Futebol
13 de fevereiro de 2012 Um dia depois da vitória da Zâmbia contra a Costa do Marfim na final da Taça Africana das Nações, o CAN, milhares de cidadãos da capital zambiana de Lusaka enfrentaram o calor veranil do país sem litoral na África austral. A temperatura mínima no início desta segunda-feira (13.02), foi de 21ºC, o que parecia ser um prenúncio do calor com que a seleção dos "Chipolopolo" (balas de canhão de cobre) seria recebida no aeroporto da capital, horas depois.
No domingo (12.02), a Zâmbia venceu pela primeira vez o CAN, que este ano foi disputado simultaneamente no Gabão e na Guiné Equatorial. Depois de uma partida e de uma prolongação que terminaram em 0 a 0, os "Chipolopolo" bateram a Costa do Marfim nos pênaltis, por 8 a 7.
"Soubemos fazer as coisas com toda a simplicidade e hoje temos uma recompensa fantástica. Vamos permanecer tranquilos. Quando um selecionador tem jogadores que acreditam na equipa no seu todo e que cada um acredita no outro, então tudo pode funcionar bem e isso faz a diferença", avaliou o selecionador da Zâmbia, Hervé Bernard.
Vitória inédita e simbólica
Da capital da Zâmbia a outras grandes cidades do país e dos países vizinhos, intermináveis festas marcaram essas últimas 24 horas para assinalar a vitória inédita dos zambianos. A Zâmbia é o décimo quarto país a conquistar o CAN desde a criação do torneio, em 1957.
Os "Chipolopolo" sucedem ao Egito – país que, entre o recorde das sete vitórias no torneio africano, conseguiu ganhar as três últimas edições.
Além de vencer uma das equipes favoritas do torneio – a Costa do Marfim, que não vencia um título há 20 anos – a vitória no CAN significa muito para a Zâmbia, principalmente pelo facto de uma das sedes do campeonato ser o Gabão.
Não muito longe do estádio onde comemoraram a vitória no domingo (12.02), aconteceu em 1993 uma catástrofe aérea que matou toda a seleção zambiana de futebol. Segundo relato da agência noticiosa AFP, alguns dos torcedores que festejavam em Lusaka atribuíram ao espírito dos mortos naquela altura a vitória da Zâmbia na final do CAN 2012.
Em vez das lágrimas vertidas em 1993, no entanto, os torcedores dançavam e entoavam canções, apinhados nas ruas por onde passou a seleção campeã. Um deles, Robson Banda, disse à DW África o quanto estava feliz: "Não tenho palavras. Conseguimos! Fazia muito tempo que esperávamos por isso. Os garotos jogaram com todas as forças deles. Deus nos salvou! Aleluia, somos os vencedores!", festejou.
Kennedy Mweene, resistência à pressão
A torcedora Joyce Bwembya parabenizou os jogadores, em especial o guarda-redes Kennedy Mweene: "Estou muito animada, obrigada, Zâmbia! Parabéns, Zâmbia! Parabéns a Mweene! Obrigada, obrigada!", exultou.
Muitos torcedores consideraram Mweene o responsável pela vitória da Zâmbia. O guarda-redes, que atua no Free State Stars, da África do Sul, defendeu um pênalti e converteu outro na final. Durante o campeonato, Mweene chegou a dizer que não se intimidaria com estrelas como o marfinense Didier Drogba (que atua no inglês Chelsea).
Para Teddy Mulonga, ex-presidente da Associação de Futebol da Zâmbia (FAZ) e recentemente nomeado secretário interino de administração do Gabinete do Governo, a seleção zambiana de futebol posiciona-se agora como uma força a ser reconhecida no futebol africano: "Por muito tempo, chegamos à final, mas o prêmio máximo sempre nos escapava. Acho que foi o momento certo. E chegamos à vitória com uma equipe que trabalhou e jogou unida durante muito tempo", comemorou.
À agência France Presse, a torcedora Angela Chanda assimilou aquelas que, para ela, são duas euforias: a vitória do opositor Michael Sata na eleição presidencial de setembro de 2011 e o troféu do CAN. "Temos um novo governo e tudo começa a ir na direção certa", disse.
A próxima edição do CAN deverá ter lugar na África do Sul em 2013.
Autores: Kathy Sikombe (Lusaka) / António Rocha
Edição: Renate Krieger (com Afp)