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PolíticaZâmbia

Zâmbia nas urnas: "Uma eleição de tudo ou nada"

Kathy Short | Glory Mushinge | gcs | Lusa
12 de agosto de 2021

Zambianos escolhem novo Presidente e membros do Parlamento em ambiente de tensão. Depois da violência na campanha, o Governo mandou o Exército para as ruas. Opositores criticam atuação do Presidente Edgar Lungu.

Sambia Lusaka | Chawama Compound | Militär in der Stadt
Foto: Salim Dawood/AFP/Getty Images

A Zâmbia escolhe esta quinta-feira (12.08) um Presidente para os próximos cinco anos, num escrutínio de desfecho imprevisível entre os dois principais candidatos, o atual chefe de Estado, Edgar Lungu, e Hakainde Hichilema. As sondagens apontam para uma distância muito curta entre os dois principais candidatos, entre um total de 16 pretendentes à "State House", em Lusaca.

Os militares têm patrulhado as ruas depois de confrontos violentos entre apoiantes da Frente Patriótica, (PF, no poder), e da maior força da oposição, o Partido Unido para o Desenvolvimento Nacional (UPND). Duas pessoas morreram nos tumultos.

Segundo o presidente da Comissão Eleitoral, Essau Chulu, a segurança será garantida nestas eleições: "A comissão vai trabalhar com a polícia da Zâmbia durante o processo para assegurar que todos os atores políticos cumprem as disposições legais e haja justiça. Além disso, a comissão vai assegurar uma implementação rigorosa do código de conduta eleitoral. Quem violar esse código será sancionado adequadamente".

Edgar LunguFoto: Rogan Ward/REUTERS

Mas a presença dos militares nas ruas tem sido fortemente criticada pelos opositores do Presidente Edgar Lungu, que concorre a um novo mandato. A organização Amnistia Internacional diz num relatório que há uma deterioração dos direitos humanos na Zâmbia. Lungu é acusado de fechar órgãos de comunicação social e mandar deter as vozes críticas.

"Esta é uma eleição de tudo ou nada", diz Macdonald Chipenzi, especialista em governação. "O mais preocupante é que a segurança de atores políticos está em causa. É claro que houve episódios de violência, mas o que vemos é que a violência só é dirigida àqueles que se pensa estarem contra o partido no poder", considera.

Mulheres e jovens em dificuldades

Juliet Chibuta, diretora executiva de uma organização que luta pelos direitos das mulheres na Zâmbia, diz que, nas eleições deste ano, as candidatas estão em desvantagem. Todos os candidatos tiveram de financiar as suas próprias campanhas e "isto prejudicou sobretudo as candidatas, mulheres, porque a maior parte não tem dinheiro para fazer campanha na rádio ou na televisão, ou para mandar imprimir posters", afirma. "A Covid-19 também afetou a situação económica de muitas mulheres na política, que têm tido problemas nos seus negócios".

A taxa de desemprego na Zâmbia aumenta cada vez mais. No ano passado, 12,2% dos cidadãos no país estavam desempregados, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho. Patrick Zulu, um professor recém-licenciado, acredita que isto poderá custar votos à Frente Patriótica, no pode: "Quando este tipo de coisas acontece, os jovens culpam o governo. E pensam 'se tentarmos mudar o governo, talvez alguma coisa mude'", afirma.

Hakainde HichilemaFoto: Salim Dawood/AFP/Getty Images

Outro jovem, Phineas Chilinga, diz que o governo tem ignorado as pessoas com problemas económicos, sobretudo os mais novos. Mas acrescenta que o líder da oposição, Hakainde Hichilema, também não tem muito para oferecer. "Não vi nada feito por ele que possa convencer os zambianos. Mesmo que ele ganhe, não é perfeito, também comete erros", sublinha.

Economia é o principal campo de batalha

Mais de metade dos 17 milhões de zambianos vive abaixo do limiar de pobreza. Os preços da alimentação são hoje um terço mais caros do que há um ano. 

Na conclusão da campanha eleitoral, Hichilema apelou aos sete milhões de eleitores zambianos para "mudarem o Governo" para, assim, "saírem de uma economia que se afunda". "Merecem melhor, já sofreram o suficiente", afirmou. O candidato da oposição denuncia o acentuado aumento da dívida pública - 118,7% do PIB -, a corrupção e a escalada da inflação -- atualmente nos 22%. 

Já a campanha do chefe de Estado sublinhou o empenho em melhorar as infraestruturas do país e salvaguardar a riqueza mineira do segundo maior produtor africano de cobre. O Presidente Lungu reclama a modernização das infraestruturasda Zâmbia, com a construção de escolas, hospitais e autoestradas.

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