Zimbabué: Mais de 20 pessoas julgadas por violência
DPA | AP | Lusa | mjp | cvt
4 de agosto de 2018
Acusados foram detidos na quinta-feira, durante rusgas da polícia a instalações da oposição, que rejeita os resultados das eleições. Presidente Emmerson Mnangagwa afirma que o escrutínio foi "livre, justo e confiável".
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Mais de duas dezenas de pessoas alegadamente ligadas à violência pós-eleitoral no Zimbabué foram este sábado (04.08) a tribunal. "Enfrentam acusações de incitamento à violência pública e queremos que sejam libertadas sem quaisquer condições ou sob fiança, não há nada que as relacione com qualquer crime", disse Gift Mtisi, dos Advogados para os Direitos Humanos do Zimbabué.
A polícia deteve os acusados na quinta-feira, durante rusgas a instalações da oposição. Entretanto, o maior partido opositor, o Movimento para a Mudança Democrática, afirma que os soldados do Zimbabué realizaram buscas este sábado na capital, Harare, visando deter apoiantes da oposição.
Nkululeko Sibanda, dirigente do partido, falava no tribunal em Harare ontem os mais de 20 detidos aguardavam a audiência. "Muitas pessoas estão escondidas. É mais assustador que os tempos de Mugabe", disse o político.
Para já, não há confirmação independente destas alegações. O Presidente reeleito na segunda-feira (30.07), Emmerson Mnangagwa, já afirmou que quer trabalhar com a oposição para reconstruir o país após décadas de repressão durante o regime do seu antigo mentor, Robert Mugabe.
Sibanda teme que o Governo tente implicar os apoiantes da oposição na morte de seis pessoas durante a repressão de protestos contra os resultados das eleições, na quarta-feira, em Harare. O Governo respondeu com a intervenção do Exército, que usou gás lacrimogéneo, jatos de água e disparos com balas reais para reprimir os manifestantes.
Emmerson Mnangagwa, antigo braço direito do seu antecessor, Robert Mugabe, derrubado em novembro, foi proclamado vencedor, à primeira volta da eleição presidencial, com 50,8% dos sufrágios, contra os 44,3% dos votos alcançados por Nelson Chamisa, líder da oposição.
Chamisa descreve as eleições como "fraudulentas, ilegais e ilegítimas" e anunciou que vai tomar "todas as medidas possíveis" para "a anulação desses resultados".
Clima continua tenso no Zimbabué
Já o Presidente reeleito afirma que a eleição foi "livre, justa e confiável", apesar das acusações de fraude pela oposição. "Houve uma celebração da democracia no Zimbabué, um festival de liberdade desimpedida, e como os olhos do mundo se voltaram para nós, realizámos uma eleição livre, justa e confiável, como havíamos prometido", disse Mnangagwa durante uma conferência de imprensa no palácio presidencial, em Harare.
O Presidente falou esta sexta-feira (03.08), pouco depois do líder da oposição, Nelson Chamisa, que considerou que a eleição foi manipulada e admitiu contestar os resultados em tribunal.
Violência "infeliz"
Mnangagwa, um apoiante do ex-líder Robert Mugabe, tentou afirmar-se como uma voz de mudança, reconhecendo que a violência mortal contra a oposição ocorrida na capital, na quarta-feira, foi "infeliz", acrescentando que Chamisa tem um papel crucial a desempenhar no futuro do Zimbabué.
"Vamos ambos pedir paz e unidade na nossa terra", disse o Presidente. Chamisa, no entanto, fez questão de comparar Mnangagwa com Mugabe, dizendo que a violência verificada após as eleições, que causou a morte a seis pessoas, é uma "repetição do que vimos no passado do regime".
Mnangagwa dirige o Zimbabué desde o derrube, em novembro, do Presidente Robert Mugabe, obrigado pelos militares e pelo seu partido, Zanu-PF, a demitir-se ao fim de 37 anos no poder.
Desde a sua independência em 1980, o país só conheceu dois chefes de Estado, ambos do Zanu-PF: Mugabe e Mnangagwa, o seu antigo vice-presidente, de 73 anos.
Família Mugabe: 37 anos de luxo e ostentação
Enquanto Robert Mugabe liderou o Zimbabué, não foi uma preocupação da sua família esconder o luxo em que vivia. Num país em que parte da população é pobre, a família do Presidente exibiu, durante anos, uma vida faustosa.
Foto: Getty Images/M.Safodien
Fortuna de um bilião
Estima o The Guardian que a fortuna de Mugabe deverá rondar um bilião de euros, espalhados, entre outros, em contas secretas na Suiça e Bahamas. Só a sua mansão, localizada a norte de Harare, está avaliada em cerca de oito milhões de euros. Um valor que um cidadão comum no Zimbabué só conseguiria pagar se trabalhasse cerca de 3.825 anos seguidos sem gastar um centavo.
