir. E precisamos de criar vias e oportunidades. Estamos a criar oportunidades no nosso programa habitacional, estamos a criar oportunidades no nosso mercado digital. Estamos a criar oportunidades na exportação de mão-de-obra — como o que estamos a fazer com a Alemanha. Portanto, estas são oportunidades diferentes que servem o mesmo propósito de garantir que damos aos nossos jovens no Quénia a oportunidade de trabalhar.

Nairóbi, capital do Quénia, tem sido invariavelmente palco de protestos de jovens contra a Presidência de RutoFoto: SIMON MAINA/AFP

DW: Voltando à questão da concessão de recursos. Já conhecemos a situação da dívida do Quénia. Devem cerca de 2 mil milhões de dólares ao FMI. Quão sustentável é a estrutura da dívida do Quénia, considerando que as suas estratégias anteriores, como o aumento de impostos, falharam [devido à] resistência pública?

William Ruto: A situação em torno da dívida não diz respeito apenas ao Quénia. Temos 26 países em África que enfrentam situações de dívida muito graves. Na verdade, muitas pessoas esperavam que o Quénia já tivesse entrado em incumprimento. Mas eu prometi-lhes que isso não aconteceria sob a minha liderança. É por isso que coloquei travões no endividamento. O que pedimos emprestado há quase 10 anos é o que estamos a pagar hoje (…). É por isso que eu disse que temos de procurar fontes alternativas. Estamos a trabalhar em fontes alternativas de aumento de receita. Algumas delas estão a dar frutos. A maioria delas estavam no projeto de lei de finanças que não foi aprovado. Mas estamos a trabalhar em como [nos] habituarmos a garantir que protegemos o nosso país do sofrimento da dívida e do incumprimento. E estamos a trabalhar com parceiros de desenvolvimento. Na verdade, ontem tive uma conversa com o Chanceler [Olaf] Scholz sobre o apoio de 90 milhões de dólares [cerca de 80 milhões de euros] para algumas das nossas intervenções, e outros 60 milhões de dólares [53,9 milhões de euros]. Portanto, também estamos a ir bilateralmente, país por país, [a discutir] como podemos trabalhar com fundos concessionais que ajudem a impulsionar o nosso desenvolvimento agora.

DW: Por último, o seu interesse na presidência da Comissão da União Africana: Como vê esta mudança na perspetiva africana, especialmente no que diz respeito ao Mecanismo de Revisão de Pares em África, encontrando soluções africanas para os desafios económicos e de governação de África — em vez de depender de instituições externas que podem minar a autonomia de África?

William Ruto: Os meus colegas da União Africana (UA) incumbiram-me de supervisionar a reforma das instituições da UA; torná-las adequadas ao propósito. Esta é uma das tarefas que quero realizar porque é importante. Já fiz as duas primeiras reuniões para garantir que alinhamos e reorientamos a União Africana para responder às questões que afetam o nosso continente hoje — questões de comércio intra-africano, questões de estabilidade no nosso continente, questões relacionadas com o crescimento da juventude, questões de garantir que usamos os nossos recursos para criar empregos em África, [questões de], em vez de exportarmos matérias-primas, garantir que comercializamos mais entre nós. Estas são questões críticas para África e para o desenvolvimento institucional, garantindo que a Comissão da UA é adequada ao propósito. Temos um mecanismo de responsabilização usando o Parlamento Pan-Africano, que hoje é disfuncional, e temos um Tribunal Africano que garante que fornece o mecanismo para interpretar o que estamos a fazer e gerir as nuances entre as diferentes instituições. Esse é o meu foco para garantir que temos uma UA adequada ao propósito e que serve o nosso continente, os nossos países e o nosso povo da melhor forma possível. E estou focado em alcançá-lo.

DW: Esperamos ver uma perspetiva positiva para o continente africano, Sr. Presidente. Muito obrigado pelo seu tempo.

William Ruto: Obrigado.

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