Zimbabué celebra 40 anos de independência sem festa
Privilege Musvanhiri | cvt
18 de abril de 2020
Neste 18 de abril, o Zimbabué celebra 40 anos de independência do domínio britânico. Número crescente de zimbabueanos não acredita ter muitos motivos para comemorar.
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Dezenas de milhares de pessoas, tradicionalmente, afloram às festividades do dia da independência em todo o país para homenagear a luta que libertou o Zimbabué do domínio colonial em 1980.
Este ano, devido à atual pandemia global de Covid-19, o Zimbabué cancelou o que teria sido a sua 40ª celebração. Para além da crise do coronavírus, um número crescente de zimbabueanos não acredita ter assim tanto para celebrar neste 18 de abril.
Momentos iniciais
A maioria dos zimbabueanos tinha grandes esperanças, quando o seu país declarou a independência dos britânicos - que governaram o Zimbabué, então chamado Rodésia, entre 1890 e 1979.
Os primeiros anos da independência foram positivos, com uma economia vibrante, tolerância política, democracia participativa, justiça, paz e reconciliação.
Sob o regime inicial de Robert Mugabe, o primeiro primeiro-ministro do Zimbabué e herói da libertação que mais tarde se tornaria o seu Presidente de longa data, o país construiu excelentes sistemas de educação e de saúde que eram invejados um pouco por todo o continente.
Economia em crise e desesperança entre os cidadãos
Mas, ao longo das décadas, esta situação mudou drasticamente.
A economia do Zimbabué está agora em declínio, apesar de o país possuir abundantes recursos naturais, incluindo ouro, diamantes e minério de ferro.
"Não tem havido um sentido de agência por parte do Governo para rectificar certos erros. Não se pode falar de uma independência que vá além de um hino nacional e de uma bandeira", disse à DW o analista político Alexander Rusero.
"Não há igualdade de oportunidades no acesso aos recursos nacionais. Para alguém que acorda todos os dias sem combustível, sem electricidade, sem água e sem o básico, o artifício da independência torna-se inútil", afirmou Rusero.
Mas o partido que há 40 anos governa o Zimbabué, o ZANU-PF, considera que a libertação do domínio da minoria branca é motivo suficiente para celebrar.
"Tem havido uma divisão justa dos problemas internos, mas é o triunfo que registámos contra as ameaças internas e externas que fez deste 40º aniversário um marco histórico", considerou o diretor de Informação do ZANU PF, Tafadzwa Mugwadi, em entrevista à DW.
Crise de gerações
Ao longo dos últimos 40 anos, um conflito de gerações emergiu.
Os heróis da guerra de libertação do Zimbabué, como noutros pontos do continente, têm frequentemente uma enraizada percepção de legitimidade que conduziu a uma cultura política autoritária, dizem os críticos.
Por outro lado, a geração pós-libertação sente que o desenvolvimento do Zimbabué está a ser travado por uma geração mais velha agarrada ao poder, da mesma forma que os colonizadores o fizeram.
Emmerson Mnangagwa, que sucedeu a Mugabe como Presidente em 2018, é também um veterano da luta pela libertação do Zimbabué. Os veteranos de guerra ocupam também posições-chave no Exército, na Polícia, na Força Aérea, nas principais instituições governamentais e no partido no poder.
"Tem-se uma crise da geração mais velha, que sente uma forma de superioridade e heroísmo sobre o que fizeram para emancipar o país", avaliou o analista político Rusero. Por outro lado, "tem-se alguém que nasceu em 1980 e fez 40 anos com todas as expectativas da vida moderna, mas os seus sonhos estão a falhar", acrescentou.
O principal líder da oposição no país, Nelson Chamisa, postou na rede social Twitter que o 40º aniversário da independência do Zimbabué celebra um sonho "destruído".
"A vida começa aos 40 anos. A 18 de abril, o Zimbabué faz 40 anos. É um marco com um sonho destruído pelo sofrimento e pela dor da tirania, da violência, da corrupção e de eleições roubadas", escreveu Chamisa.
Robert Mugabe continua a dividir opiniões no Zimbabué
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Olhar para o futuro
A reconciliação e a resolução das feridas e das injustiças do passado poderiam ajudar o Zimbabué a avançar e a realizar os sonhos das gerações mais jovens.
"O país precisa curar-se e implementar a unidade. Há muita polarização que tem funcionado contra a nação". Há que se pensar bem nas gerações futuras e acabar com o egoísmo", afirmou em Harare o criador de conteúdos digitais Alexander Gusha, de 30 anos.
"A luta pela libertação foi ancorada na luta por eleições livres, justas e credíveis. Uma geração de jovens com conhecimento em tecnologia pode transformar o desenvolvimento da nação", disse o activista político Ostallos Siziba, secretário da juventude do principal partido da oposição, à DW, em Harare.
"Apreciamos o papel desempenhado por aqueles que nos libertaram, mas não se pode ser herói em duas lutas," conclui.
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.