Zimbabué: Começou uma onda de repressão contra dissidentes?
Columbus Mavhunga (Harare) | AFP
22 de julho de 2020
Grupos de defesa dos direitos humanos condenam a atuação das autoridades, depois da detenção de um jornalista investigativo e um líder da oposição em Harare, nas vésperas de um protesto anti-corrupção.
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O político Jacob Ngarivhume vinha lançando apelos a uma manifestação nacional a 31 de julho contra o Governo do Presidente Emmerson Mnangagwa pela incapacidade de lidar com as dificuldades económicas e a corrupção no Executivo.
Já o jornalista Hopely Chin'ono foi detido depois de divulgar a alegada atribuição de contratos no valor de 60 milhões de dólares pelo Ministério da Saúde a várias empresas por materiais de combate à Covid-19 a preços inflacionados, incluindo equipamento de proteção pessoal. Ambos são acusados de incitamento à violência pública.
As críticas
O porta-voz da Amnistia Internacional na África Austral, Robert Shivambu, diz que os dois devem ser imediatamente libertados e acusa: "A detenção visa intimidar e enviar uma mensagem a jornalistas, denunciantes e ativistas que chamam a atenção para questões que interessam ao Zimbabué".
Shivambu entende ainda que "as autoridades devem parar de usar o sistema judicial de forma abusiva para perseguir jornalistas e ativistas que estão apenas a exercer o seu direito à liberdade de expressão e de reunião. As autoridades têm de parar de usar os relatórios da polícia para silenciar a dissidência".
Zimbabué: Onde estão os sinais de mudança?
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E por isso o porta-voz da ONG exige: "As autoridades têm de libertar imediata e incondicionalmente Chin'ono e Ngarivhume, porque não cometeram nenhum crime e ninguém deve ser detido por protestar de forma pacífica e denunciar suspeitas de corrupção”, exige ainda o colaborador da ONG.
Críticas do partido no poder
A polícia, no entanto, diz ter provas suficientes e que os dois detidos devem responder perante a justiça. Tafadzwa Mugwadi, porta-voz do ZANU-PF, partido no poder, critica os defensores do jornalista e do político da oposição.
"Aqueles que pedem a libertação de Hopely Chin'ono e Jacob Ngarivhume estão a tentar intimidar as nossas instituições e certamente não vão conseguir. As nossas instituições não prendem criminosos para os libertar a seguir. Prendem-nos para os levar ao sistema judicial, para que a justiça prevaleça", afirma.
E Tafadzwa Mugwadi: "As mesmas pessoas que estão a apelar à libertação dessas duas figuras, que estão a apelar a uma manifestação enquanto estão em vigor as medidas de confinamento para travar a Covid-19 são as mesmas que os aplaudiam enquanto cometiam crimes em plena luz do dia.”
Aumento da tensão
Centenas de pessoas, incluindo jornalistas, advogados, médicos e enfermeiros foram detidas nos últimos meses no Zimbabué por protestarem, fazerem greve por melhores salários ou, em alguns casos, simplesmente por fazerem o seu trabalho, enquanto a tensão aumenta no país.
Esta terça-feira (21.07), o Presidente Emmerson Mnangagwa impôs um recolher obrigatório e reintroduziu medidas rigorosas para travar a propagação do coronavírus, depois de um aumento acentuado do número de casos nas últimas semanas. As novas medidas proíbem efetivamente o protesto contra a corrupção do Estado marcado para 31 de julho.
Zimbabueanos lutam por uma vida melhor em Moçambique
Com o país num processo de renovação política e económica, os "zimbas" procuram em solo moçambicano, um sustento de vida, criando pequenos negócios, sem nunca saber o dia de amanhã.
Foto: DW/B. Jequete
Autocarros do Zimbabué em todos os cantos
O Zimbabué foi um dos países que, outrora, foi até considerado como o celeiro da África Austral. Era difícil ver na província de Manica um zimbabueano ou uma viatura do Zimbabué, na altura em que o país estava estável. Mas, nos últimos anos, é frequente ver machimbombos, autocarros e carros a fazerem o trajeto Zimbabué-Moçambique e vice-versa.
Foto: DW/B. Jequete
Negócio para todas as idades
Devido à crise económica que se instalou na República do Zimbabué, crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos são "obrigados" a deambular pelas ruas da província moçambicana de Manica, em particular, e em todo o país a venderem algo, para ganhar algum dinheiro. Os zimbabueanos vendem todo tipo de produtos.
