Esta sexta-feira (18.01), governo voltou a ordenar bloqueio da internet e os funcionários públicos voltaram a rejeitar acordo com o executivo. Comunidade internacional está preocupada.
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O Fórum de ONGs de Direitos Humanos do Zimbabué afirmou, esta sexta-feira (18.01), que pelo menos 12 pessoas foram mortas e 78 baleadas no Zimbabué, na sequência protestos iniciados esta semana contra o aumento do preço dos combustíveis, anunciado, no sábado (12.01), pelo Presidente Emmerson Mnangagwa.
No mesmo comunicado enviado à Associated Press, a coligação assevera ainda que, no mesmo contexto, mais de 240 pessoas foram alvo de "agressão, tortura, tratamento desumano e degradante" e 466 foram detidas arbitrariamente ou de um modo que a coligação designa de "transgressões em massa".
Entretanto, e numa entrevista ao jornal estatal, este sábado (19.01), o porta-voz da polícia disse já terem sido detidas, desde o início da semana, 700 pessoas. Segundo Charity Charamba, os protestos violentos são culpa do partido da oposição MDC e dos sindicatos.
Entre as centenas de pessoas detidas, está o pastor e ativista Evan Mawarire, que está a ser acusado de subversão. No tribunal, esta sexta-feira (18.01), Evan Mawarire disse estar de "coração partido" ao ver o novo Governo, chefiado por Emmerson Mnangagwa, comportar-se como o antigo Presidente, Robert Mugabe.
O ativista será novamente ouvido a 31 de janeiro, decidiu a justiça.
Novo bloqueio de internet
Entretanto, o país voltou a ser confrontado, esta sexta-feira (18.01) com uma "paragem total da internet". O acesso a aplicações de redes sociais populares, como o Facebook, Twitter e Whatsapp, tem sido bloqueado de forma intermitente.
A maior empresa de telecomunicações do país, Econet, tem enviado aos clientes mensagens de texto reproduzindo a ordem governamental e declarando que a situação está "para além" da sua capacidade de controlo.
Por sua vez, o governo, na pessoa do ministro da Informação, Energy Mutodi, explicou que: "Ordenámos o bloqueio porque notámos que os manifestantes se estão a organizar através das redes sociais, por isso é uma ação justificada", disse.
A primeira paralisação da internet foi ordenada na terça-feira (15.01) e enfrenta um processo judicial.
Funcionários públicos rejeitam acordo
Também na sexta-feira (18.01), os funcionários públicos do país, que estiveram em greve três dias desta semana, rejeitaram uma segunda oferta de aumento de salário proposta pelo governo. "Nós insistimos que os salários sejam pagos em dólares americanos, mas o governo tem rejeitado totalmente este pedido, dizendo que eles não fabricam dólares. Dissemos ao governo que a sua oferta está longe das nossas expectativas", afirmou um dos representantes dos trabalhadores, Thomas Muzondo.
Esta é a segunda oferta do governo rejeitada pelo sindicato dos trabalhadores esta semana. Governo e sindicato voltam a reunir-se na próxima semana.
Preço do combustível gera protestos no Zimbabué
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Apelos de todos os lados
A comunidade internacional tem apelado para a diminuição da violência no país, ao mesmo tempo que Emmerson Mnangagwa se prepara para pedir mais investimentos no Fórum Económico Mundial, que decorre em Davos na próxima semana.
A Conferência dos Bispos Católicos do Zimbábue lamenta a "intolerância" do Governo face à contestação e a incapacidade de controlar o colapso económico. "O nosso país está a atravessar um dos períodos mais complicados da sua história", lê-se na declaração divulgada.
Também o escritório das Nações Unidas para os Direito Humanos disse que é urgente que o país pare com as medidas drásticas de repressão das manifestações e com intimidações porta-a-porta praticadas pelas forças de segurança. Na sede das Nações Unidas em Nova Iorque, o secretário-geral da ONU, António Guterres disse também estar preocupado com "a deterioração da situação".
Por sua vez, a União Europeia chamou a atenção para o "uso desproporcional da força usado pela polícia" pediu o regresso dos serviços de internet.
De herói a vilão: a vida de Robert Mugabe
Depois de 37 anos no poder, chega ao fim a governação do humilde camponês que se tornou, aos olhos de muitos, um ditador. Robert Mugabe renunciou à Presidência do Zimbabué.
Foto: picture-alliance/abaca/G. Buthaud
Origens humildes
Nascido, em Harare, no seio de uma família humilde – o seu pai era carpinteiro e a sua mãe professora – Robert Gabriel Mugabe foi educado numa escola jesuíta até se tornar professor primário. Entre os anos de 1942 e 1960, exerceu na antiga Rodésia, Zâmbia e no Gana. Estudou Inglês, História, Educação e tirou uma licenciatura em Economia, na Universidade de Londres.
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Uma década detido
Aos 36 anos, Mugabe dá inicio à sua luta política focada na independência da Rodésia do Sul do Reino Unido. Funda a União Nacional Africana do Zimbabué – Frente Patriótica (ZANU-PF) em 1963 e, um ano depois, é preso. Em 1974, altura em foi libertado, Mugabe vai para Moçambique, onde liderou uma guerrilha contra o Governo de minoria branca de Ian Smith. Em 1979, Mugabe voltou ao seu país.
