A entrega das verbas está suspensa pela direção provincial que alega irregularidades no processo, relacionadas com candidaturas de funcionários do Estado, sobretudo, professores. Jovens dizem estar cansados de esperar.
Publicidade
Na Zambézia, os atrasos na distribuição de fundos de apoio a iniciativas empreendedoras de jovens estão a gerar revolta entre os candidatos, que deveriam ter recebido o dinheiro entre agosto e setembro.
A província recebeu, no início deste semestre, perto de 900 mil meticais (cerca de 13 mil euros) do Governo central para financiar jovens no desenvolvimento dos seus próprios empregos. No entanto, esta distribuição está a ser travada por questões relacionadas com irregularidades no processo.
Em entrevista à DW África, Beato Dias, responsável da Direção Provincial da Juventude e Desportos da Zambézia, explica que a situação se complicou porque existem investigações que revelam que os candidatos ao financiamento destes projetos de empreendedorismo são, na sua maioria, funcionários e agentes do Estado, sobretudo, professores.
Beato Dias afirma que o mesmo aconteceu em anos passados: o dinheiro alocado pelo Governo central para apoiar jovens e desempregados na Zambézia, a título de empréstimo, beneficiou funcionários públicos que, até agora, não o devolveram.
Esquemas fraudulentos
Até à data, avança o diretor da Juventude, foram enviadas 63 candidaturas de projetos de todos os distritos da província. Segundo Beato Dias, a comissão de júri nomeada para acompanhar o processo constatou que 23 destes projetos pertencem a funcionários públicos, nomeadamente, professores e outros funcionários ao nível do distrito. O que, acrescenta Beato Dias, "viola, de forma grave, o próprio regulamento do FAIJ (Fundo de Apoio a Iniciativas Juvenis).
O que se pretende com este fundo é financiar jovens que não estejam a desenvolver nenhuma atividade ou que tenham uma atividade, mas precisem de um impulso para a desenvolver, de modo a empregar mais jovens", explica.
À espera do dinheiro…
Os candidatos dizem estar desesperados. É o caso do comerciante Raimo Ossifo, que tem uma banca onde vende bolachas, açúcar e cerveja. "Pedi o fundo e até agora ainda não me deram resultados. Vieram fazer a vistoria e disseram-me que o valor que eu preciso não corresponde aos meus bens e que esta não é a forma de ajudar. Se uma pessoa diz que está aflita, é para ser ajudada", afirma.
Zambézia: Fundos de apoio a iniciativas jovens não foram ainda distribuídos
Silva Livone é também candidato ao fundo de apoio à iniciativa empreendedora juvenil e está igualmente desiludido. Apresentou um projeto relacionado com a criação de animais: "O sentimento é de desagrado. Nós, como jovens, temos esperança neste fundo que é exclusivo para a juventude. E a juventude não se compra, somos jovens hoje, mas daqui a quatro anos já não somos. [Por isso], teria sido bom termos sido financiados. Seríamos um exemplo de sucesso".
Financiamento até ao fim do mês
Ainda assim, o diretor da Juventude, Beato Dias, garante que o financiamento chegará às mãos dos jovens até ao fim do mês de novembro, ainda que o objetivo da direção provincial seja fazer uma seleção rigorosa. "Neste momento, prevemos financiar 18 jovens ao nível da província da Zambézia, em valores que variam entre 30 a 45 mil meticais (550 euros)”, dá conta.
O Conselho provincial da Juventude, um órgão social e braço juvenil do partido FRELIMO, que tem recebido financiamento da Direção da Juventude, ficará de fora. Beato Dias encoraja os membros do Conselho a procurar alternativas. "O Conselho provincial da Juventude pode-se organizar para encontrar outros parceiros. Há outras organizações da sociedade civil que o fazem.Não ficam só à espera do Governo. Há muitos parceiros que querem apoiar a juventude", garante.
Escolas e material degradado na Zambézia
Para além da sobrelotação, há várias escolas sem condições na província da Zambézia, no centro de Moçambique. As infraestruturas encontram-se deterioradas e há falta de material escolar.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária de Nacogolone
Aqui as crianças estudam debaixo das árvores, estando as aulas dependentes da meteorologia. A maior parte das crianças que estuda nesta escola foi vítima das cheias de 2015, tendo as suas famílias sido reassentadas nas proximidades do bairro Nacogolone. Foram já várias as iniciativas que surgiram no bairro para a reconstrução de salas convencionais, mas a falta de recursos não as deixou avançar.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária de Mutange
As salas de aula desta escola, localizada a 15 quilómetros do extremo sul da vila sede do distrito de Namacurra, foram construídas com material convencional. No entanto, estão deterioradas. As secretárias escolares e o material didático para os professores estão em más condições e os assentos são trazidos e levados pelos alunos todos os dias de e para as suas casas.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária 17 de Setembro
Embora se localize na capital da província, as condições desta escola estão muito abaixo das expetativas. Algumas paredes estão corroídas, outras parcialmente destruídas. O mesmo acontece com as carteiras escolares. O teto está deteriorado, o que constitui um perigo para os alunos. A direção da escola recebeu cerca de 200 mil meticais, mas diz não ser suficiente para reabilitar toda a estrutura.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária de Quelimane
Localizada no centro, em frente ao edifício do Governo da Província da Zambézia, é umas das escolas mais privilegiadas da cidade. Tem condições favoráveis e adequadas ao ensino e à aprendizagem, possuindo até uma sala de conferências. É a mais antiga escola primária - no tempo colonial, era frequentada pelos filhos dos colonos e filhos de negros assimilados.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Comunitária Mártires de Inhassunge
Fundada pela congregação religiosa Padres Capuchinhos, a Escola Comunitária Mártires de Inhassunge acolhe alunos do 1º ao 10º ano e é muito frequentada por pessoas carenciadas e órfãs. Apesar de ter dificuldades no acesso ao fundo de apoio direto às escolas, a instituição conta com infraestruturas adequadas e salas de aula equipadas com carteiras. Uma realidade diferente das escolas públicas.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Secundária Geral de Sangarriveira
Integrando alunos da 8ª à 12ª classe, esta escola, que começou a funcionar em 2013, apresenta já rachas nas paredes, janelas partidas e chão degradado. A diretora Paulina Alamo afirma que as obras não obedeceram ao que estava estabelecido. A dimensão das salas é pequena para a quantidade de alunos existente. Há estudantes que têm de se sentar no chão.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária e Completa de Wazemba
O problema alastra-se também aos professores. Os gabinetes dos diretores e gestores das escolas localizadas em sítios mais distantes das vilas e postos administrativos estão em péssimas condições. Exemplo disso é a Escola Primária e Completa de Wazemba, no distrito de Namacurra. No gabinete do diretor, há atlas geográficos pendurados nas paredes feitas de material de construção local.
Foto: DW/M. Mueia
Pais, alunos e professores garantem manutenção
A estrutura externa do gabinete do diretor da Escola Primária de Wazemba foi construído com materiais locais - paus e folhas de coqueiro para cobrir o teto. As paredes são revestidas por lama. Em muitas outras infraestruturas escolares semelhantes a esta, a reabilitação é garantida pelos próprios alunos, encarregados de educação, lideres comunitários e professores.
Foto: DW/M. Mueia
Governo conhece situação
Carlos Baptista Carneiro, administrador de Quelimane, garante que a reabilitação das escolas e a compra de carteiras escolares está dependente da disponibilidade de fundos, pelo que não será possível reabilitar todas as escolas da cidade ao mesmo tempo. Segundo o administrador, o número das instituições de ensino que aguardam reabilitação é grande e o Governo tem conhecimento da situação.