Zambézia: carecas assassinados para extração de órgãos
8 de junho de 2017Alguns meses após um aparente abrandamento da violência contra albinos para extração de órgãos, surgem agora os ataques contra carecas na Zambézia, em Moçambique. As pessoas calvas estão a ser perseguidas e mortas por indivíduos que lhes extraem órgãos para utilizar em rituais tradicionais. A DW sabe que nas últimas semanas, foram assassinadas pelo menos oito pessoas calvas.
Os crimes ocorreram em diferentes distritos de Milange e Morrumbala, que fazem fronteira com o Malaui. As autoridades já detiveram quatro indivíduos acusados de praticar este crime. Dois dos indiciados exumaram o corpo de um homem careca e cortaram-lhe a cabeça.
Polícia confirma crimes
Em entrevista à DW África, Francisco Madiguida, comandante provincial da Polícia na Zambézia, confirma a ocorrência destes crimes na província. "Temos efetivamente esta informação. Já estamos a controlar. Tivemos dois casos de homicídio e já estão detidos quatro indivíduos indiciados", afirma Francisco Madiguida, acrescentando que a polícia moçambicana está a trabalhar conjuntamente com os colegas da polícia da República do Malaui.
"Estamos a tratar este assunto com muita seriedade. E chegámos à conclusão que temos que, periodicamente, trocar informações de forma a poder estancar esta prática de uma vez por todas", dá conta.
Crenças populares
As autoridades não descartam a possibilidade dos crimes estarem ligados a crenças populares. Existem comunidades onde se acredita que algumas partes do corpo de um homem careca têm poderes sobrenaturais e podem gerar riqueza.
Ernesto Selemane, representante dos médicos tradicionais da Zambézia, desmente que haja, em Moçambique, qualquer tratamento tradicional para enriquecer com base em órgãos de homens carecas.
O responsável aponta o dedo ao Governo por este não "controlar as fronteiras", afirmando que se existisse um controlo, este tipo de crimes terminariam.
"Falei com os presidentes de médicos tradicionais distritais e eles disseram-me que os assassinos são cidadãos malauianos e tanzanianos e não moçambicanos. O governo tem que ficar envolvido nesse controlo [de fronteiras]. Mas não atua, não toma atenção, é fraco no controlo. As pessoas entram e saem sem nenhum controlo", afirma.
Para este responsável, é "preciso que a polícia faça o seu trabalho" e que a "população denuncie" qualquer ação similar.