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Mugabe torna-se primeiro-ministro
Em 1980, Robert Mugabe é eleito primeiro-ministro da ex-Rodésia do Sul. Em abril deste ano, é declarada a independência do país que passa a chamar-se “Zimbabué”. Na altura, Mugabe afirmou: "O facto de os brancos nos terem oprimido no passado quando detinham o poder jamais poderá justificar que, hoje, os negros os oprimam só porque agora detêm o poder".
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Povo esperançoso
A subida de Mugabe ao poder trouxe a esperança. O líder do ZANU-PF prometeu melhorias na vida dos cidadãos. Começou por introduzir o ensino primário gratuito, assim como o acesso a assistência médica básica para os mais desfavorecidos, ainda que estas medidas apenas tenham chegado a uma parte da população. Mugabe foi mesmo comparado a Nelson Mandela.
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Chegam os massacres
Dois anos mais tarde, em 1982, Mugabe rompe a coligação do seu partido (ZANU-PF) com a União Popular Africana do Zimbábue (ZAPU) de Joshua Nkomo. Nesta disputa pelo poder, Nkomo teve o apoio das etnias Ndebele. É nesta altura que tem lugar um dos piores massacres que o país tem memória. As forças armadas leais a Mugabe cometeram atrocidades, matando cerca de 20.000 civis.
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Mugabe a Presidente
Em 1987, Mugabe torna-se Presidente do Zimbabué. Já aqui se falava na deterioração do seu estado de saúde. No entanto, o sexagenário deixava claro que a reforma não estava para breve: “O partido irá encontrar um sucessor. Eu vim do povo. O povo na sua sabedoria irá selecionar alguém, assim que eu diga que me vou aposentar. Mas ainda não é altura. Nesta idade ainda posso seguir em frente”, disse.
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Um homem, várias perspetivas
Em 1994, enquanto milhares de cidadãos do Zimbabué continuavam dependentes de ajuda humanitária, não tendo acesso aos cuidados básicos, o presidente era distinguido pela Coroa britânica, em Londres. No Zimbabué, os primeiros protestos deixavam perceber que no país não havia motivo de orgulho no Presidente. No final dos mesmos anos 90, as manifestações contra o poder começaram a intensificar-se.
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A trágica reforma agrária
Em resposta ao descontentamento social, Mugabe lança a reforma agrária no início de 2000, uma medida que levou à nacionalização forçada das propriedades agrícolas que pertenciam à população branca para serem redistribuidas pelos negros. No entanto, os mais beneficiados foram a família de Mugabe e a elite partidária do ZANU-PF que ficaram com várias explorações. A produção agrícola caiu muito.
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"Deixem-me ser Hitler vezes dez"
Até aqui, Mugabe já tinha ganho as eleições de 1984, 1990 e 1996. A cada nova eleição sucediam-se as acusações de fraude, o que fez com que, em 2002, os Estados Unidos e a União Europeia aplicassem sanções ao país. Aos que o apelidavam de ditador, disse: "Sou o Hitler da nossa época. O Hitler que tem por objetivo a justiça para o povo. Se isso é ser um Hitler, deixem-me ser Hitler vezes dez".
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"Fatídico" 2008
Em 2008, Mugabe perdeu mesmo a maioria no Parlamento, tendo o Movimento para a Mudança Democrática (MDM) de Morgan Tsvangiari conseguido um maior número de lugares. As eleições ficaram marcadas pelo elevado número de mortes em consequência de confrontos. O ano de 2008 ficou ainda marcado pela inflação, que atingiu valores recorde, e pela epidemia de cólera que matou milhares de zimbabueanos.
Foto: dpa
Aniversários excêntricos
Do percurso do vilão não se esquecem também as famosas festas de aniversário. Enquanto grande parte do seu povo vivia na miséria, Mugabe exibia a sua excentricidade. No seu 93º aniversário, comemorado este ano, estima-se que Mugabe tenha gasto cerca de 1,9 milhões de euros numa festa que contou com cem mil convidados. Na mesma altura, cinco milhões de zimbabueanos dependem de ajuda internacional.
Foto: Getty Images/AFP/J. Njikizana
Grace, a não sucessora
Em 2015, começa a falar-se da possibilidade da primeira-dama, Grace - segunda mulher de Mugabe, 40 anos mais nova, e que já mantinha um caso com o Presidente enquanto era sua secretária - poder ser a sua sucessora. O que intensificou os conflitos dentro do ZANU-PF. Emmerson Mnangagwa, o vice de Mugabe, foi humilhado e demitido de funções e fugiu do país após um braço-de-ferro com Grace Mugabe.
Foto: Reuters/Philimon Bulawayo
15 de novembro de 2017 - o início do fim
Na festa dos seus 93 anos, em fevereiro, Mugabe nem sonhava o que 2017 tinha reservado para si. Em outubro, foi eleito embaixador da boa vontade da Organização Mundial da Saúde, mas uma chuva de críticas internacionais fez com que a nomeação fosse retirada. Cerca de um mês depois, militares próximos de Mnangagwa protagonizavam um aparente golpe de Estado que culminou com a detenção do Presidente.
Foto: Reuters/Zimpapers/J. Nyadzayo
Adeus Mugabe
A 19 de novembro esperava-se que Mugabe anunciasse a sua demissão depois de ter sido deposto da liderança do seu partido. Mas, num discurso à nação, rejeitou que a intervenção militar no país tenha sido "um desafio" à sua "autoridade como chefe de Estado". Dois dias mais tarde, foi anunciada a sua renúncia, ao mesmo tempo que o Parlamento debatia uma moção de censura contra o agora ex-governante.