Apesar de se mostrar satisfeita com as novas medidas do Governo zambiano para alavancar o setor, a população sente-se impedida de desfrutar do turismo tal como os estrangeiros e pede políticas mais abrangentes.
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O Governo da Zâmbia reduziu o custo dos vistos de turismo em 50% para impulsionar o setor e quem chega ao país já não precisa de um teste negativo de Covid-19 se tiver a vacinação completa.
Muitos zambianos saúdam as medidas, mas alguns defendem políticas que facilitem o acesso a locais turísticos no país também para os nacionais. Argumentam que os estrangeiros conseguem apreciar a beleza da Zâmbia, mas os locais acabam muitas vezes por ficar de fora uma vez que os operadores turísticos cobram preços exorbitantes para alojamento e atividades turísticas.
Brian Sakala, empresário em Lusaka, conta que fica por vezes sobrecarregado com a azáfama da vida na capital. Mas, como para muitos outros zambianos, dias de descanso em locais mais turísticos do país, continuam a ser uma miragem.
"É muito insensato dar incentivos aos estrangeiros e deixar de fora o seu próprio povo. Deus abençoou-nos com todos esses recursos naturais para que possamos desfrutar, como zambianos mas os estrangeiros é que são o primeiros a ter esse privilégio", argumenta Brian Sakala.
Atração turística na Zâmbia
A Zâmbia possui um potencial turístico enorme e ainda inexplorado. Orgulha-se de acolher parte das Cataratas Vitória, uma das sete maravilhas naturais do mundo.
Zâmbia: Protegendo as Cataratas de Vitória
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Alguns empresários tiraram partido deste potencial construindo, por exemplo, alojamentos e parques e, na sua maioria, tendem a introduzir taxas de entrada nos locais perto das suas instalações.
Gift Kashibaya é residente em Livingstone, a capital turística da Zâmbia, e lamenta não conseguir aceder facilmente ao rio Zambeze.
"Para se poder ver as melhores partes do rio Zambeze, em Livingstone, é preciso passar por algumas pousadas e por vezes ir [à] fronteira do Zimbabué, onde se paga uma taxa. Lá é possível ver as Cataratas de forma agradável e mais de perto", lembra Kashibaya.
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Nacionais em desvantagem
Donald Chomba, operador turístico de viagens, admite que os nacionais estão em desvantagem. "É por isso que o nosso turismo local nunca chegará ao mercado", conclui.
"Não ficaria surpreendido se três quartos da população da Zâmbia nunca tivessem sequer visto as Cataratas Vitória ou tivessem ido ao lago Kariba. Esses alojamentos discriminam a população local ou os fazem pagar taxas, só para entrar nas instalações, penso que é errado", afirma Donald Chomba.
Por sua vez, Bwembya Kapapa, residente de Lusaka espera que o governo intervenha e sugere a redução para metade das tarifas de alojamento e outras atividades turísticas aos locais.
"As pousadas que cobram aos locais desencorajam as pessoas a verem o que também é delas. Estou certo de que o Ministro do Turismo vai agir para que mais incentivos possam ser dados aos zambianos, para que possamos também beneficiar. O país também irá beneficiar, com cobrança de receitas tanto a estrangeiros como a nacionais", diz Bwembya Kapapa.
A DW em Lusaka contactou proprietários do alojamento para perceber o porquê da cobrança dessas taxas, mas nenhum respondeu às questões.
Namíbia: Turismo com marca ecológica
Turismo de massa, conservação da natureza, lucros e compromisso social - é possível conjugar tudo isto com sucesso? A Namíbia é reconhecida internacionalmente pela sua gestão sustentável de recursos.
Foto: DW/S. Duckstein
Destino: Namíbia
Os desertos do Kalahari e do Namibe, a Costa Atlântica e as terras altas de Khomas, com uma vasta diversidade de ecossistemas e vida selvagem, atraem cerca de um milhão de turistas por ano à Namíbia, sobretudo de Angola e África do Sul. Entre os visitantes europeus, os alemães estão em primeiro. Depois das pescas e da mineração, o turismo é o terceiro setor mais importante da economia namibiana.
