Cheias destruiram ligações entre Namacurra e Maganja da Costa. População tem de fazer a travessia em barcos de palha nas águas onde também se banham crocodilos e hipópotamos. Jovens "marinheiros" desvalorizam perigo.
Publicidade
Em Malei, na província da Zambézia, centro de Moçambique, há jovens que todos os dias enfrentam crocodilos e hipopótamos para ganhar algum dinheiro. Há dois anos que as ligações entre Maganja da Costa e Namacura estão interrompidas, pois a estrada principal e a ponte que ligavam os dois distritos foram destruídas pelas cheias de 2015 que abalaram o Baixo Licungo e assim continuam até hoje. A alternativa é atravessar rios de grande dimensão, onde abundam hipopótamos e crocodilos.
Por isso, dezenas de jovens, residentes nas redondezas, optaram por ajudar as pessoas a chegar à outra margem em canoas feitas de palha e cascas de árvores. Luís Mutaliano é um deles. Dedicou-se a esta atividade há dois anos e garante que não há perigo. Segundo este jovem, "os crocodilos não fazem mal", podendo as pessoas atravaessar o rio "sem problema". O "marinheiro" afirma sentir-se "privilegiado por ajudar as pessoas a atravessar o rio". "Algumas não têm dinheiro, nós compreendemos e ajudamos. Quanto à ponte, não sabemos como isso aconteceu, estamos muito tristes", afirma.
Quem precisa de atravessar para a outra margem do rio tem de pagar. Os valores variam entre 10 e 35 meticais e podem chegar aos 50 (cerca de um euro), em caso de maré alta.
Demi Izaquiel é outros dos jovens que se tem aventurado nesta travessia e dá conta que o "trabalho corre bem", apesar de nem sempre existirem muitos clientes. No entanto, "quando há muito movimento conseguimos 500 ou 600 meticais. O dinheiro acaba lá em casa com despesas e caril", explica.
Zambézia: População enfrenta crocodilos e outros perigos em travessia em Malei
Habitantes sem opção
Francisco Orta, residente em Maganja da Costa, é um dos clientes habituais das canoas de palhas, mas confessa que antes de sair de casa, tem de pensar duas vezes. "A travessia do rio está muito mal, não há como [chegar ao outro lado]. Passamos daqui na terça-feira, fui transferido para Quelimane como um doente, mas passei mal e paguei muito caro. A ponte cá está mal, estamos a sofrer com o nosso dinheiro", relata.
A travessia entre Namacurra e Maganja da Costa através do Malei é bastante concorrida porque encurta a distância entre os dois sítios. E apesar dos riscos, quando comparada com a outra opçaõ, é barata. A alternativa para chegar a Maganja da Costa é passar pela cidade de Mocuba, que fica a cerca de 300 quilómetros de distância.
Segundo Filipe Damas, habitante de Malei, a situação é "complicada", passando a solução, a seu ver, pela reconstrução da estrada e da ponte."Agradecia se o governo fizesse o possível para colocar a ponte aqui, pois ajuda-nos e ajuda o público", afirma este habitante que acrescenta: "muita gente, quando vem de Maputo, não consegue chegar a Maganja da Costa porque o dinheiro da passagem não chega. Tentam vender os seus bens para atravessar [para o outro lado] e isso não ajuda. É um retrocesso para nós também".
Uma opinião partilhada por Cádre Mariano, outro residente em Malei. "Estamos aflitos porque temos outras pessoas que estão na outra margem. Íamos visitar a família e agora não temos como porque a ponte está estragada. É muito difícil porque para atravessar é preciso dinheiro, há muitos riscos na travessia, alguns perdem motorizadas e bicicletas", afirma.
Reconstrução da ponte sem data à vista
O governador da Zambézia, Abdul Razak, não tem boas previsões sobre a reconstrução da infraestrutura. Segundo este responsável, em 2015, foram destruídas 70 pontes. Ainda que esteja ciente de que a falta da ponte que ligava Malei a Maganja da Costa "está a dificultar a população" , o governador explica que esta ponte "custa cerca de quatro mil milhões de meticais e estamos numa situação económica que não é fácil", dá conta.
Inhambane: Um ano depois do ciclone Dineo
A 15 de fevereiro de 2017, a província moçambicana de Inhambane foi fustigada pela tempestade, que destruiu hospitais, escolas e estradas. A solidariedade veio de todos os cantos do mundo, mas danos ainda são visíveis.