Foto: Getty Images
Seis pessoas, 25 quartos
Desenhada por arquitetos chineses, a mansão “Blue Roof”- com este nome por causa dos azulejos azuis do telhado importados da China - tem 25 quartos. Se cada elemento da família tiver um quarto - Robert, Grace, os três filhos do casal e o filho do primeiro casamento de Grace - sobrarão ainda 19. A casa tem ainda lagos, monitores panorâmicos, cadeiras de veludo e camas em estilo monárquico.
Foto: Getty Images/J.Njikizana
Outras propriedades
Sabe-se que o casal possui ainda propriedades na Malásia, Singapura e Dubai . Em 2009, diz o Sunday Times, Robert e Grace Mugabe adquiriram uma outra casa num bairro de luxo em Hong Kong, cidade onde estudou a sua filha Bona, por 4,5 milhões de euros. Na mesma altura, "Dis Grace", como também é chamada pelos zimbabueanos, terá gasto mais de 60 mil euros em estátuas de mármore do Vietname.
Foto: picture-alliance/dpa/Ym Yik
Casamento extravagante
Robert e Grace Mugabe deram o nó em agosto de 1996, quatro anos após a morte da primeira esposa do presidente do Zimbabué, Sally, ter falecido. O casamento custou um milhão de dólares e contou com 40 mil convidados. Na imprensa local, falou-se no “casamento do século”. Para assinalar o 20º aniversário de casamento, Grace terá comprado um anel de diamantes por 1,15 milhões de euros.
Foto: Getty Images/O.Anderson
"Gucci Grace"
Embora quisesse ser notícia pelo trabalho social que desenvolvia no Zimbabué, a agora ex primeira-dama, apelidada também de "Gucci Grace" pela sua futilidade, era criticada pelos seus gastos pessoais com objetos de luxo. Grace Mugabe, 40 anos mais nova que Robert Mugabe, não escondia as suas roupas, sapatos e jóias de marcas de luxo.
Foto: Getty Images/Z.Auntony
Às compras pela Europa...
Diz o The Guardian que a marca favorita de sapatos de Grace é a Ferragamo. Ao todo, o seu armário, contará com mais de três mil pares de sapatos. Em 2003, o Daily Telegraph deu conta que Grace gastou, numa só viagem a Paris, cerca de 63 mil euros. Já em Londres, a primeira-dama terá gasto 45 mil. Até 2004, Grace terá retirado do Banco Central do Zimbabué mais de cinco milhões de euros.
Foto: Getty Images/J.Delay
Luxo “hereditário”
O gosto por gastar é algo que Grace parece ter incutido nos seus filhos. Só o casamento de Bona (na foto) custou mais de três milhões de euros. Já Robert Jr. e Bellarmine Chatunga, os outros dois filhos do casal, enquanto viveram no Dubai, estiveram instalados num apartamento que tinha uma renda mensal de cerca de 30 mil euros. Já na África do Sul, pagavam cerca de 4,5 mil.
Foto: Getty Images/R.Rahman
Filhos não escondem riqueza
Este ano, o filho mais novo de Mugabe publicou um vídeo onde derramava champanhe Armand de Brignac em cima do seu relógio de luxo. Dias antes, diz o The Guardian, o jovem postou uma fotografia com a legenda “51 mil euros no pulso quando o seu pai comanda o país”. A imprensa local não deixou também passar em branco a excentricidade do enteado de Mugabe, que importou dois luxuosos Rolls-Royce.
Foto: Rolls-Royce
"Gucci Grace" em tribunal
Recentemente “DisGrace” travou uma guerra no tribunal com um negociante de diamantes libanês. Grace Mugabe afirma ter pago cerca de 858 mil euros por um diamante de 100 quilates que não recebeu.
Foto: dapd
Festas de anos milionárias
As festas de anos de Mugabe já eram uma tradição. Ano após ano, em fevereiro, repetiam-se as notícias relacionadas com as suas extravagâncias. No seu 85º aniversário, por exemplo, foram encomendadas duas mil garrafas de champanhe Moet & Chandon e 400 doses de caviar. Já por altura dos seus 91 anos, Mugabe gastou cerca de um milhão de dólares na festa, que teve lugar num hotel de cinco estrelas.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Ufumeli
Na mira do “Wikileaks”
Em 2010, as informação reveladas pelo Wikileaks vieram dar razão aos zimbabueanos que criticavam os luxos da família Mugabe. Os documentos divulgados fizeram referência ao envolvimento de elites e altos funcionários do governo do Zimbabué em negócios de diamantes. Um dos nomes citados foi precisamente o de Grace Mugabe.