Foto: DW/B. Jequete
Fardos de roupa asseguram a vida dos zambabueanos
No dia a dia, os zimbabueanos estão na capital provincial de Manica, Chimoio, à procura de negócios, como os fardos de roupa ou de sapatos. Os fardos são embalados dentro de um saco, uma estratégia encontrada para não ser distinguido com facilidade na fronteira, visto que se trata de contrabando.
Foto: DW/B. Jequete
Crise gera empregos para alguns
Apesar da crise, os zimbaueanos constituem uma fonte de renda para alguns moçambicanos, que sobrevivem com o pouco que são oferecidos. Os moçambicanos servem de guias aos zimbabueanos, mostrando-lhes as lojas e bons fardos de roupa ou sapatos, e estabelecem contactos com os comerciantes. Outra atividade que os moçambicanos (guias) prestam aos zimbabueanos, é o câmbio de valores em meticais.
Foto: DW/B. Jequete
Taxistas também faturam
As lojas que vendem fardos de roupa usada em Chimoio, são concorridas pelos zimbabueanos, pois taxistas e os condutores de carrinhas acabam por abandonar a praça e acantonam-se nas imediações das lojas, visando fazer o carregamento ou transportar os chamados “zimbas” de um lado para o outro. Pode-se dizer, que o mercado moçambicano tem estado a ser invadido pelos zimbabueanos.
Foto: DW/B. Jequete
Compra de arroz é imperativo
O sofrimento em que os zimbabueanos têm estado a passar é doloroso, pois antes de adquirir o negócio, eles pelo menos têm de comprar um saco de 10 ou 25 quilos de arroz, e 5 litros de óleo, dois dos produtos mais caros no seu país. Posto isso, é muito difícil almoçar e jantar. Os “zimbas” só jantam se economizarem os alimentos.
Foto: DW/B. Jequete
Cargas e descargas garantidas
Há muitos contentores de fardos de roupa usada, que se descarregam diariamente, devido à muita procura. O negócio de venda de fardos de roupa usada, tem estado a ser rentável, pois antes dos problemas económicos no país vizinho, a venda deste produto era difícil, mas, atualmente, os somalis, ugandeses e outras nacionalidades, ocupam-se da venda destes fardos de roupa usada.
Foto: DW/B. Jequete
Moçambique - o refúgio
Alguns zimbabueanos, principalmente as senhoras, deslocam-se a Moçambique para comercializarem os seus produtos como djamo, doi, paloni, chips, pão de forma e outros produtos alimentares. As ruas da cidade de Chimoio estão inundadas de zimbabueanos. Este povo tem grande liberdade de circulação em todo o território moçambicano.
Foto: DW/B. Jequete
Consumidor final
A roupa usada adquirida em fardos na província de Manica, é vendida desta forma: A roupa é estendida no chão. Assim, os clientes apreciam e procuram com calma, artigo por artigo, roupas para os seus filhos, marido ou esposa. A roupa que era menosprezada pelos zimbabueanos nos tempos passados, é hoje, algo muito procurada por quase todos.
Foto: DW/B. Jequete
A esperança dos "Zimbas"
Aquando da destituição do Presidente Robert Mugabe, os zimbabueanos queriam dar um novo rumo ao país, quer a nível político, quer a nível económico. Convicto disso, o povo foi às urnas e elegeu Emmerson Mnangagwa, como novo Presidente do Zimbabué.
Foto: DW/B. Jequete
Abandono do mercado local
Alguns empresários e agricultores zimbabueanos abandonaram o mercado local e instalaram-se na província de Manica. Uma das empresas que se dedica à produção de sementes no distrito de Barué, é um empresário zimbabueano. O produto daquela empresa, é apreciado pelos camponeses moçambicanos.
Foto: DW/B. Jequete
Só com passaporte
Na fronteira de Machipanda, entre Moçambique e Zimbabué, existem postos de controlo, pois sem passaportes, as pessoas não podem viajar. Entretanto, alguns que não possuem este documento, optam por violar a fronteira. Quando isso acontece, os indivíduos apanhados a cometer esta ilegalidade são detidos. Mais tarde, são libertos mediante o pagamento de uma multa.
Foto: DW/B. Jequete
Qual o rumo do Zimbabué?
Os zimbabueanos estão a atravessar dificuldades extremas. Nesta foto, temos o exemplo disso. Nos autocarros que os transportam até Moçambique, trazem refrigerantes para vender e ganhar dinheiro para depois, fazerem as compras necessárias. O que sobra, vai para o custo do regresso.