Zimbabué impõe restrições às compras em Moçambique
Lusa
18 de novembro de 2018
As limitações à entrada de produtos alimentares de Moçambique no Zimbabué estão a pôr em risco a vida de muitas famílias junto à fronteira de Machipanda.
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Novas regras, introduzidas nas últimas semanas, limitam as quantidades de óleo, arroz e farinha de milho, produtos básicos para a dieta das famílias africanas. Para quem quer passar a fronteira, "a quantidade de óleo alimentar foi reduzida de 20 para quatro litros. O máximo de arroz são 10 quilos, assim como de farinha de milho", diz Roselyne, zimbabueana que recorre ao mercado moçambicano para se abastecer, devido à escassez de produtos no seu país. "Estas proibições estão a afetar muitas famílias", acrescenta em declarações à agência de notícias Lusa.
"Muitas vezes fazíamos compras coletivas, no bairro. Uma pessoa era indicada para ir a Moçambique e comprar os produtos de todos", mas agora a missão é quase impossível, refere.
Enquanto exibe uma sacola quase vazia, tira do interior do sutiã o dinheiro das compras para fazer contas. Roselyne assegura que se estão a "tornar insustentáveis" as viagens de compras a Moçambique, mas "não resta opção, por causa da escassez" no Zimbabué.
Sem fonte de rendimento
As regras impostas pelas autoridades estão a arrastar setores de atividade informal, sobretudo carregadores de carga, para a travessia de fronteira, que registam uma queda no negócio, comprometendo famílias moçambicanas. "Já não há cargas para a travessia de fronteira", afirma Ernestina Njoio, uma "viúva de frete", nome dado à atividade e que tinha no transporte de mercadorias a sua fonte de rendimento para alimentar sete filhos e cinco netos à sua responsabilidade na vila de Machipanda.
"Ganhávamos mais com as bagagens para o Zimbabué, porque, de lá, quase nada saia para Moçambique", disse Ernestina Njoio, sustentando que a diária "caiu de 10 dólares americanos (cerca de oito euros) para três dólares (2,6 euros)".
Segundo Florencia Simango, uma outra carregadora, "muitas mulheres, sobretudo viúvas, conseguiam sustentar as famílias com esse trabalho", mas a redução daquilo que ganham tem complicado a equação da sobrevivência. "As pessoas já não precisam de ajuda para carregar os poucos produtos e atravessar a fronteira", descreve.
"Do trabalho saía pão, comida, sabão, custos de escola e hospital" precisa Simango, acrescentando que já pouco deste cabaz consegue suportar. Agora, "se conseguir dar duas refeições às crianças, tornas-te herói", diz, enquanto se prepara para acompanhar a chegada a Machipanda de um "chapa cem", furgão de transporte coletivo com escassa carga, mas que espera poder carregar para assegurar o sustento da sua família.
À mercê da inflação
O Zimbabué voltou a viver momentos conturbados desde há um ano, com uma queda de armazenamento de produtos básicos, a inflação a bater recordes e a economia a derrapar, situação acentuada com uma grave escassez do dólar americano, que circula em paralelo com o 'bond' zimbabueano.
A escassez é evidente devido às longas filas nos supermercados - até para a compra de pão -, falta de combustível em postos de abastecimento e ausência de medicamentos em hospitais de Harare, capital, e outras cidades importantes, como Mutare.
O anúncio feito em outubro, pelo ministro das finanças, Mthuli Ncube, de um programa de estabilização financeira, foi recebido com manifestações populares em grandes centros urbanos do Zimbabué, largamente reprimidas pela polícia.
Família Mugabe: 37 anos de luxo e ostentação
Enquanto Robert Mugabe liderou o Zimbabué, não foi uma preocupação da sua família esconder o luxo em que vivia. Num país em que parte da população é pobre, a família do Presidente exibiu, durante anos, uma vida faustosa.
Foto: Getty Images/M.Safodien
Fortuna de um bilião
Estima o The Guardian que a fortuna de Mugabe deverá rondar um bilião de euros, espalhados, entre outros, em contas secretas na Suiça e Bahamas. Só a sua mansão, localizada a norte de Harare, está avaliada em cerca de oito milhões de euros. Um valor que um cidadão comum no Zimbabué só conseguiria pagar se trabalhasse cerca de 3.825 anos seguidos sem gastar um centavo.
