ZANU-PF apresentará moção de censura contra Mugabe
Lusa | AP | Reuters
21 de novembro de 2017
Partido governista irá submeter esta terça-feira (21.11) pedido de afastamento de Robert Mugabe à votação no Parlamento do Zimbabué. Deputados garantem que haverá votos suficientes para aprovar processo de impeachment.
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A União Nacional Africana do Zimbabué - Frente Patriótica (ZANU-PF) irá entregar esta terça-feira (21.11) ao Parlamento uma moção de censura contra o Presidente do Zimbabué, Robert Mugabe. Mesmo tendo vencido na segunda-feira o prazo para que apresentasse sua demissão voluntária, o chefe de Estado, que está há 37 anos no poder, insiste em permanecer no cargo.
Lovemore Matuke, deputado responsável pela disciplina da bancada do ZANU-PF nas votações, garante que o processo será bem sucedido. O partido governista tem maioria no Parlamento. Dos 260 deputados, 230 pretendem votar a favor da moção. O processo de impeachment conta com o reforço do Movimento da Mudança Democrática (MDC), da oposição, com 73 membros.
"É algo conjunto. As pessoas querem garantir que o Zimbabué volte à normalidade. Perder não está em questão. É apenas uma questão de tempo. Vamos trabalhar para concluir o processo antes de quarta-feira", sublinhou o parlamentar.
O porta-voz do MDC, Obert Guru, assegura que a totalidade dos membros do partido querem a saída de Mugabe. "O sentimento geral é que devemos apoiar a moção de impeachment, e não porque estamos alinhados com as várias alas do ZANU-PF. Sempre insistimos que Mugabe deve sair. Ele não serve mais para o cargo. Se conseguirmos tirá-lo de cena, acreditamos que será mais fácil continuar a implementar nossa agenda de democratização", afirmou.
Encontro entre Mugabe e Mnangagwa
Em pronunciamento esta segunda-feira (20.11), o comandante das Forças de Defesa do Zimbabué, General Constantino Chiwenga, afirmou que as conversas com Mugabe estão a ocorrer com respeito mútuo.
"Os serviços de defesa e segurança do Zimbabué estão encorajados pelos novos desenvolvimentos que incluem um contato entre o Presidente e o ex-vice-Presidente, Emmerson Mnangagwa, que deve chegar ao país em breve. Depois disso, vamos informar a nação o resultado do encontro entre os dois. Neste meio tempo, o comandante-em-chefe das Forças Armadas do Zimbabué, Robert Mugabe, deu início a um processo para encontrar uma solução definitiva para o país com um roteiro de ações", disse.
A destituição há duas semanas de Mnangagwa, antigo membro do partido e veterano de guerra que opôs à Grace Mugabe, é vista como o estopim da crise política no país. Uma semana depois da decisão, os comandantes das Forças Armadas anunciaram que tomariam "medidas corretivas" se os "expurgos" no ZANU-PF continuassem a ocorrer. Em causa, também estão as tentativas de Mugabe de colocar Grace na sucessão do poder.
Reunião em Luanda
Angola acolhe esta terça-feira uma reunião extraordinária da Comunidade de Desenvolvimento de Países da África Austral (SADC) para tratar da crise político-militar no Zimbabué. O ministro das Relações Exteriores de Angola, Manuel Augusto, classificou a situação como "muito preocupante" por tratar-se de um momento de tomada de poder anticonstitucional, embora não consolidado.
O Presidente da Zâmbia, Edgar Lungu, já se encontra em Luanda, onde se reuniu com seu homólogo angolano, João Lourenço, para discutir a situação no Zimbabué. O Presidente da África do Sul, Jacob Zuma, presidente em exercício da SADC, e o ministro dos Negócios Estrangeiros da Tanzânia também participarão do diálogo.
"Um ponto é assente: a nossa região, o seu órgão, que é a SADC, não apoiam a tomada de poder por meios inconstitucionais. Isto é, nós não apoiamos nenhum golpe de Estado e não gostaríamos que o Zimbabué fosse um precedente", disse. "Vale aqui dizer que, de facto, até agora a situação é pacífica, não se conhecem quaisquer indícios de violência, o que já é um bom passo para se encontrar uma solução negociada e que leve o Zimbabué a preparar-se para as eleições que já estão marcadas para 2018", acrescentou.
O General Constantino Chiwenga pede que a população mantenha a calma e respeite as leis do país. "Pedimos que os atores políticos, incluindo os membros do ZANU-PF, os veteranos da liberação, grupos da oposição, estudantes e o público em geral se abstenham de cometer quaisquer atos que ameacem a paz, a vida e a propriedade", diz.
Estudantes da Universidade do Zimbabué, em Harare, estão a boicotaras aulas em protesto contra Mugabe. "Não vamos escrever nenhum exame até que Robert Mugabe renuncie. A universidade ficará fechada até que ele tome uma decisão. Como estudantes, dizemos a Mugabe que o tempo dele acabou. Queremos um novo presidente", afirmou o estudante Innocent Gambulera.
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.