Apesar das promessas, bairro de reassentamento de Olinda, em Inhassunge, continua sem energia. Mineradora chinesa diz que já cumpriu o acordado com o Governo. Eletricidade de Moçambique (EDM) alega falta de recursos.
Publicidade
Apesar das promessas, a energia elétrica ainda não chegou ao bairro de reassentamento de Olinda, em Inhassunge, na província moçambicana da Zambézia, onde vivem cerca de 80 famílias afetadas pela exploração de areias pesadas.
Em causa está o braço de ferro entre a Africa Great Wall Mining Company, empresa chinesa que explora areias pesadas na localidade, e a Eletricidade de Moçambique (EDM), que diz não ter recursos financeiros para fazer chegar a corrente elétrica à região. Do lado do Governo moçambicano ainda não houve, também, qualquer tipo de ação.
Em entrevista à DW, Alcide Gouveia, substituto da diretora da Eletricidade de Moçambique (EDM) em Quelimane, explica que os trabalhos custam 14 milhões de meticais, cerca de dois milhões de euros, e "não sendo uma atividade planificada pela EDM, a empresa não tem como avançar".
"Temos de mobilizar financiamento para comprar material para a eletrificação. Havendo este financiamento, a EDM vai avançar com a expansão da rede. Os custos são avultados para expandir a rede para aquela ilha", acrescenta.
Vários moradores da ilha de Olinda queixam-se das condições de vida.
À DW, sem revelar o nome, um destes moradores conta que "a vida não vai bem". Queixa-se da falta de energia e da falta de condições das suas casas, nas quais diz haver "muitas formigas e baratas”. E acusa os "chineses de estarem a ocupar as suas machambas".
"Não temos comida para cultivar, temos que viajar para Mucupio", diz.
Outro morador diz também "estar a passar mal". "Não temos água para beber, a casa está em risco de cair e ainda não estamos aqui há um ano. Estamos a lutar para comer".
Empresa nega responsabilidades
Um dos responsáveis da mineradora chinesa, que negou ser identificado por receio de represálias, disse à DW que tudo o que deveria ser feito por parte da mineradora em benefício das comunidades de deslocadas já foi feito. E deu como exemplos a construção de uma salina, a reabilitação de um centro de saúde e de uma escola e casas para os deslocados.
O responsável da Africa Great Wall Mining afirmou que não faz parte da responsabilidade social da mineradora estender a linha de baixa tensão e efetuar ligações domiciliárias.
O combinado com as entidades governamentais, frisou, foi criar outras condições básicas de sobrevivência, incluindo a alocação de uma embarcação a motor para ajudar a deslocação da comunidade da ilha de Olinda.
Moçambique: A polémica exploração de areias pesadas na Zambézia
A exploração de areias pesadas em Inhassunge, na província da Zambézia, continua a gerar polémica. Residentes não querem deixar as suas terras, mas muitos cedem à pressão do Governo e da empresa responsável.
Foto: DW/M. Mueia
Concessionária chinesa
A Africa Great Wall Meaning Company Development, uma empresa de capitais chineses, é a concessionária na prospeção e exploração das areias pesadas na província da Zambézia desde 2014. Segundo o Governo local, a Africa Great Wall atua nos distritos de Inhassunge e Chinde, onde detém propriedades de uso e aproveitamento da terra.
Foto: DW/M. Mueia
Moradores têm que deixar suas terras
A presença da empresa chinesa é polémica. Depois de confrontos violentos com a polícia, que resultaram na morte de pelo menos 4 pessoas em julho de 2018, a população de Inhassunge, que basicamente vive da agricultura, diz que aceita por imposição abrir mão das suas terras para a exploração das areias pesadas.
Foto: DW/M. Mueia
Terras rejeitadas
No entanto, o plano de reassentar as famílias abrangidas pelo projeto de exploração de areias pesadas fracassou. A população recusa-se a mudar para o novo espaço porque, segundo os moradores, as terras são áridas e não servem para a produção de qualquer alimento. Alé disso, não há no local condições para desenvolver a pesca, tal como existem nas suas zonas de origem.
Foto: DW/M. Mueia
"Recuso-me a ceder o meu espaço"
Albrinho Veloso vive na ilha de Mualane e não vê com bons olhos o projeto de exploração das areias pesadas pelos chineses: "Recuso-me a ceder o meu espaço. Há um ditado popular, na língua local, que diz que 'o futuro não é confiável', por isso, quero continuar a viver na minha terra com as condições favoráveis para a minha sobrevivência".
Foto: DW/M. Mueia
Sem energia elétrica
Há um ano, o Governo da Zambézia estendeu uma linha elétrica que parte de Quelimane, capital provincial, para a região de Inhassunge. Porém, a linha de média tensão ainda não cobre todos os lugares, como, por exemplo, as áreas onde estão a ser feitas as explorações de areias pesadas. Mais um problema que os habitantes põem em cima da mesa.
Foto: DW/M. Mueia
Acesso às ilhas
A vida nas ilhas daquela região não é fácil. Para chegar à Olinda e Mualane, em Inhassunge, onde as areias pesadas são exploradas, a principal portagem está ao lado de Quelimane, capital da Zambézia. Os bilhetes são vendidos por agentes da polícia marítima e alguns operadores privados que têm pequenas embarcações a motor. A viagem pode custar até 300 meticais (pouco mais de 4 euros).
Foto: DW/M. Mueia
Barcos de carga
As canoas a remo são os primeiros e únicos meios de transporte de mercadoria e carga para as ilhas. Os produtos de primeira necessidade para a população das ilhas em Inhassunge são adquiridos em Quelimane e transportados pelas canoas por jovens naturais do distrito. A viagem demora de 8 a 10 horas no mar.
Foto: DW/M. Mueia
Transporte de passageiros
Além do transporte de mercadorias, as canoas também são usadas para transportar passageiros. O custo deste transporte ronda entre 10 a 30 meticais (entre 0,10 e 0,40 cêntimos de euro). Além disso, há também serviços de aluguer diário de canoas, cujo preço é mais caro.