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Zambézia: Crianças em risco devido a alta dos preços

17 de junho de 2022

A subida constante dos preços dos alimentos e dos combustíveis na província moçambicana da Zambézia está a pôr em risco a saúde das famílias mais pobres, sobretudo das crianças. O alerta é de especialistas em nutrição.

Foto: Marcelino Mueia/DW

Nem pão, nem tomate, nem óleo de cozinha - há cidadãos que dizem que, por estes dias, não conseguem comprar produtos básicos porque os preços estão a disparar na província da Zambézia.

"Cada dia que vens ao mercado encontras um preço, diferente do anterior", conta a cidadã Ornila Azirdo. "Nós que não trabalhamos passamos mal. Pão já não se come. E não fritamos o peixe, cozemos. E o coco também está caro, entre 25 a 30 meticais [50 cêntimos de euro]. Assim fica difícil."

Especialistas dizem que a inflação em Moçambique já ronda os 9%, mas poderá subir ainda mais este ano, até aos 11,7%, em relação a 2021. Segundo o Standard Bank, a culpa é dos "custos mais elevados dos alimentos importados e dos combustíveis, agravados pelo conflito Rússia-Ucrânia".

Risco de desnutrição crónica

Face a esta situação, o nutricionista Matias Culpa teme que os casos de desnutrição se agrave no seio das famílias mais pobres, principalmente entre as crianças.

"Se o preço da cesta básica aumenta, as pessoas têm défice de acesso a estes mesmos produtos. Alguém que devia consumir um alimento rico num determinado nutriente já não beneficiará desse nutriente de forma direta. Isso tem consequências para o estado nutricional da própria criança ou do indivíduo", explica Matias Culpa.

Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), a taxa de desnutrição crónica na província da Zambézia é de 43%, e este  número pode aumentar.

A vida está cada vez mais cara na província da Zambézia, comerciantes têm dificuldades em vender os seus produtosFoto: Marcelino Mueia/DW

Alternativas

Uma das soluções poderá passar pelo aumento da produção e consumo de produtos locais. Outra, pelo melhor uso dos alimentos disponíveis, tendo em conta os nutrientes de cada produto.

"Há muita comida, mas sabemos que há uma má preparação da comida e também a prática de alimentação não é a desejável", diz Michael Chimeza, representante da UNICEF. Por outro lado, "o foco de produção de comida aqui na Zambézia é mais para vender do que para dar a própria produção às crianças."

Mas com o aumento dos preços dos alimentos e doscombustíveis, faltam compradores. É um círculo vicioso.

De acordo com o comerciante Raúl Albuquerque, grande parte da produção está a apodrecer nos mercados.

"Neste momento, é normal estar de manhã até à tarde sem vender nada. Posso levar uma ou duas semanas sem vender - depende do movimento - e o produto apodrece. Não sabemos como vamos viver" afirmou.  

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