Foto: Getty Images
Seis pessoas, 25 quartos
Desenhada por arquitetos chineses, a mansão “Blue Roof”- com este nome por causa dos azulejos azuis do telhado importados da China - tem 25 quartos. Se cada elemento da família tiver um quarto - Robert, Grace, os três filhos do casal e o filho do primeiro casamento de Grace - sobrarão ainda 19. A casa tem ainda lagos, monitores panorâmicos, cadeiras de veludo e camas em estilo monárquico.
Foto: Getty Images/J.Njikizana
Outras propriedades
Sabe-se que o casal possui ainda propriedades na Malásia, Singapura e Dubai . Em 2009, diz o Sunday Times, Robert e Grace Mugabe adquiriram uma outra casa num bairro de luxo em Hong Kong, cidade onde estudou a sua filha Bona, por 4,5 milhões de euros. Na mesma altura, "Dis Grace", como também é chamada pelos zimbabueanos, terá gasto mais de 60 mil euros em estátuas de mármore do Vietname.
Foto: picture-alliance/dpa/Ym Yik
Casamento extravagante
Robert e Grace Mugabe deram o nó em agosto de 1996, quatro anos após a morte da primeira esposa do presidente do Zimbabué, Sally, ter falecido. O casamento custou um milhão de dólares e contou com 40 mil convidados. Na imprensa local, falou-se no “casamento do século”. Para assinalar o 20º aniversário de casamento, Grace terá comprado um anel de diamantes por 1,15 milhões de euros.
Foto: Getty Images/O.Anderson
"Gucci Grace"
Embora quisesse ser notícia pelo trabalho social que desenvolvia no Zimbabué, a agora ex primeira-dama, apelidada também de "Gucci Grace" pela sua futilidade, era criticada pelos seus gastos pessoais com objetos de luxo. Grace Mugabe, 40 anos mais nova que Robert Mugabe, não escondia as suas roupas, sapatos e jóias de marcas de luxo.
Foto: Getty Images/Z.Auntony
Às compras pela Europa...
Diz o The Guardian que a marca favorita de sapatos de Grace é a Ferragamo. Ao todo, o seu armário, contará com mais de três mil pares de sapatos. Em 2003, o Daily Telegraph deu conta que Grace gastou, numa só viagem a Paris, cerca de 63 mil euros. Já em Londres, a primeira-dama terá gasto 45 mil. Até 2004, Grace terá retirado do Banco Central do Zimbabué mais de cinco milhões de euros.
Foto: Getty Images/J.Delay
Luxo “hereditário”
O gosto por gastar é algo que Grace parece ter incutido nos seus filhos. Só o casamento de Bona (na foto) custou mais de três milhões de euros. Já Robert Jr. e Bellarmine Chatunga, os outros dois filhos do casal, enquanto viveram no Dubai, estiveram instalados num apartamento que tinha uma renda mensal de cerca de 30 mil euros. Já na África do Sul, pagavam cerca de 4,5 mil.
Foto: Getty Images/R.Rahman
Filhos não escondem riqueza
Este ano, o filho mais novo de Mugabe publicou um vídeo onde derramava champanhe Armand de Brignac em cima do seu relógio de luxo. Dias antes, diz o The Guardian, o jovem postou uma fotografia com a legenda “51 mil euros no pulso quando o seu pai comanda o país”. A imprensa local não deixou também passar em branco a excentricidade do enteado de Mugabe, que importou dois luxuosos Rolls-Royce.
Foto: Rolls-Royce
"Gucci Grace" em tribunal
Recentemente “DisGrace” travou uma guerra no tribunal com um negociante de diamantes libanês. Grace Mugabe afirma ter pago cerca de 858 mil euros por um diamante de 100 quilates que não recebeu.
Foto: dapd
Festas de anos milionárias
As festas de anos de Mugabe já eram uma tradição. Ano após ano, em fevereiro, repetiam-se as notícias relacionadas com as suas extravagâncias. No seu 85º aniversário, por exemplo, foram encomendadas duas mil garrafas de champanhe Moet & Chandon e 400 doses de caviar. Já por altura dos seus 91 anos, Mugabe gastou cerca de um milhão de dólares na festa, que teve lugar num hotel de cinco estrelas.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Ufumeli
Na mira do “Wikileaks”
Em 2010, as informação reveladas pelo Wikileaks vieram dar razão aos zimbabueanos que criticavam os luxos da família Mugabe. Os documentos divulgados fizeram referência ao envolvimento de elites e altos funcionários do governo do Zimbabué em negócios de diamantes. Um dos nomes citados foi precisamente o de Grace Mugabe.