O Movimento Democrático de Moçambique (MDM) na Zambézia pede a anulação das eleições, que classifica de fraudulentas. A FRELIMO teve uma vitória histórica na província. Mas estranha-se o silêncio nas ruas.
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A comissão provincial do Movimento Democrático de Moçambique (MDM)exige a repetição das eleições, um dia depois de serem conhecidos os resultados na província da Zambézia, no centro do país.
Na frente está a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), com uma vitória histórica - a primeira maioria desde 1994 - seguida da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) e do MDM. Mas o MDM não aceita os resultados, e o seu porta-voz, Victorino Francisco, diz mesmo que as eleições gerais têm de ser repetidas.
"Com tudo isso que aconteceu, o MDM não aceita [os resultados]. O mais coerente, num Estado de direito, seria que estas eleições fossem declaradas nulas, sem efeito. Devemos voltar a segundas eleições, temos que repeti-las", afirmou Francisco.
De acordo com os resultados dos editais publicados, o MDM não conseguiu atingir 20% dos votos. mas, segundo o porta-voz do partido, isso "é impossível".
"A apresentação pública dos resultados na província da Zambézia não nos satisfez. Estas eleições foram as piores em termos de níveis de fraude, desde 1994. Se nós temos cerca de 100 mil membros na província da Zambézia, não há explicação para os nossos votos estarem abaixo disso", argumentou.
Zambézia: MDM pede novas eleições
"Silêncio"
Entretanto, o analista político Lourindo Verde estranha o ambiente que se vive na Zambezia nos últimos dias.
"Todo o silêncio inscita qualquer interpretação. Quando há um falecimento, as pessoas choram. Mas, com uma vitória, as pessoas não estariam no silêncio. E isso faz-nos pensar que alguma coisa não está bem".
Segundo o politólogo, noutros pleitos eleitorais, era habitual ver pessoas de diferentes partidos a manifestarem-se a favor ou contra os resultados que iam sendo divulgados. Mas "desta vez é estranho, pois estamos a assistir um silêncio dos partidos políticos, da população em geral".
Desde a realização das eleições que as autoridades policiais têm estado preparadas para afastar qualquer manifestação influenciada pelos resultados eleitorais. Nos últimos dias, tem havido movimentações da polícia na província e carros blindados a circular. O porta-voz da corporação diz que o objetivo é manter a ordem e tranquilidade.
Mas Lourindo Verde deixa um alerta às forças de segurança: "A manifestação é um direito constitucional, desde que seja legalmente autorizada. Quando se diz que a manifestação é uma forma de incitação à violência, estaríamos a negar um direito constitucional", refere.
Dia de eleições em Moçambique em imagens
De norte a sul de Moçambique, grande afluência de eleitores marcou primeiras horas de votação. 13,1 milhões de moçambicanos foram chamados a escolher Presidente da República, 250 deputados e 10 governadores provinciais.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Filipe Nyusi abre votação em Maputo
As primeiras assembleias de voto abriram às 07:00 para as sextas eleições gerais. Filipe Nyusi, Presidente de Moçambique e candidato a um segundo mandato, abriu a votação em Maputo. Depois de votar na Secundária Josina Machel, em direto na televisão pública, pediu ao país para mostrar ao mundo que Moçambique "apoia a democracia". "Vamos acreditar e vamos confiar", sublinhou o candidato da FRELMO.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Ossufo Momade vota na Ilha de Moçambique
O candidato presidencial da RENAMO, Ossufo Momade, disse que "nunca" vai aceitar "resultados eleitorais manipulados", assinalando que a negação da vontade popular levou o país a hostilidades militares no passado. "Estamos determinados em fazer qualquer coisa que o povo nos indicar", declarou Momade. O candidato falava após votar na sua terra natal, na Ilha de Moçambique, província de Nampula.
Foto: Getty Images/A. Barbier
Daviz Simango apela ao voto de todos
Daviz Simango, candidato à presidência pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM), votou no bairro de Macuti. "Aproveito esta oportunidade para lembrar a todos os moçambicanos que não votarem que vão ter a oportunidade de ser dirigidos por aqueles que não escolheram", advertiu. Pediu ainda às autoridades para "criarem condições para que estas eleições sejam transparentes livres e justas".