Foto: DW/S. Duckstein
Muitos animais, muitos turistas
A Namíbia foi um dos primeiros países a consagrar na sua Constituição a conservação e a proteção dos recursos naturais. A natureza é encarada como "capital" através do qual o país pode fomentar o seu desenvolvimento. A qualidade do turismo depende da saúde dos seus ecossistemas. Cerca de 15% do território é constituído por zonas de reserva natural, reservas de vida selvagem ou áreas de recreação.
Foto: DW/S. Duckstein
"Algo nunca visto"
Segundo o Ministério do Turismo, um indivíduo com um emprego no setor do turismo ganha o suficiente para sustentar uma família de cinco pessoas. Issy Karaerua, pai de seis filhos, confirma este facto. O guia turístico de Grootfontein mostra com paixão o seu país aos turistas. "Gosto de mostrar às pessoas algo que nunca viram antes", diz. O seu local favorito é o Namibe, onde diz ter o seu coração.
Foto: DW/S. Duckstein
Bons resultados
O Ministério do Turismo tem obrigação de proteger a biodiversidade, preservar o território e garantir que a população recebe parte das receitas provenientes de visitas de estrangeiros. Por isso, a situação financeira de muitas comunidades rurais tem melhorado. Em 2013, a organização de conservação ambiental WWF atribuiu-lhe o Prémio "Gift to Earth" pelos seus esforços na proteção do meio ambiente.
Foto: DW/S. Duckstein
Conhecer o deserto
O guia turístico Tommy Collard sobe a uma duna, escava na areia e retira um inseto que mostra aos visitantes: um escaravelho do Namibe. Nos últimos anos, levou gratuitamente com a sua "Living Desert Tour" dois mil estudantes ao deserto do Namibe. "Quando regressam, eles contam os pais que há aqui um tesouro", diz Collard. "Eu consigo ler o deserto como se fosse um jornal".
Foto: DW/S. Duckstein
Uma espécie em extinção
Atualmente, há apenas cerca de 10 mil chitas em África e na Ásia. É uma espécie ameaçada. A Namíbia tem a maior população de chitas a viver em estado selvagem, o que constitui um terço de todas as sobreviventes. A equipa do Cheetah Conservation Fund (CCF), em Otjiwarongo, dedica-se ao estudo e proteção destes animais e visa assegurar a sobrevivência da espécie.
Foto: DW/S. Duckstein
Proteger os animais
Brian Badger vive rodeado de felinos. O londrino, que geria zoológicos e criava leões no Uganda, é hoje responsável pela organização CCF. "A proteção da natureza deve ser abrangente. Deve incluir a natureza, os animais, as populações locais e áreas circundantes", afirma. Regularmente, a CCF organiza cursos para agricultores para tentar reduzir o risco de conflitos com animais selvagens.
Foto: DW/S. Duckstein
Acácia melífera: incómoda, mas com potencial
A acácia melífera, uma árvore baixa e robusta, cobre uma vasta área da savana da Namíbia. É um transtorno para animais e agricultores. Onde ganha raízes, nada mais cresce. No entanto, pode ser convertida em biocombustível e em aparas de madeira. A fábrica de cimento mais moderna de África, Ohorongo, utiliza madeira de acácia para gerar energia, o que torna a importação de carvão desnecessária.
Foto: DW/S. Duckstein
Wolwedans: privado, exclusivo, sustentável
As cabanas de Wolwedans ficam na Reserva Natural de NamibRand, que tem 200 mil hectares. É a maior reserva de propriedade privada da África Austral. "Devemos encontrar um equilíbrio entre as pessoas, o planeta e o lucro", diz o proprietário Stefan Brückner. Painéis solares geram eletricidade, restos alimentares são para compostagem e não há tomadas para aparelhos que consomem muita energia.
Foto: Stephan R. Brückner
Um parque para a comunidade
A terra é um bem valorizado na Namíbia. Segundo o Ministério do Ambiente, a população tem de receber uma parte dos lucros provenientes do turismo, caso contrário não se sabe se os visitantes estrangeiros seriam bem-vindos. As reservas naturais são geridas por equipas de conservação locais. A comunidade fica com 40% dos lucros.