Foto: DW/L. da Conceicao
Travessia condicionada
Há precisamente um ano, o ciclone destruiu o tabuleiro da ponte-cais de Maxixe, onde atracavam embarcações que transportam pessoas desta cidade para Inhambane. A ponte ainda aguarda pela reabilitação, que vai custar mais de 35 milhões de meticais (cerca de 460 mil euros). No terreno já se encontra a empresa adjudicada para a reconstrução da ponte, cujo prazo é de 60 dias.
Foto: DW/L. da Conceicao
Solidariedade
Vários centros de saúdes e hospitais foram destruídos e muitos cidadãos ficaram sem atendimento hospitalar. Os parceiros de cooperação ajudaram na reconstrução de algumas infraestruturas, como o Centro de Saúde de Maxixe, que ficou completamente destruído e foi reabilitado sete meses depois do ciclone. Mas ainda há vários centros de saúde que necessitam de obras.
Foto: DW/L. da Conceicao
Tetos novos
Alguns edifícios onde funcionam serviços do Estado ficaram sem telhado por causa do ciclone, como foi o caso da Direção Distrital dos Serviços de Educação e Desenvolvimento Humano na cidade de Maxixe. Mas agora já tem tetos novos e outra imagem.
Foto: DW/L. da Conceicao
De portas fechadas
A loja da operadora móvel Mcel na cidade de Maxixe continua de portas fechadas e não há sinais de uma possível reabilitação. Os funcionários da empresa continuam a trabalhar, mas debaixo de uma árvore. Uma situação que já dura há quase um ano.
Foto: DW/L. da Conceicao
Reabilitação a meio gás
Vários edifícios que ficaram danificados com a passagem do ciclone Dineo pela província só foram reabilitados parcialmente. Como a Escola Secundária 29 de Setembro, em Maxixe. Apenas uma parte do edifício foi reabilitada, incluindo o telhado. Os responsáveis da instituição dizem que não têm dinheiro suficiente para reparar todos os danos causados pela tempestade.
Foto: DW/L. da Conceicao
Bombeiros e polícia
O posto policial, que também alberga os serviços dos bombeiros da cidade de Maxixe, ficou sem telhado e com as paredes danificadas. Mas já foi recuperado e está agora de cara lavada.
Foto: DW/L. da Conceicao
Pavilhão desportivo
A Universidade Pedagógica (UP) de Maxixe precisa de dinheiro para reabilitar o pavilhão desportivo. O local acolhia vários eventos na cidade: casamentos, encontros religiosos e cerimónias governamentais. Mas há já um ano que não se realiza nenhuma atividade no complexo. A direção da UP diz que ainda está à procura de parceiros para conseguir reabilitar o pavilhão.
Foto: DW/L. da Conceicao
Casas por reabilitar
Muitas famílias de Inhambane viram os telhados das suas casas voar com o ciclone. Um ano depois, nem todas conseguiram reabilitar as suas casas e vivem agora em residências sem grandes condições. O mesmo cenário verifica-se nas casas dos diretores das escolas que continuam sem teto. Dizem que há falta de dinheiro devido à crise financeira que assola o país.
Foto: DW/L. da Conceicao
Obras atrasadas
As autoridades locais das zonas que mais sofreram com o ciclone Dineo dizem que as obras para melhorar as vias de acesso estão completamente atrasadas porque o dinheiro adjudicado foi canalizado para as necessidades mais pontuais. Mas prometem continuar os trabalhos quando tiverem mais verbas disponíveis.
Foto: DW/L. da Conceicao
Mercados destruídos
Também muitos estabelecimentos comerciais ficaram destruídos, mas as autoridades governamentais estão a dar prioridade à reabilitação de hospitais e escolas. Ainda assim, o comércio não parou e muitos vendedores foram para as ruas continuar os seus negócios. "É a única alternativa que temos para sustentar as nossas famílias, enquanto aguardamos a reabilitação dos mercados", dizem.
Foto: DW/L. da Conceicao
Casas pré-fabricadas
Várias famílias que perderam as suas residências e escolas que ficaram sem salas de aula receberam casas pré-fabricadas oferecidas pelo Governo da Turquia. Essas infraestruturas trouxeram uma nova realidade a algumas zonas.