Foto: DW/A. Sebastião
Tentativas de fraude a favor da FRELIMO
Segundo o Centro de Integridade Pública (CIP), registaram-se já vários "casos de tentativas de enchimento de urnas" nos dois maiores círculos eleitorais do país. Os casos, a favor da FRELIMO, ocorreram nas assembleias de voto instaladas nas escolas primárias completas Eduardo Mondlane de Angoche, em Nampula, e 16 de Junho, em Mopeia, na Zambézia, precisou a ONG.
Foto: DW/L. da Conceição
UE: Observação eleitoral "em boas condições"
A Missão de Observação Eleitoral da União Europeia (UE) considera que a abertura das mesas de voto decorreu de modo ordeiro. "Havia muitas filas, mas os procedimentos foram seguidos em grande parte", disse Sànchez Amor. O chefe da missão da UE informou ainda que "a observação está a realizar-se em boas condições" e, por enquanto, "o processo desenrola-se conforme o previsto".
Foto: DW/L. Matias
Quelimane: Zambezianos em peso nas urnas
Assembleias de voto em Quelimane, província central da Zambézia, registam grande afluência de eleitores desde as primeiras horas. A DW encontrou vários cidadãos que não conseguiram votar por problemas com o cartão de eleitor. Luís Boavida, cabeça de lista do MDM, e Manuel de Araújo, da RENAMO, apelaram aos zambezianos para irem às urnas. Pio Matos, da FRELIMO, garantiu que está "tudo tranquilo".
Foto: DW/N. Issufo
Gaza: Ambiente calmo e ordeiro
A tranquilidade marcou a abertura das mesas de voto em Mandlakazi, na província de Gaza, no sul. Gaza foi notícia nos últimos meses porque foi aqui que os órgãos eleitorais moçambicanos recensearam cerca de 230 mil eleitores a mais do que o número da população em idade eleitoral anunciada pelo INE. Irregularidades muito contestadas por oposição e sociedade civil.
Foto: DW/C. Matsinhe
Nampula: Eleitores impedidos de votar
Em Mulila, no populoso bairro de Namicopo, na cidade de Nampula, pelo menos oito eleitores foram impedidos de votar, alegadamente porque os seus nomes não constavam dos cadernos eleitorais. O bairro de Namicopo é na sua maioria habitado por apoiantes da RENAMO. Já a Sala da Paz condenou a "falta de vontade dos órgãos eleitorais" em credenciar observadores na província de Nampula.
Foto: DW/S. Lutxeque
Tete: Balanço positivo da Sala da Paz
A Sala da Paz faz um balanço positivo das primeiras horas de votação em Tete, apesar de se verificaram longas filas de eleitores e de alguns membros desta plataforma eleitoral não terem sido credenciados pelos órgãos de administração eleitoral para a observação do pleito. Nestas eleições, Tete elege 21 deputados para a Assembleia da República e 82 membros para a Assembleia Provincial.
Foto: DW/A. Zacarias
Inhambane: Prioridade para eleitores idosos
Idosos em Inhambane estão a ter prioridade nas mesas das assembleias de voto. Nesta província, as mesas abriram à hora prevista, com milhares de eleitores nas filas para exercerem o seu direito cívico. A afluência às urnas diminuiu ao final da manhã. Os concorrentes ao cargo de governador votaram cedo e aguardam os resultados nas suas residências, sob fortes medidas de segurança.
Foto: DW/L. da Conceição
Pemba: Longa espera para votar
Ao contrário de Inhambane, em Pemba, província de Cabo Delgado, alguns idosos queixam-se da longa espera para votar e lamentam que não lhes seja concedida prioridade, como preconiza a lei. "Há lutas na fila e como nós somos mais velhas não conseguimos ficar paradas, por isso ficamos sentadas", disse à DW África a idosa Albertina Navaia, que vota na Escola Primária de Cariacó.
Foto: DW/D. A. Uatanle
Manica: Votação sem sobressaltos
Em Manica, a votação tem sido sobressaltos nem registo de ilícitos eleitorais. Apesar de, no geral, os partidos darem nota positiva ao arranque do processo na província, o delegado do MDM, Humberto Escova, lamentou a circulação de automóveis blindados, na zona de Pinanganga, no distrito de Gondola, e acusou o contingente policial de semear o medo entre os eleitores.