Jovens da província da Zambézia dizem enfrentar dificuldades para arranjar emprego na função pública e construir casa. Há programas do Governo de atribuição de lotes de construção a jovens, mas processos são lentos.
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As dificuldades dos jovens são muitas e variadas, a começar pelo desemprego. Eles dizem que é muito difícil arranjar emprego na província. O desemprego jovem situa-se nos 13%, segundo os últimos dados estatísticos da direção provincial de trabalho da Zambézia. Os jovens criticam as autoridades locais por irem buscar cidadãos de outras províncias para ocupar lugares na função pública.
Emprego só para alguns?
Sumaila Sumila, residente do distrito de Namacura, deu voz a essas críticas num encontro recente do Conselho Provincial da Juventude. O jovem defende que a sua província tem jovens com habilitações suficientes, mas as oportunidades são dadas a outros.
"Alguns chefes e dirigentes trazem os seus irmãos, sobrinhos e até cunhados para ocuparem espaços na função pública e os filhos de casa nada. Esse caso deve ser verificado com máxima urgência", apela Sumaila Sumila.
Para o diretor provincial da Juventude, Beato Dias, estas são acusações absurdas e não deviam preocupar os jovens.
"Qualquer moçambicano pode trabalhar em qualquer parte deste país. Não há nenhum local reservado a naturais. O nosso Governo prima pela unidade nacional. Não há nenhum local em que tem há essa questão de "localismo", tribalismo. O nosso governo não encoraja este tipo de coisas", defende-se Beato Dias.
À espera de resposta para habitação
Outra dificuldade dos jovens é construir casa. O Governo provincial diz que, desde 2011, já foram distribuídos mil terrenos a jovens de todos os distritos da província da Zambézia. Mas vários jovens afirmam que não foram contemplados com qualquer lote.
Zambézia: Habitação e desemprego preocupam jovens
Frederico Eusébio é um desses casos. Mora no distrito de Gurué e espera há quatro anos que as autoridades lhe deem uma resposta, para saber onde pode construir a sua habitação.
"No distrito de Gurué, temos uma zona muito grande, que foi identificada para a atribuição de lotes de construção. Mas, de 2014 até então, não temos nenhuma resposta satisfatória. Quando vamos aos serviços distritais de Juventude dizem para nos dirigirmos às Infraestruturas. Nas Infraestruturas dizem o processo está na Agricultura e na Agricultura dizem que o processo está nos serviços distritais!"
Processo lento
No fim de semana, cerca de 70 jovens do Conselho Provincial da Juventude estiveram frente-a-frente com as autoridades e quiseram saber até que ponto a província está a cumprir com a obrigação de facilitar a habitação aos jovens, como deliberou o Governo central moçambicano há sete anos.
Estêvão José Neves, Presidente do Conselho Provincial da Juventude da Zambézia reconhece que a "ação é lenta".
"Temos alguns distritos que estão a implementar esta política da juventude, já foram cedidos muitos talhões, mas pouco está sendo feito no processo de construção. Há a necessidade de se fazer uma análise sobre o que está falhar quando o jovem adquire um talhão. Por outras vias, é fácil construir, mas quando é cedido pelo Governo, dificilmente construímos."
O diretor provincial da Juventude, Beato Dias, reconhece que há problemas no processo mas garante que vai tentar resolver o problema
" Uma das dificuldades que o distrito tem tido é atribuição de DUATs (Direito de Uso e Aproveitamento de Terra), isto acarreta um certo processo e custos. Os jovens recebem os talhões e ficam muito tempo sem ocupar. Gurué é um dos distritos com estes problemas. O município atual ignorou aquilo que tinha sido planificado antes", disse à DW.
Escolas e material degradado na Zambézia
Para além da sobrelotação, há várias escolas sem condições na província da Zambézia, no centro de Moçambique. As infraestruturas encontram-se deterioradas e há falta de material escolar.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária de Nacogolone
Aqui as crianças estudam debaixo das árvores, estando as aulas dependentes da meteorologia. A maior parte das crianças que estuda nesta escola foi vítima das cheias de 2015, tendo as suas famílias sido reassentadas nas proximidades do bairro Nacogolone. Foram já várias as iniciativas que surgiram no bairro para a reconstrução de salas convencionais, mas a falta de recursos não as deixou avançar.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária de Mutange
As salas de aula desta escola, localizada a 15 quilómetros do extremo sul da vila sede do distrito de Namacurra, foram construídas com material convencional. No entanto, estão deterioradas. As secretárias escolares e o material didático para os professores estão em más condições e os assentos são trazidos e levados pelos alunos todos os dias de e para as suas casas.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária 17 de Setembro
Embora se localize na capital da província, as condições desta escola estão muito abaixo das expetativas. Algumas paredes estão corroídas, outras parcialmente destruídas. O mesmo acontece com as carteiras escolares. O teto está deteriorado, o que constitui um perigo para os alunos. A direção da escola recebeu cerca de 200 mil meticais, mas diz não ser suficiente para reabilitar toda a estrutura.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária de Quelimane
Localizada no centro, em frente ao edifício do Governo da Província da Zambézia, é umas das escolas mais privilegiadas da cidade. Tem condições favoráveis e adequadas ao ensino e à aprendizagem, possuindo até uma sala de conferências. É a mais antiga escola primária - no tempo colonial, era frequentada pelos filhos dos colonos e filhos de negros assimilados.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Comunitária Mártires de Inhassunge
Fundada pela congregação religiosa Padres Capuchinhos, a Escola Comunitária Mártires de Inhassunge acolhe alunos do 1º ao 10º ano e é muito frequentada por pessoas carenciadas e órfãs. Apesar de ter dificuldades no acesso ao fundo de apoio direto às escolas, a instituição conta com infraestruturas adequadas e salas de aula equipadas com carteiras. Uma realidade diferente das escolas públicas.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Secundária Geral de Sangarriveira
Integrando alunos da 8ª à 12ª classe, esta escola, que começou a funcionar em 2013, apresenta já rachas nas paredes, janelas partidas e chão degradado. A diretora Paulina Alamo afirma que as obras não obedeceram ao que estava estabelecido. A dimensão das salas é pequena para a quantidade de alunos existente. Há estudantes que têm de se sentar no chão.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária e Completa de Wazemba
O problema alastra-se também aos professores. Os gabinetes dos diretores e gestores das escolas localizadas em sítios mais distantes das vilas e postos administrativos estão em péssimas condições. Exemplo disso é a Escola Primária e Completa de Wazemba, no distrito de Namacurra. No gabinete do diretor, há atlas geográficos pendurados nas paredes feitas de material de construção local.
Foto: DW/M. Mueia
Pais, alunos e professores garantem manutenção
A estrutura externa do gabinete do diretor da Escola Primária de Wazemba foi construído com materiais locais - paus e folhas de coqueiro para cobrir o teto. As paredes são revestidas por lama. Em muitas outras infraestruturas escolares semelhantes a esta, a reabilitação é garantida pelos próprios alunos, encarregados de educação, lideres comunitários e professores.
Foto: DW/M. Mueia
Governo conhece situação
Carlos Baptista Carneiro, administrador de Quelimane, garante que a reabilitação das escolas e a compra de carteiras escolares está dependente da disponibilidade de fundos, pelo que não será possível reabilitar todas as escolas da cidade ao mesmo tempo. Segundo o administrador, o número das instituições de ensino que aguardam reabilitação é grande e o Governo tem conhecimento da situação.